O HIV que ninguém vê,
ainda pega.
Vamos usar preservativo e filme plástico. Vamos fazer exame de sangue. Vamos conversar mais sobre prevenção, jovens e pessoas mais velhas estão se contaminando de forma alarmante. A possibilidade de ter remédio e pesquisas de cura em andamento tem dado uma atitude de descuido em milhares de pessoas. O governo não tem feito grandes campanhas de prevenção, apenas no carnaval. Converse, alerte, acolha, faça a sua parte!
Poesia, textos e todas expressões que surgirem para partilhar, sempre depois que a Lua me tocar.
sexta-feira, 1 de dezembro de 2017
terça-feira, 26 de setembro de 2017
quinta-feira, 21 de setembro de 2017
Empatado
O tempo que não chega,
é um tempo atrasado
pra gente,
mas não pro tempo,
que acha que o tempo
de chegar
é quando tem que ser,
e parece adiantado
para o tempo,
e não adianta reclamar,
que atrasado
e adiantado o tempo,
ao mesmo tempo
acaba sendo algo pontual,
então o tempo que não chega é uma ilusão do tempo que chega na hora certa do tempo.
é um tempo atrasado
pra gente,
mas não pro tempo,
que acha que o tempo
de chegar
é quando tem que ser,
e parece adiantado
para o tempo,
e não adianta reclamar,
que atrasado
e adiantado o tempo,
ao mesmo tempo
acaba sendo algo pontual,
então o tempo que não chega é uma ilusão do tempo que chega na hora certa do tempo.
Placa THF 2242.
E foi pegar o táxi, do lado da catedral da Sé, não dava pra ir a pé, chegar estava pela hora da sorte, o trajeto levaria vinte minutos, precisava chegar em cinco, falou o destino, combinou mais o menos quanto ficaria o preço, perto de dez reais e foi. No táxi:
-Deixa eu ver como estou de troco. Tem pra cinquenta?
-Senhora?
-Tem pra cinquenta?
-Preciso ver, acho que tenho.
-Como é lindo o Centro! Deixa eu ver aqui. Tenho dez.
-O que a senhora disse?
-Que isso aqui é lindo. Nunca me canso. Vocês ficam tanto aqui, que nem percebem.
-O que a senhora disse? Ela falou mais alto:
-Que o Centro é lindo! Ando sempre por aqui, mas de carro quase nunca.
O motorista estava de fone, teria que falar mais alto ainda.
-Chegamos perto, pode me deixar aqui?
-Eu vou virar, te deixo em frente.
-Ficou dez mesmo? Mesmo? O senhor fica sempre lá?
-Lá é um ponto de táxi. Sim!
-Ok, preciso saber, passo sempre por ali, o senhor foi muito ágil, muito obrigada!
-Deixa eu ver como estou de troco. Tem pra cinquenta?
-Senhora?
-Tem pra cinquenta?
-Preciso ver, acho que tenho.
-Como é lindo o Centro! Deixa eu ver aqui. Tenho dez.
-O que a senhora disse?
-Que isso aqui é lindo. Nunca me canso. Vocês ficam tanto aqui, que nem percebem.
-O que a senhora disse? Ela falou mais alto:
-Que o Centro é lindo! Ando sempre por aqui, mas de carro quase nunca.
O motorista estava de fone, teria que falar mais alto ainda.
-Chegamos perto, pode me deixar aqui?
-Eu vou virar, te deixo em frente.
-Ficou dez mesmo? Mesmo? O senhor fica sempre lá?
-Lá é um ponto de táxi. Sim!
-Ok, preciso saber, passo sempre por ali, o senhor foi muito ágil, muito obrigada!
Seguiu correndo para o destino em cinco minutos, pegou o finalzinho da palestra. No término, depois das nove, aproveitou o fluxo e entrou no metrô no Anhangabaú.
E começou a atinar:
-Eita, eu não paguei a corrida. Não me lembro de ter entregue a nota e tem uma amassadinha aqui. Vou voltar lá!
Desceu na Sé, perto das dez, muita gente circulando, atravessou a rua, ele estava quase saindo.
-Oi! Ele estava sem o fone.
-Lembra de mim, perto das oito?
-Lembro, sim!
-Eu te paguei a corrida?
Esticou um sorriso, apertou forte a mão.
-Não acredito! Tem certeza?
-Tenho! A senhora pagou!
-Vou olhar a chapa do seu carro! Vou jogar, hein? 2242! Sorriso descrente, sem graça, não conseguindo encarar, mas depois ficou olhando ela indo embora, encostado no carro, e ao atravessar a rua, ainda acenou bem feliz na praça que se esvaziava.
-E aí? Um colega do ponto perguntou.
-Ela pagou mesmo?
-Não sei, nem ela sabe. Quantas vezes isso acontece aqui?
-Nunca!
-Então, tem dez reais que podem valer um milhão!
-Também vou jogar na chapa!
E começou a atinar:
-Eita, eu não paguei a corrida. Não me lembro de ter entregue a nota e tem uma amassadinha aqui. Vou voltar lá!
Desceu na Sé, perto das dez, muita gente circulando, atravessou a rua, ele estava quase saindo.
-Oi! Ele estava sem o fone.
-Lembra de mim, perto das oito?
-Lembro, sim!
-Eu te paguei a corrida?
Esticou um sorriso, apertou forte a mão.
-Não acredito! Tem certeza?
-Tenho! A senhora pagou!
-Vou olhar a chapa do seu carro! Vou jogar, hein? 2242! Sorriso descrente, sem graça, não conseguindo encarar, mas depois ficou olhando ela indo embora, encostado no carro, e ao atravessar a rua, ainda acenou bem feliz na praça que se esvaziava.
-E aí? Um colega do ponto perguntou.
-Ela pagou mesmo?
-Não sei, nem ela sabe. Quantas vezes isso acontece aqui?
-Nunca!
-Então, tem dez reais que podem valer um milhão!
-Também vou jogar na chapa!
Ele ganhou na loteria, sumiu do ponto, ela que esqueceu de fazer o jogo procurou pelo taxista sem sucesso. Queria vê-lo de novo. Ela tinha pago direitinho a corrida naquele dia.
Ele disse:
Eu amo ela,
amuada,
num sabe nada.
Que sou seu anjo,
beijú de beijo.
Num creio na tristeza
que ela carrega.
Eu amo ela
Eu amo ela.
Manuela.
Eu ouvi o amo ela,
o resto a cabeça
se encarrega.
Se é o certo
o que o homem disse dela.
É o amor por Manuela.
Não posso corrigir um amor
que diz assim:
Eu amo ela.
Queria ouvir o
amor falar pra mim!
amuada,
num sabe nada.
Que sou seu anjo,
beijú de beijo.
Num creio na tristeza
que ela carrega.
Eu amo ela
Eu amo ela.
Manuela.
Eu ouvi o amo ela,
o resto a cabeça
se encarrega.
Se é o certo
o que o homem disse dela.
É o amor por Manuela.
Não posso corrigir um amor
que diz assim:
Eu amo ela.
Queria ouvir o
amor falar pra mim!
Vai ser difícil eu abrir mão de um livro pra usar plataforma digital. Adoro cheiro de livro, do novo ao velho, sem cheiro de mofo, é claro, daqueles que lembram levemente café, papel queimado de Sol. O cheiro mais incrível de livro foi um novo, da Editora 34, Alice, o livro com a tinta de impressão e o papel tinha cheiro de chuva.
Muita gente, raras pessoas não sentem um bode quando enviam uma mensagem que consideram importante e não obtém resposta. Muito porque a gente se considera importante e esquece que por n motivos as pessoas ficam sem ler ou responder algo, o principal deles é o tempo. Nesta semana enviei uma mensagem inbox para um escritor que faz um monte de coisas admiráveis, sou muito fã dele em tudo que faz e tive um ótima impressão numa palestra que fui no Sesc, onde explicou numa pergunta minha, que pra escrever ele ia no fundo da casa e colocava música concreta pra se concentrar. Eu estava pesquisando sobre música concreta e precisava de referências e não estava indo bem nas buscas, aí lembrei da palestra e perguntei pra ele que me respondeu um tempo depois: tente Philip Glass. A você, que como eu já ficou chateada com a resposta que não veio, experimente Philip Glass.
Quem não me deixou sem resposta chama-se Lourenço Mutarelli.
Quem não me deixou sem resposta chama-se Lourenço Mutarelli.
Eu perdi uma amiga para o suicídio, isto foi muito forte e determinante pra prestar atenção nos sinais. No suicídio aparentemente tem-se o livre arbítrio, mas há casos de loucura e inconsciência. Este texto fiz com aval de umx terapeuta e umx psiquiatra.
Setembro amarelo é o mês de Prevenção ao Suicídio, um mês de campanha para que pratiquemos a atenção durante o ano inteiro. Final do ano e começo de ano, é a época mais crítica de ocorrências. O que podemos fazer? Prestar atenção nas pessoas, às vezes elas avisam que vão cometer. Mudanças de comportamento repentina, necessidade de despedidas, desprendimentos inesperados de coisas que representam afeto ou de ordem material. Um bom ouvido, um jeito carinhoso de conversar e depois recomendar médico psiquiatra. É bom frisar que a desordem psiquiátrica de depressão não é a única que pode levar ao suicídio, tem dependência química, vícios, psicoses, bipolaridade, esquizofrenia etc, e quem avalia isto é o médico, não um amigo.
Setembro amarelo é o mês de Prevenção ao Suicídio, um mês de campanha para que pratiquemos a atenção durante o ano inteiro. Final do ano e começo de ano, é a época mais crítica de ocorrências. O que podemos fazer? Prestar atenção nas pessoas, às vezes elas avisam que vão cometer. Mudanças de comportamento repentina, necessidade de despedidas, desprendimentos inesperados de coisas que representam afeto ou de ordem material. Um bom ouvido, um jeito carinhoso de conversar e depois recomendar médico psiquiatra. É bom frisar que a desordem psiquiátrica de depressão não é a única que pode levar ao suicídio, tem dependência química, vícios, psicoses, bipolaridade, esquizofrenia etc, e quem avalia isto é o médico, não um amigo.
terça-feira, 19 de setembro de 2017
segunda-feira, 4 de setembro de 2017
domingo, 3 de setembro de 2017
É quando deixo
um dedo de cabelo branco, que tenho
certeza do tempo.
Nem quando vejo
um vinco no rosto
me faz ver o que sinto.
Um dedo e vejo o tempo.
Os fios ainda misturados,
vai-se o tempo que escondo
na cabeça. A aparência.
Um dedo e me acostumo,
aceito, acolho e me rendo,
mas passa um curto prazo de tempo, escondo.
Deixo para pensar quando
faltar um dedo e cubro tudo de novo.
Uma hora eu assumo
a cor do tempo,
feita de prata,
e deixarei de esconder
o ouro.
É só uma questão
de tempo.
um dedo de cabelo branco, que tenho
certeza do tempo.
Nem quando vejo
um vinco no rosto
me faz ver o que sinto.
Um dedo e vejo o tempo.
Os fios ainda misturados,
vai-se o tempo que escondo
na cabeça. A aparência.
Um dedo e me acostumo,
aceito, acolho e me rendo,
mas passa um curto prazo de tempo, escondo.
Deixo para pensar quando
faltar um dedo e cubro tudo de novo.
Uma hora eu assumo
a cor do tempo,
feita de prata,
e deixarei de esconder
o ouro.
É só uma questão
de tempo.
Foi assim que aconteceu.
No caminho tinha a Sé, na calçada da Catedral, alguns moradores de rua, uma mulher com dois cachorros dando ração, e um homem agachado, que ao passar por ele podia ver que copiava um poema de uma revista. "Você gosta de poesia?" Ela perguntou: "Gosto! Essa é do Manoel Bandeira". Estava copiando para guardar num envelope. O homem levantou e falou: "Vou ler pra você!" Manuel Bandeira.
O bicho
Vi ontem um bicho
Na imundice do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem
Leram juntos, ele estava um pouco alcoolizado. Se apresentaram. " Eu me chamo Maria, e você?" "Samuel! Prazer! Esta revista estou copiando porque vou vender ali no sebo do Messias." A revista estava rabiscada, não conseguiria vender, e ela disse: "Eu queria comprar, mas saí sem dinheiro." "Não quero que você compre, quero que você veja isto. O nome da revista é Panorama da Pobreza de São Paulo. Veja estas fotos. Quem sabe um dia você pode ajudar a melhorar essa situação? Eu já fui músico, fiz Belas Artes, tive problemas psíquicos, perdi esposa e filho. Já fui preso sete anos por roubo, aqui bem na frente, eu e um companheiro que já se foi, espero que ele esteja bem, nem eu nem você sabemos como é, como vai ser do lado de lá." " "Hoje como você vai fazer pra comer? Tem bom prato?" "Só de segunda a sexta, fica tranquila que mais tarde tem gente que traz comida pra gente." "Posso te dar um abraço?"Ela perguntou: " Pode!Obrigada, senti que foi de coração!" Ela não não se importando com o redor, sentindo-se segura como poucas vezes. Não acreditando na coragem de abraçar um estranho, disse: "Vai dar tudo certo! Acredite!" Foi embora segurando o choro, gostaria muito que a vida lhe desse um novo rumo, mas algo dizia que apesar da rua e da pinga, Samuel era feliz. Conseguia copiar poesia na calçada e com muita coragem olhar-se diante dela.
No caminho tinha a Sé, na calçada da Catedral, alguns moradores de rua, uma mulher com dois cachorros dando ração, e um homem agachado, que ao passar por ele podia ver que copiava um poema de uma revista. "Você gosta de poesia?" Ela perguntou: "Gosto! Essa é do Manoel Bandeira". Estava copiando para guardar num envelope. O homem levantou e falou: "Vou ler pra você!" Manuel Bandeira.
O bicho
Vi ontem um bicho
Na imundice do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem
Leram juntos, ele estava um pouco alcoolizado. Se apresentaram. " Eu me chamo Maria, e você?" "Samuel! Prazer! Esta revista estou copiando porque vou vender ali no sebo do Messias." A revista estava rabiscada, não conseguiria vender, e ela disse: "Eu queria comprar, mas saí sem dinheiro." "Não quero que você compre, quero que você veja isto. O nome da revista é Panorama da Pobreza de São Paulo. Veja estas fotos. Quem sabe um dia você pode ajudar a melhorar essa situação? Eu já fui músico, fiz Belas Artes, tive problemas psíquicos, perdi esposa e filho. Já fui preso sete anos por roubo, aqui bem na frente, eu e um companheiro que já se foi, espero que ele esteja bem, nem eu nem você sabemos como é, como vai ser do lado de lá." " "Hoje como você vai fazer pra comer? Tem bom prato?" "Só de segunda a sexta, fica tranquila que mais tarde tem gente que traz comida pra gente." "Posso te dar um abraço?"Ela perguntou: " Pode!Obrigada, senti que foi de coração!" Ela não não se importando com o redor, sentindo-se segura como poucas vezes. Não acreditando na coragem de abraçar um estranho, disse: "Vai dar tudo certo! Acredite!" Foi embora segurando o choro, gostaria muito que a vida lhe desse um novo rumo, mas algo dizia que apesar da rua e da pinga, Samuel era feliz. Conseguia copiar poesia na calçada e com muita coragem olhar-se diante dela.
Vi uma pomba
dançando
com um pé.
dançando
com um pé.
Ia se equilibrando.
Rodopiava.
Se arrastava
como quem
pedia licença,
mas parecia
muito segura com um pé.
Rodopiava.
Se arrastava
como quem
pedia licença,
mas parecia
muito segura com um pé.
Não tinha medo.
Não arredava.
Chegava perto,
nem precisava comida.
Não arredava.
Chegava perto,
nem precisava comida.
Ficava olhando tranquila.
De repente, cansou
de peripécias e deu
um salto.
de peripécias e deu
um salto.
Voou como voam
as pombas que
tem dois pés.
as pombas que
tem dois pés.
sábado, 2 de setembro de 2017
Os padres Marcelo e Fábio de Melo se tornaram mais interessantes após abraçarem publicamente suas doenças psiquiátricas deixando claro que fé só não basta, é preciso medicamento. Conhecidos como são, prestaram um serviço de esclarecimento que diminui o preconceito e a resistência da população que os segue.
segunda-feira, 28 de agosto de 2017
Tenho reparado ultimamente que estamos vivendo um tempo de pouco diálogo, onde as pessoas tem precisado falar mais do que ouvir. A nós cabe uma boa dose de paciência quando isso acontece, o que não deixa de ser uma caridade. Muitas vezes uma das partes só quer falar, a outra cabe ouvir até que o falante se canse. Aí, você, como bom ouvidor, fez a sua parte. Num outro dia, você que também faz parte deste fluxo louco que tem se tornado nossas vidas, pode ser o falante da vez, precisando de um ouvido caridoso. Pense nisso.
sábado, 26 de agosto de 2017
Lembrei da gente no trem.
O seu ponto já tinha passado
quatro estações.
O seu ponto já tinha passado
quatro estações.
Descemos.
Teve abraço.
Teve olho no olho,
mas não teve beijo.
Teve abraço.
Teve olho no olho,
mas não teve beijo.
Era tarde, e você quis seguir até o ponto final, ao invés de voltar pra sua casa.
Disse que ia pensar na vida.
Eu segui sem entender nada, até o meu destino.
Você seguiu o seu.
Parece que foi assim.
Queria saber a sua versão de mim.
Queria saber a sua versão de mim.
terça-feira, 22 de agosto de 2017
A cintura marcava,
o peso apenas um pretexto que crescia. O espelho gostava do que via. Pra quê perder medidas? Já a outra o sobrepeso não ajudava, ficava disforme, sem brilho e cor na comida, e ainda por cima, o sangue manchava de colesterol. Enquanto uma não sofria, a outra agonizava na cinta. Enquanto uma se achava bonita, a outra acinzentava, e só sossegou e se gostou quando ficou magra. Cada qual em sua beleza, mas a gorda era a mais feliz por natureza.
o peso apenas um pretexto que crescia. O espelho gostava do que via. Pra quê perder medidas? Já a outra o sobrepeso não ajudava, ficava disforme, sem brilho e cor na comida, e ainda por cima, o sangue manchava de colesterol. Enquanto uma não sofria, a outra agonizava na cinta. Enquanto uma se achava bonita, a outra acinzentava, e só sossegou e se gostou quando ficou magra. Cada qual em sua beleza, mas a gorda era a mais feliz por natureza.
Não era a primeira vez que tinha visto aquele senhor. Tive a impressão que pudesse ser louco. Hoje vi que ele parou um homem para perguntar em voz alta:
"Você poderia me ajudar?" "Claro! O que o senhor precisa?" "Me diga o que é utopia?" Não fiquei para ouvir a resposta. Cheguei a ver o homem que ele parou sorrindo ao longe, mas fui embora com a pergunta mais inteligente dos últimos tempos ouvida na rua.
"Você poderia me ajudar?" "Claro! O que o senhor precisa?" "Me diga o que é utopia?" Não fiquei para ouvir a resposta. Cheguei a ver o homem que ele parou sorrindo ao longe, mas fui embora com a pergunta mais inteligente dos últimos tempos ouvida na rua.
não beba depois do sexo,
não coma depois do sexo,
não fume depois do sexo,
não suma depois do sexo,
não morra depois do sexo,
não corra depois do sexo,
não durma depois do sexo,
não pule depois do sexo,
vire de lado, disfarce, discretamente puxe
o livro que você deixou cair embaixo da cama,
lá está escrito que você não bebeu depois do sexo,
não comeu depois do sexo,
não fumou depois do sexo,
não sumiu depois do sexo,
não morreu depois do sexo,
não correu depois do sexo,
não durmiu depois do sexo,
não pulou depois do sexo,
não coma depois do sexo,
não fume depois do sexo,
não suma depois do sexo,
não morra depois do sexo,
não corra depois do sexo,
não durma depois do sexo,
não pule depois do sexo,
vire de lado, disfarce, discretamente puxe
o livro que você deixou cair embaixo da cama,
lá está escrito que você não bebeu depois do sexo,
não comeu depois do sexo,
não fumou depois do sexo,
não sumiu depois do sexo,
não morreu depois do sexo,
não correu depois do sexo,
não durmiu depois do sexo,
não pulou depois do sexo,
nem sentiu um vazio.
olha, isto pode ser um sinal.
quinta-feira, 10 de agosto de 2017
Ele é bonito,
pois finge bem
que não é.
Finge que não é comigo,
é com todo mundo
o carisma que traz solto no rosto.
pois finge bem
que não é.
Finge que não é comigo,
é com todo mundo
o carisma que traz solto no rosto.
Ele é bonito,
pois finge bem
que a roupa foi
displicente escolhida.
pois finge bem
que a roupa foi
displicente escolhida.
Finge que não é comigo,
fala com todo mundo
com o mesmo carinho.
fala com todo mundo
com o mesmo carinho.
Ele é bonito,
pois finge que o perfume
não é dele, é misturado com abraços.
pois finge que o perfume
não é dele, é misturado com abraços.
Ele é bonito,
pois eu me vejo nele.
pois eu me vejo nele.
Para dois livros e um caderno que perdi ontem.
Torce o pé,
mochila pesada,
tira os livros e o caderno de espiral pequeno de dentro,
esvazia um pouco,
depois perde os livros e o caderno
num dos bancos que sentou
no trajeto, tantos bancos que
nem lembra mais,
mas não perde a mania
de tentar uma forma
de levar consigo
os sonhos.
Ainda dói o calcanhar,
sente o dó da perda,
mas espera que
quem achou pelo
menos leia os livros e o caderno,
que valiam o peso,
a torção do pé
e todo o resto.
mochila pesada,
tira os livros e o caderno de espiral pequeno de dentro,
esvazia um pouco,
depois perde os livros e o caderno
num dos bancos que sentou
no trajeto, tantos bancos que
nem lembra mais,
mas não perde a mania
de tentar uma forma
de levar consigo
os sonhos.
Ainda dói o calcanhar,
sente o dó da perda,
mas espera que
quem achou pelo
menos leia os livros e o caderno,
que valiam o peso,
a torção do pé
e todo o resto.
Ela nem gostava de loiro, mas um tipo alemão Hilbert estava na fila da lotérica, atrás dela, quatro pessoas.
"Próximo!" Ela jogou as moedas no guichê. A moça do caixa depois de contar, perguntou:
"Fala um número, faltou um!"
"34!" Ela disse.
Ao sair da lotérica, o alemão que ainda estava na fila falou alto:
"Eu também joguei no 34!"
Ela chegou perto e soltou: "Boa sorte!" E saiu aborrecida por não ter tido a coragem de falar:
"Me dá seu número?"
"Próximo!" Ela jogou as moedas no guichê. A moça do caixa depois de contar, perguntou:
"Fala um número, faltou um!"
"34!" Ela disse.
Ao sair da lotérica, o alemão que ainda estava na fila falou alto:
"Eu também joguei no 34!"
Ela chegou perto e soltou: "Boa sorte!" E saiu aborrecida por não ter tido a coragem de falar:
"Me dá seu número?"
Românticos guardam frases, olhares, gestos, músicas, pequenos papéis de Beatriz Milhazes
em guardanapos escritos com número de telefone que nem existe mais.
em guardanapos escritos com número de telefone que nem existe mais.
São tão antigos, que românticos podem ser encontrados quase vivos nos quadros e estátuas dos museus.
Quando encontrar um romântico na rua, que é raro, faça três pedidos.
Se você quiser ser caridoso, faça um para o romântico deixar de ser bobo
e ser feliz.
terça-feira, 1 de agosto de 2017
Aquele tracinho azul do whats app é culpado pela ansiedade do mundo. A pílula azul é culpada pela ansiedade do mundo. O céu azul é culpado pela ansiedade do mundo. A caneta azul é culpada pela ansiedade do mundo. O olho azul é culpado pela ansiedade do mundo. A baleia azul é culpada pela ansiedade do mundo. O jeans azul é culpado pela ansiedade do mundo. O cabelo azul é culpado pela ansiedade do mundo. Um planeta azul é culpado pela ansiedade do mundo.
Maira Garcia
Maira Garcia
Românticos guardam frases, olhares, gestos, músicas, pequenos papéis de Beatriz Milhazes
em guardanapos escritos com número de telefone que nem existe mais.
São tão antigos, que românticos podem ser encontrados quase vivos nos quadros e estátuas dos museus.
Quando encontrar um romântico na rua, que é raro, faça três pedidos.
Se você quiser ser caridoso, faça um para o romântico deixar de ser bobo
e ser feliz.
em guardanapos escritos com número de telefone que nem existe mais.
São tão antigos, que românticos podem ser encontrados quase vivos nos quadros e estátuas dos museus.
Quando encontrar um romântico na rua, que é raro, faça três pedidos.
Se você quiser ser caridoso, faça um para o romântico deixar de ser bobo
e ser feliz.
domingo, 30 de julho de 2017
Ontem estava na beira de um bar de rodoviária espiando a bem escrita novela da Glória Perez, o atendente me interpelou:
"Deseja alguma coisa?"
"Não, só estou espiando a novela! Obrigada!"
"Eu não vejo novela, minha patroa é que vê, mas esta novela tem verdades! Você lê a Bíblia?" Fiquei em silêncio. "Tem a moça que quer virar homem, homem que esconde que é mulher, a mulher de bandido! É tudo baseado na vida real!" E prosseguiu. "Se a senhora ler a Bíblia, tem Sodoma e Gomorra, igual tá aí! Imagine que Deus mandou anjos e os homens da cidade quiseram transar com eles! Tá igual, não vai sobrar nada." "É importante retratar na novela a questão do trans, é muito sofrimento o que eles passam!" Olhei pra plataforma, meu ônibus chegou, me despedi, subi pensando no vão que existe em muitos de nós, fiquei olhando pro bar, vendo a criatura que coberto de inocência enxerga a Bíblia na novela que ele não vê.
"Deseja alguma coisa?"
"Não, só estou espiando a novela! Obrigada!"
"Eu não vejo novela, minha patroa é que vê, mas esta novela tem verdades! Você lê a Bíblia?" Fiquei em silêncio. "Tem a moça que quer virar homem, homem que esconde que é mulher, a mulher de bandido! É tudo baseado na vida real!" E prosseguiu. "Se a senhora ler a Bíblia, tem Sodoma e Gomorra, igual tá aí! Imagine que Deus mandou anjos e os homens da cidade quiseram transar com eles! Tá igual, não vai sobrar nada." "É importante retratar na novela a questão do trans, é muito sofrimento o que eles passam!" Olhei pra plataforma, meu ônibus chegou, me despedi, subi pensando no vão que existe em muitos de nós, fiquei olhando pro bar, vendo a criatura que coberto de inocência enxerga a Bíblia na novela que ele não vê.
segunda-feira, 24 de julho de 2017
domingo, 23 de julho de 2017
sábado, 22 de julho de 2017
domingo, 16 de julho de 2017
Ele surgiu na entrada do cinema, no alto do seu cabelo preso, terno cinza, postura curvada. Depois sumiu. Surgiu sorrindo para entrar na mesma fileira que ela, atrapalhada, sentada de saia florida, pipoca no meio das pernas. Seu lugar era ao lado dela, mas só encorajou quando um casal cobrou o seu assento. Conversaram até o trailer começar. O filme era pra rir, riram uníssonos. O filme era pra constranger, silenciaram. Na hora do letreiro, não se sabe o porquê, deu uma vontade louca dela ir embora e dar tchau. Lá fora, se viram pelo espelho do hall, ele sorriu, ela ficou sem graça e não olhou mais. Quando viu ele já tinha ido embora. E ficaram com essa história até dormir. E esqueceram, que é sempre melhor assim. Mas a cidade grande quando quer fica bem pequena, se reencontraram tempos depois no mesmo cinema, aí ele segurou nas mãos dela e disse "hoje ninguém dá tchau."
quinta-feira, 13 de julho de 2017
sábado, 8 de julho de 2017
quinta-feira, 6 de julho de 2017
quarta-feira, 5 de julho de 2017
segunda-feira, 3 de julho de 2017
quinta-feira, 29 de junho de 2017
quarta-feira, 28 de junho de 2017
domingo, 25 de junho de 2017
quarta-feira, 21 de junho de 2017
O livro é aberto na mesa, as folhas dividem ao meio e se equilibram flutuando até pousar na capa. Pela fresta do livro, sai a mulher com uma revista nas mãos. Pedem gibis os que não alcançam as estantes. Um menino pega, corre e tropeça em seu chinelo. Ao cair é socorrido pela atendente. Numa mesa, o morador de rua consegue matar piolhos na página do livro que ele nunca leva. Idosos discutem política quase rasgando o jornal de empréstimo e são lembrados do barulho. A moça que estuda para concurso espera seu amigo pra aprender matemática. O poeta rascunha versos em papel de pão e coloca nos livros achando que ninguém está vendo. A menina que já leu todos os livros da Clarice, agora lê Cervantes, vem renovar o empréstimo. O funcionário da prefeitura, com o livro atrasado, reclama para bibliotecária seus dias mais que imperfeitos. O casal atrás da estante irrita a todos com o estalar e gemidos de seus beijos.
O livro que se fecha na mesa, alguém o leva certo de ser um de seus protagonistas.
Para a Biblioteca do Sesc Carmo, que me trouxe os personagens deste texto.
O livro que se fecha na mesa, alguém o leva certo de ser um de seus protagonistas.
Para a Biblioteca do Sesc Carmo, que me trouxe os personagens deste texto.
sábado, 10 de junho de 2017
sexta-feira, 9 de junho de 2017
segunda-feira, 5 de junho de 2017
não compreendo as mensagens que ficam sem resposta, sem sinal de leitura, mudas.
uma importância
absurda, compreensível
em letras tão pequenas que necessitam uma lupa.
dou-me importância
porque me deram,
mas devolvo e acordo
que isso não importa,
damos o lugar que queremos,
e não é permitido nos tomarmos por sérios. Fiquemos com os risos.
sábado, 3 de junho de 2017
sexta-feira, 2 de junho de 2017
quinta-feira, 1 de junho de 2017
O homem de mais idade, que de meia era pouca, cor entre bege e caramelo, porte médio e sua muleta prata, a cada passada de perna dizia:"Deus está contigo!". Esta frase, uma mania falada em timbre baixo, pra se ouvir na altura do ouvido, naquele dia, foi ouvida por uma menina cinza, que de alguma coisa desistia. Ao ouvir "Deus está contigo!", ela voltou e deu um abraço forte no homem e disse: "Foi bom de ouvir, agora não vou desistir!" E o homem assustado sem entender palavra, deu uma passada na muleta e repetiu ao se despedir: "Deus está contigo!"
terça-feira, 30 de maio de 2017
sábado, 27 de maio de 2017
quinta-feira, 25 de maio de 2017
terça-feira, 23 de maio de 2017
Pedaços de bijuterias.
Frascos de perfumes
com uma gota de cheiro.
Frascos de perfumes
com uma gota de cheiro.
Bolas de gude verdes.
Santinhos com orações
pra distribuir em igreja.
Santinhos com orações
pra distribuir em igreja.
Alfinetes de tamanhos variados
feitos na China.
Caixa de metal com aparelho
de barbear e espelho.
feitos na China.
Caixa de metal com aparelho
de barbear e espelho.
Saquinho de bolas de naftalina.
Batons começados,
esmaltes endurecidos.
esmaltes endurecidos.
Sabonete Lux.
Botão grande sozinho.
Grampeador.
Agenda telefônica tão pequena
que quase não dá pra ver o número.
que quase não dá pra ver o número.
Achei seu telefone. É fixo.
Só resta saber se você ainda está por aqui.
Só resta saber se você ainda está por aqui.
Tinha meia hora pra fazer algo pela rua. Passou na lotérica, quina acumulada em dez milhões, pegou o bilhete riscou os números de sempre, e aguardou na demora de alguém na fila que sacava o fgts. Surge uma senhorinha dentro da lotérica, com saia comprida, Bíblia na mão e coque:
- Moça, qual é o bilhete da mega?
- É esse.
- Qual você vai jogar?
- Na quina.
- É mais barato?
- Um e cinquenta.
- Vou jogar esse! Escreve pra mim? Quem sabe você me dá sorte?
Ela assinalou números diferentes do jogo que sabia de cor, só repetiu o número cinco. Ainda tinha um tempinho, foi na loja de doces. Entrou no trabalho e um pouco tarde dentro daquela meia hora, percebeu que a mulher que queria dividir o prêmio com ela era a sorte.
- Moça, qual é o bilhete da mega?
- É esse.
- Qual você vai jogar?
- Na quina.
- É mais barato?
- Um e cinquenta.
- Vou jogar esse! Escreve pra mim? Quem sabe você me dá sorte?
Ela assinalou números diferentes do jogo que sabia de cor, só repetiu o número cinco. Ainda tinha um tempinho, foi na loja de doces. Entrou no trabalho e um pouco tarde dentro daquela meia hora, percebeu que a mulher que queria dividir o prêmio com ela era a sorte.
domingo, 21 de maio de 2017
domingo, 14 de maio de 2017
Pedaços de bijuterias.
Frascos de perfumes
com um dedo de cheiro.
Frascos de perfumes
com um dedo de cheiro.
Bolas de gude verdes.
Santinhos com orações
pra distribuir em igreja.
Alfinetes de tamanhos variados
feitos na China.
Caixa de metal com aparelho
de barbear e espelho.
Saquinho de bolas de naftalina.
pra distribuir em igreja.
Alfinetes de tamanhos variados
feitos na China.
Caixa de metal com aparelho
de barbear e espelho.
Saquinho de bolas de naftalina.
Batons começados,
esmaltes endurecidos.
esmaltes endurecidos.
Sabonete Lux.
Botão grande sozinho.
Grampeador.
Agenda telefônica tão pequena
que quase não dá pra ver o número.
que quase não dá pra ver o número.
Achei seu telefone. É de fixo.
Só resta saber se você ainda está por aqui.
Só resta saber se você ainda está por aqui.
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