Poesia, textos e todas expressões que surgirem para partilhar, sempre depois que a Lua me tocar.
terça-feira, 26 de setembro de 2017
quinta-feira, 21 de setembro de 2017
Empatado
O tempo que não chega,
é um tempo atrasado
pra gente,
mas não pro tempo,
que acha que o tempo
de chegar
é quando tem que ser,
e parece adiantado
para o tempo,
e não adianta reclamar,
que atrasado
e adiantado o tempo,
ao mesmo tempo
acaba sendo algo pontual,
então o tempo que não chega é uma ilusão do tempo que chega na hora certa do tempo.
é um tempo atrasado
pra gente,
mas não pro tempo,
que acha que o tempo
de chegar
é quando tem que ser,
e parece adiantado
para o tempo,
e não adianta reclamar,
que atrasado
e adiantado o tempo,
ao mesmo tempo
acaba sendo algo pontual,
então o tempo que não chega é uma ilusão do tempo que chega na hora certa do tempo.
Placa THF 2242.
E foi pegar o táxi, do lado da catedral da Sé, não dava pra ir a pé, chegar estava pela hora da sorte, o trajeto levaria vinte minutos, precisava chegar em cinco, falou o destino, combinou mais o menos quanto ficaria o preço, perto de dez reais e foi. No táxi:
-Deixa eu ver como estou de troco. Tem pra cinquenta?
-Senhora?
-Tem pra cinquenta?
-Preciso ver, acho que tenho.
-Como é lindo o Centro! Deixa eu ver aqui. Tenho dez.
-O que a senhora disse?
-Que isso aqui é lindo. Nunca me canso. Vocês ficam tanto aqui, que nem percebem.
-O que a senhora disse? Ela falou mais alto:
-Que o Centro é lindo! Ando sempre por aqui, mas de carro quase nunca.
O motorista estava de fone, teria que falar mais alto ainda.
-Chegamos perto, pode me deixar aqui?
-Eu vou virar, te deixo em frente.
-Ficou dez mesmo? Mesmo? O senhor fica sempre lá?
-Lá é um ponto de táxi. Sim!
-Ok, preciso saber, passo sempre por ali, o senhor foi muito ágil, muito obrigada!
-Deixa eu ver como estou de troco. Tem pra cinquenta?
-Senhora?
-Tem pra cinquenta?
-Preciso ver, acho que tenho.
-Como é lindo o Centro! Deixa eu ver aqui. Tenho dez.
-O que a senhora disse?
-Que isso aqui é lindo. Nunca me canso. Vocês ficam tanto aqui, que nem percebem.
-O que a senhora disse? Ela falou mais alto:
-Que o Centro é lindo! Ando sempre por aqui, mas de carro quase nunca.
O motorista estava de fone, teria que falar mais alto ainda.
-Chegamos perto, pode me deixar aqui?
-Eu vou virar, te deixo em frente.
-Ficou dez mesmo? Mesmo? O senhor fica sempre lá?
-Lá é um ponto de táxi. Sim!
-Ok, preciso saber, passo sempre por ali, o senhor foi muito ágil, muito obrigada!
Seguiu correndo para o destino em cinco minutos, pegou o finalzinho da palestra. No término, depois das nove, aproveitou o fluxo e entrou no metrô no Anhangabaú.
E começou a atinar:
-Eita, eu não paguei a corrida. Não me lembro de ter entregue a nota e tem uma amassadinha aqui. Vou voltar lá!
Desceu na Sé, perto das dez, muita gente circulando, atravessou a rua, ele estava quase saindo.
-Oi! Ele estava sem o fone.
-Lembra de mim, perto das oito?
-Lembro, sim!
-Eu te paguei a corrida?
Esticou um sorriso, apertou forte a mão.
-Não acredito! Tem certeza?
-Tenho! A senhora pagou!
-Vou olhar a chapa do seu carro! Vou jogar, hein? 2242! Sorriso descrente, sem graça, não conseguindo encarar, mas depois ficou olhando ela indo embora, encostado no carro, e ao atravessar a rua, ainda acenou bem feliz na praça que se esvaziava.
-E aí? Um colega do ponto perguntou.
-Ela pagou mesmo?
-Não sei, nem ela sabe. Quantas vezes isso acontece aqui?
-Nunca!
-Então, tem dez reais que podem valer um milhão!
-Também vou jogar na chapa!
E começou a atinar:
-Eita, eu não paguei a corrida. Não me lembro de ter entregue a nota e tem uma amassadinha aqui. Vou voltar lá!
Desceu na Sé, perto das dez, muita gente circulando, atravessou a rua, ele estava quase saindo.
-Oi! Ele estava sem o fone.
-Lembra de mim, perto das oito?
-Lembro, sim!
-Eu te paguei a corrida?
Esticou um sorriso, apertou forte a mão.
-Não acredito! Tem certeza?
-Tenho! A senhora pagou!
-Vou olhar a chapa do seu carro! Vou jogar, hein? 2242! Sorriso descrente, sem graça, não conseguindo encarar, mas depois ficou olhando ela indo embora, encostado no carro, e ao atravessar a rua, ainda acenou bem feliz na praça que se esvaziava.
-E aí? Um colega do ponto perguntou.
-Ela pagou mesmo?
-Não sei, nem ela sabe. Quantas vezes isso acontece aqui?
-Nunca!
-Então, tem dez reais que podem valer um milhão!
-Também vou jogar na chapa!
Ele ganhou na loteria, sumiu do ponto, ela que esqueceu de fazer o jogo procurou pelo taxista sem sucesso. Queria vê-lo de novo. Ela tinha pago direitinho a corrida naquele dia.
Ele disse:
Eu amo ela,
amuada,
num sabe nada.
Que sou seu anjo,
beijú de beijo.
Num creio na tristeza
que ela carrega.
Eu amo ela
Eu amo ela.
Manuela.
Eu ouvi o amo ela,
o resto a cabeça
se encarrega.
Se é o certo
o que o homem disse dela.
É o amor por Manuela.
Não posso corrigir um amor
que diz assim:
Eu amo ela.
Queria ouvir o
amor falar pra mim!
amuada,
num sabe nada.
Que sou seu anjo,
beijú de beijo.
Num creio na tristeza
que ela carrega.
Eu amo ela
Eu amo ela.
Manuela.
Eu ouvi o amo ela,
o resto a cabeça
se encarrega.
Se é o certo
o que o homem disse dela.
É o amor por Manuela.
Não posso corrigir um amor
que diz assim:
Eu amo ela.
Queria ouvir o
amor falar pra mim!
Vai ser difícil eu abrir mão de um livro pra usar plataforma digital. Adoro cheiro de livro, do novo ao velho, sem cheiro de mofo, é claro, daqueles que lembram levemente café, papel queimado de Sol. O cheiro mais incrível de livro foi um novo, da Editora 34, Alice, o livro com a tinta de impressão e o papel tinha cheiro de chuva.
Muita gente, raras pessoas não sentem um bode quando enviam uma mensagem que consideram importante e não obtém resposta. Muito porque a gente se considera importante e esquece que por n motivos as pessoas ficam sem ler ou responder algo, o principal deles é o tempo. Nesta semana enviei uma mensagem inbox para um escritor que faz um monte de coisas admiráveis, sou muito fã dele em tudo que faz e tive um ótima impressão numa palestra que fui no Sesc, onde explicou numa pergunta minha, que pra escrever ele ia no fundo da casa e colocava música concreta pra se concentrar. Eu estava pesquisando sobre música concreta e precisava de referências e não estava indo bem nas buscas, aí lembrei da palestra e perguntei pra ele que me respondeu um tempo depois: tente Philip Glass. A você, que como eu já ficou chateada com a resposta que não veio, experimente Philip Glass.
Quem não me deixou sem resposta chama-se Lourenço Mutarelli.
Quem não me deixou sem resposta chama-se Lourenço Mutarelli.
Eu perdi uma amiga para o suicídio, isto foi muito forte e determinante pra prestar atenção nos sinais. No suicídio aparentemente tem-se o livre arbítrio, mas há casos de loucura e inconsciência. Este texto fiz com aval de umx terapeuta e umx psiquiatra.
Setembro amarelo é o mês de Prevenção ao Suicídio, um mês de campanha para que pratiquemos a atenção durante o ano inteiro. Final do ano e começo de ano, é a época mais crítica de ocorrências. O que podemos fazer? Prestar atenção nas pessoas, às vezes elas avisam que vão cometer. Mudanças de comportamento repentina, necessidade de despedidas, desprendimentos inesperados de coisas que representam afeto ou de ordem material. Um bom ouvido, um jeito carinhoso de conversar e depois recomendar médico psiquiatra. É bom frisar que a desordem psiquiátrica de depressão não é a única que pode levar ao suicídio, tem dependência química, vícios, psicoses, bipolaridade, esquizofrenia etc, e quem avalia isto é o médico, não um amigo.
Setembro amarelo é o mês de Prevenção ao Suicídio, um mês de campanha para que pratiquemos a atenção durante o ano inteiro. Final do ano e começo de ano, é a época mais crítica de ocorrências. O que podemos fazer? Prestar atenção nas pessoas, às vezes elas avisam que vão cometer. Mudanças de comportamento repentina, necessidade de despedidas, desprendimentos inesperados de coisas que representam afeto ou de ordem material. Um bom ouvido, um jeito carinhoso de conversar e depois recomendar médico psiquiatra. É bom frisar que a desordem psiquiátrica de depressão não é a única que pode levar ao suicídio, tem dependência química, vícios, psicoses, bipolaridade, esquizofrenia etc, e quem avalia isto é o médico, não um amigo.
terça-feira, 19 de setembro de 2017
segunda-feira, 4 de setembro de 2017
domingo, 3 de setembro de 2017
É quando deixo
um dedo de cabelo branco, que tenho
certeza do tempo.
Nem quando vejo
um vinco no rosto
me faz ver o que sinto.
Um dedo e vejo o tempo.
Os fios ainda misturados,
vai-se o tempo que escondo
na cabeça. A aparência.
Um dedo e me acostumo,
aceito, acolho e me rendo,
mas passa um curto prazo de tempo, escondo.
Deixo para pensar quando
faltar um dedo e cubro tudo de novo.
Uma hora eu assumo
a cor do tempo,
feita de prata,
e deixarei de esconder
o ouro.
É só uma questão
de tempo.
um dedo de cabelo branco, que tenho
certeza do tempo.
Nem quando vejo
um vinco no rosto
me faz ver o que sinto.
Um dedo e vejo o tempo.
Os fios ainda misturados,
vai-se o tempo que escondo
na cabeça. A aparência.
Um dedo e me acostumo,
aceito, acolho e me rendo,
mas passa um curto prazo de tempo, escondo.
Deixo para pensar quando
faltar um dedo e cubro tudo de novo.
Uma hora eu assumo
a cor do tempo,
feita de prata,
e deixarei de esconder
o ouro.
É só uma questão
de tempo.
Foi assim que aconteceu.
No caminho tinha a Sé, na calçada da Catedral, alguns moradores de rua, uma mulher com dois cachorros dando ração, e um homem agachado, que ao passar por ele podia ver que copiava um poema de uma revista. "Você gosta de poesia?" Ela perguntou: "Gosto! Essa é do Manoel Bandeira". Estava copiando para guardar num envelope. O homem levantou e falou: "Vou ler pra você!" Manuel Bandeira.
O bicho
Vi ontem um bicho
Na imundice do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem
Leram juntos, ele estava um pouco alcoolizado. Se apresentaram. " Eu me chamo Maria, e você?" "Samuel! Prazer! Esta revista estou copiando porque vou vender ali no sebo do Messias." A revista estava rabiscada, não conseguiria vender, e ela disse: "Eu queria comprar, mas saí sem dinheiro." "Não quero que você compre, quero que você veja isto. O nome da revista é Panorama da Pobreza de São Paulo. Veja estas fotos. Quem sabe um dia você pode ajudar a melhorar essa situação? Eu já fui músico, fiz Belas Artes, tive problemas psíquicos, perdi esposa e filho. Já fui preso sete anos por roubo, aqui bem na frente, eu e um companheiro que já se foi, espero que ele esteja bem, nem eu nem você sabemos como é, como vai ser do lado de lá." " "Hoje como você vai fazer pra comer? Tem bom prato?" "Só de segunda a sexta, fica tranquila que mais tarde tem gente que traz comida pra gente." "Posso te dar um abraço?"Ela perguntou: " Pode!Obrigada, senti que foi de coração!" Ela não não se importando com o redor, sentindo-se segura como poucas vezes. Não acreditando na coragem de abraçar um estranho, disse: "Vai dar tudo certo! Acredite!" Foi embora segurando o choro, gostaria muito que a vida lhe desse um novo rumo, mas algo dizia que apesar da rua e da pinga, Samuel era feliz. Conseguia copiar poesia na calçada e com muita coragem olhar-se diante dela.
No caminho tinha a Sé, na calçada da Catedral, alguns moradores de rua, uma mulher com dois cachorros dando ração, e um homem agachado, que ao passar por ele podia ver que copiava um poema de uma revista. "Você gosta de poesia?" Ela perguntou: "Gosto! Essa é do Manoel Bandeira". Estava copiando para guardar num envelope. O homem levantou e falou: "Vou ler pra você!" Manuel Bandeira.
O bicho
Vi ontem um bicho
Na imundice do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem
Leram juntos, ele estava um pouco alcoolizado. Se apresentaram. " Eu me chamo Maria, e você?" "Samuel! Prazer! Esta revista estou copiando porque vou vender ali no sebo do Messias." A revista estava rabiscada, não conseguiria vender, e ela disse: "Eu queria comprar, mas saí sem dinheiro." "Não quero que você compre, quero que você veja isto. O nome da revista é Panorama da Pobreza de São Paulo. Veja estas fotos. Quem sabe um dia você pode ajudar a melhorar essa situação? Eu já fui músico, fiz Belas Artes, tive problemas psíquicos, perdi esposa e filho. Já fui preso sete anos por roubo, aqui bem na frente, eu e um companheiro que já se foi, espero que ele esteja bem, nem eu nem você sabemos como é, como vai ser do lado de lá." " "Hoje como você vai fazer pra comer? Tem bom prato?" "Só de segunda a sexta, fica tranquila que mais tarde tem gente que traz comida pra gente." "Posso te dar um abraço?"Ela perguntou: " Pode!Obrigada, senti que foi de coração!" Ela não não se importando com o redor, sentindo-se segura como poucas vezes. Não acreditando na coragem de abraçar um estranho, disse: "Vai dar tudo certo! Acredite!" Foi embora segurando o choro, gostaria muito que a vida lhe desse um novo rumo, mas algo dizia que apesar da rua e da pinga, Samuel era feliz. Conseguia copiar poesia na calçada e com muita coragem olhar-se diante dela.
Vi uma pomba
dançando
com um pé.
dançando
com um pé.
Ia se equilibrando.
Rodopiava.
Se arrastava
como quem
pedia licença,
mas parecia
muito segura com um pé.
Rodopiava.
Se arrastava
como quem
pedia licença,
mas parecia
muito segura com um pé.
Não tinha medo.
Não arredava.
Chegava perto,
nem precisava comida.
Não arredava.
Chegava perto,
nem precisava comida.
Ficava olhando tranquila.
De repente, cansou
de peripécias e deu
um salto.
de peripécias e deu
um salto.
Voou como voam
as pombas que
tem dois pés.
as pombas que
tem dois pés.
sábado, 2 de setembro de 2017
Os padres Marcelo e Fábio de Melo se tornaram mais interessantes após abraçarem publicamente suas doenças psiquiátricas deixando claro que fé só não basta, é preciso medicamento. Conhecidos como são, prestaram um serviço de esclarecimento que diminui o preconceito e a resistência da população que os segue.
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