quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Continuamos como está,
você na terra,
eu no mar.
Dá um fora quem não
está por dentro,
quem está distraído
ou sem bom senso.
A porta que fecha pra procurar a porta que se abre com vista para o horizonte.
Estou feliz,
quadra de futebol de areia perto do mar,
Sol se pondo
atrás de mim.
A presença é um presente sem embrulho.
Pra cada porta que se fecha, um buraco de fechadura.
Eu quero ser dona do meu tempo. Comprei um relógio, mas ainda não dei conta. Fiz uma agenda. Uso cronômetro. Conto os passos. Respiro com profundidade. Corro. 
Mas o tempo não é de ninguém, quer um relacionamento aberto
com a vida. E quem quiser que fique na fila!
Você dorme no
quarto que nunca entrou,
você dorme comigo.
Quando o pensamento
se cansa e parte para o sonho que eu não domino,
você não fica comigo
e sai do quarto
que nunca entrou,
e não dorme comigo.
Lavar a roupa,
ver a sujeira que
Se dispersa.
Ver o tanto de 
água
que a vida
leva.
Empatado
O tempo que não chega,
é um tempo atrasado
pra gente, 
mas não pro tempo,
que acha que o tempo
de chegar
é quando tem que ser,
e parece adiantado
para o tempo,
e não adianta reclamar,
que atrasado
e adiantado o tempo,
ao mesmo tempo
acaba sendo algo pontual,
então o tempo que não chega é uma ilusão do tempo que chega na hora certa do tempo.
Café de noite,
vindo da casa do vizinho, tem cheiro de conversa comprida.
Dá vontade de tocar a campainha e fazer uma visita.
Ignoro,
passo, 
finjo que não vejo,
mas um sinal seu
e você volta a ser
o centro do mundo.
Placa THF 2242.
E foi pegar o táxi, do lado da catedral da Sé, não dava pra ir a pé, chegar estava pela hora da sorte, o trajeto levaria vinte minutos, precisava chegar em cinco, falou o destino, combinou mais o menos quanto ficaria o preço, perto de dez reais e foi. No táxi:
-Deixa eu ver como estou de troco. Tem pra cinquenta?
-Senhora?
-Tem pra cinquenta?
-Preciso ver, acho que tenho.
-Como é lindo o Centro! Deixa eu ver aqui. Tenho dez.
-O que a senhora disse?
-Que isso aqui é lindo. Nunca me canso. Vocês ficam tanto aqui, que nem percebem.
-O que a senhora disse? Ela falou mais alto:
-Que o Centro é lindo! Ando sempre por aqui, mas de carro quase nunca.
O motorista estava de fone, teria que falar mais alto ainda.
-Chegamos perto, pode me deixar aqui?
-Eu vou virar, te deixo em frente.
-Ficou dez mesmo? Mesmo? O senhor fica sempre lá?
-Lá é um ponto de táxi. Sim!
-Ok, preciso saber, passo sempre por ali, o senhor foi muito ágil, muito obrigada!
Seguiu correndo para o destino em cinco minutos, pegou o finalzinho da palestra. No término, depois das nove, aproveitou o fluxo e entrou no metrô no Anhangabaú.
E começou a atinar:
-Eita, eu não paguei a corrida. Não me lembro de ter entregue a nota e tem uma amassadinha aqui. Vou voltar lá!
Desceu na Sé, perto das dez, muita gente circulando, atravessou a rua, ele estava quase saindo.
-Oi! Ele estava sem o fone.
-Lembra de mim, perto das oito?
-Lembro, sim!
-Eu te paguei a corrida?
Esticou um sorriso, apertou forte a mão.
-Não acredito! Tem certeza?
-Tenho! A senhora pagou!
-Vou olhar a chapa do seu carro! Vou jogar, hein? 2242! Sorriso descrente, sem graça, não conseguindo encarar, mas depois ficou olhando ela indo embora, encostado no carro, e ao atravessar a rua, ainda acenou bem feliz na praça que se esvaziava.
-E aí? Um colega do ponto perguntou.
-Ela pagou mesmo?
-Não sei, nem ela sabe. Quantas vezes isso acontece aqui?
-Nunca!
-Então, tem dez reais que podem valer um milhão!
-Também vou jogar na chapa!
Ele ganhou na loteria, sumiu do ponto, ela que esqueceu de fazer o jogo procurou pelo taxista sem sucesso. Queria vê-lo de novo. Ela tinha pago direitinho a corrida naquele dia.
A felicidade não tem nada e é tudo que se quer.
Hoje o dia foi lindo,
não porque tinha Sol, 
Eu vi você sorrindo.
Ele disse:
Eu amo ela,
amuada,
num sabe nada.
Que sou seu anjo,
beijú de beijo.
Num creio na tristeza
que ela carrega.
Eu amo ela
Eu amo ela.
Manuela.
Eu ouvi o amo ela,
o resto a cabeça
se encarrega.
Se é o certo
o que o homem disse dela.
É o amor por Manuela.
Não posso corrigir um amor
que diz assim:
Eu amo ela.
Queria ouvir o
amor falar pra mim!
Se algo difícil de engolir invadir sua boca, tome água e dissolva.
É difícil escrever algo,
depois que já escreveram tudo.
Meu coração foi embora,
fiquei sem palavras pra falar a respeito.
Foi na frente do meu corpo,
não sei explicar direito.
Só volto a falar de amor
quando eu tiver o coração no peito.
Vai ser difícil eu abrir mão de um livro pra usar plataforma digital. Adoro cheiro de livro, do novo ao velho, sem cheiro de mofo, é claro, daqueles que lembram levemente café, papel queimado de Sol. O cheiro mais incrível de livro foi um novo, da Editora 34, Alice, o livro com a tinta de impressão e o papel tinha cheiro de chuva.
Só volto a falar de amor
quando eu tiver o coração no peito.
Quem mora na rua,
tem a Lua.
Uma vez estava num embate de opinião com uma pessoa e ficou tenso, pois era um assunto angustiante, num dado momento, meu amigo respondeu, com muita segurança: "Certo, agora sei que você pensa assim, mas eu penso diferente." Acabou a discussão.
Muita gente, raras pessoas não sentem um bode quando enviam uma mensagem que consideram importante e não obtém resposta. Muito porque a gente se considera importante e esquece que por n motivos as pessoas ficam sem ler ou responder algo, o principal deles é o tempo. Nesta semana enviei uma mensagem inbox para um escritor que faz um monte de coisas admiráveis, sou muito fã dele em tudo que faz e tive um ótima impressão numa palestra que fui no Sesc, onde explicou numa pergunta minha, que pra escrever ele ia no fundo da casa e colocava música concreta pra se concentrar. Eu estava pesquisando sobre música concreta e precisava de referências e não estava indo bem nas buscas, aí lembrei da palestra e perguntei pra ele que me respondeu um tempo depois: tente Philip Glass. A você, que como eu já ficou chateada com a resposta que não veio, experimente Philip Glass.
Quem não me deixou sem resposta chama-se Lourenço Mutarelli.
Por mais piegas que possa parecer.
Amor.
Sol quando vai, vai tarde.
Feriado tem a cara 
amassada no travesseiro
de quem dormiu até tarde.
A Lua foi jantar e ficou cheia.
Eu perdi uma amiga para o suicídio, isto foi muito forte e determinante pra prestar atenção nos sinais. No suicídio aparentemente tem-se o livre arbítrio, mas há casos de loucura e inconsciência. Este texto fiz com aval de umx terapeuta e umx psiquiatra.
Setembro amarelo é o mês de Prevenção ao Suicídio, um mês de campanha para que pratiquemos a atenção durante o ano inteiro. Final do ano e começo de ano, é a época mais crítica de ocorrências. O que podemos fazer? Prestar atenção nas pessoas, às vezes elas avisam que vão cometer. Mudanças de comportamento repentina, necessidade de despedidas, desprendimentos inesperados de coisas que representam afeto ou de ordem material. Um bom ouvido, um jeito carinhoso de conversar e depois recomendar médico psiquiatra. É bom frisar que a desordem psiquiátrica de depressão não é a única que pode levar ao suicídio, tem dependência química, vícios, psicoses, bipolaridade, esquizofrenia etc, e quem avalia isto é o médico, não um amigo.
um poema pra você
nunca mais esquecer
de mim
nunca mais um poema pra você esquecer 
de mim
pra você
nunca mais esquecer
de mim um poema
Me esqueça.
Setembro amarelo é o mês de Prevenção ao Suicídio, um mês de campanha para que pratiquemos a atenção durante o ano inteiro. Final do ano e começo de ano, é a época mais crítica de ocorrências. O que podemos fazer? Prestar atenção nas pessoas, às vezes elas avisam que vão cometer. Mudanças de comportamento repentina, necessidade de despedidas, desprendimentos inesperados de coisas que representam afeto ou de ordem material. Um bom ouvido, um jeito carinhoso de conversar e depois recomendar médico psiquiatra. É bom frisar que a desordem psiquiátrica de depressão não é a única que pode levar ao suicídio, tem dependência química, vícios, psicoses, bipolaridade, esquizofrenia etc, e quem avalia isto é o médico, não um amigo.
Você aprende a gostar de gente, aí chatice vira graça.
A Lua, bola branca e fria pede sua atenção de noite.
O Sol, bola enorme e amarela te distrai com a Terra.
De olhos fechados, é só você, 
não tem bola mais importante no mundo.

terça-feira, 19 de setembro de 2017

Você não precisa
de beleza,

por gentileza,
tenha a voz que meu
 ouvido almeja.
A conversa surpresa.
Que venha a se vestir de nuvem,
que me faça esquecer
da sua roupa.
Que tenha o hálito da humanidade,
que o mundo caiba
 em sua boca.

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

domingo, 3 de setembro de 2017

Um pássaro entrou
no meu quarto.
Era um sabiá.
Um sabiá pequeno,
 de peito afobado,
com medo de morrer.

Segurou-se no armário,
esperou que eu fosse embora.
Entrou dentro de um vestido,
não sei se era menina
ou
menino.
Logo desapareceu.
É quando deixo
um dedo de cabelo branco, que tenho
certeza do tempo.

Nem quando vejo
um vinco no rosto
me faz ver o que sinto.

Um dedo e vejo o tempo.
Os fios ainda misturados,
vai-se o tempo que escondo
na cabeça. A aparência.

Um dedo e me acostumo,
aceito, acolho e me rendo,
mas passa um curto prazo de tempo, escondo.

Deixo para pensar quando
faltar um dedo e cubro tudo de novo.

Uma hora eu assumo
a cor do tempo,
feita de prata,
e deixarei de esconder
 o ouro.
É só uma questão
de tempo.
Quero gostar de alguém,
mas não tenho pressa,
pressa é o tempo
que tem.
Foi assim que aconteceu.

No caminho tinha a Sé, na calçada da Catedral, alguns moradores de rua, uma mulher com dois cachorros dando ração, e um homem agachado, que ao passar por ele podia ver que copiava um poema de uma revista. "Você gosta de poesia?" Ela perguntou: "Gosto! Essa é do Manoel Bandeira". Estava copiando para guardar num envelope. O homem levantou e falou: "Vou ler pra você!" Manuel Bandeira.
O bicho

Vi ontem um bicho
Na imundice do pátio
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem

Leram juntos, ele estava um pouco alcoolizado. Se apresentaram. " Eu me chamo Maria, e você?" "Samuel! Prazer! Esta revista estou copiando porque vou vender ali no sebo do Messias." A revista estava rabiscada, não conseguiria vender, e ela disse: "Eu queria comprar, mas saí sem dinheiro." "Não quero que você compre, quero que você veja isto. O nome da revista é Panorama da Pobreza de São Paulo. Veja estas fotos. Quem sabe um dia você pode ajudar a melhorar essa situação? Eu já fui músico, fiz Belas Artes, tive problemas psíquicos, perdi esposa e filho. Já fui preso sete anos por roubo, aqui bem na frente, eu e um companheiro que já se foi, espero que ele esteja bem, nem eu nem você sabemos como é, como vai ser do lado de lá." " "Hoje como você vai fazer pra comer? Tem bom prato?" "Só de segunda a sexta, fica tranquila que mais tarde tem gente que traz comida pra gente." "Posso te dar um abraço?"Ela perguntou: " Pode!Obrigada, senti que foi de coração!" Ela não não se importando com o redor, sentindo-se segura como poucas vezes. Não acreditando na coragem de abraçar um estranho, disse: "Vai dar tudo certo! Acredite!" Foi embora segurando o choro, gostaria muito que a vida lhe desse um novo rumo, mas algo dizia que apesar da rua e da pinga, Samuel era feliz. Conseguia copiar poesia na calçada e com muita coragem olhar-se diante dela.
Andar é um ato de desabafo. Os passos avançam e as palavras ficam para trás.
Vi uma pomba
dançando
com um pé.
Ia se equilibrando. 
Rodopiava.
Se arrastava
como quem
pedia licença,
mas parecia
muito segura com um pé.
Não tinha medo.
Não arredava.
Chegava perto,
nem precisava comida.
Ficava olhando tranquila.
De repente, cansou
de peripécias e deu
um salto.
Voou como voam
as pombas que
tem dois pés.
Sempre algo lhe pede que ande sem rodinhas. A vida é uma bicicleta.

sábado, 2 de setembro de 2017

É de sentir dó
gostar de quem
não nos quer.

É de dar nó.
É de dar no pé.
Fácil não é.

Duro mesmo quando
chega o dia de encontrar
o outro,
com outro alguém.
Aí é melhor deixar pra lá,
porque dá dó,
gostar de quem
 não nos quer.
É que nem jiló.
É pra dar no pé.
Um coração vazio
faz silêncio
perto de gente,
a voz calada suspira,
o peito passeia
 confortável
na camisa.

Oco, o coração fica espaçoso,
até que não gostar de alguém é gostoso,
porque não sente
 mais a dor de sentir.
Nossa história
sobe num balão de gás.
Que sobe até se enxergar um pontinho no céu e desaparece.
.
Gosto muito de gente,
gente tem a boca doce e a palavra salgada.

Se não escovar
os dentes direito
dá cárie,
e aí como dar a palavra?

Mas eu gosto de gente,
até doer os dentes.

E na minha vida como foi preciso enfrentar as gentes do caminho!
Fiquei banguela
 e segui feliz sorrindo.
Os lábios selam segredos,
mas os beijos são
fofoqueiros.
Os padres Marcelo e Fábio de Melo se tornaram mais interessantes após abraçarem publicamente suas doenças psiquiátricas deixando claro que fé só não basta, é preciso medicamento. Conhecidos como são, prestaram um serviço de esclarecimento que diminui o preconceito e a resistência da população que os segue.
Tenho as manhãs para abrir
negócios no horizonte,
as tardes para resolver
problemas do mundo inteiro,
as noites para fechamento
de balanços na rede do tempo.

Na realidade o que tenho mesmo são os sonhos.
Ontem, ouvi de uma mulher chamada Sônia, no ponto de ônibus: "Não importa de que forma venha, sempre lemos em primeira pessoa!"