quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Camarote
Na calçada ajeito a saia, e sento na minha cadeira de praia, pois aqui o bairro sofre pela falta de praça. Da janela tem uma vista especial, mas nada se compara o ficar na rua perto dos carros fazendo obstáculo pra quem passa na calçada. 
Meu pensamento acha graça do sorveteiro, do vendedor de pamonha, do homem do algodão doce cor de rosa da minha saia. Eu tenho saído pouco, não me acostumei com a bengala, faço pirraça com ela, invento manobras perigosas e acabo trombando nos outros. Minha neta ao me ver assim, anda pegando no meu pé do mesmo jeito que eu ficava com ela pequena. 
Acho que remocei demais, dei pra ser bebê, não demora e vou usar fraldas, é só uma questão de tempo, e como eu quase me acostumo com quase tudo, vou inventar um jeito de usar especial que vão achar que é a calcinha da Beyoncé. Até lá, compro uma bengala de quatro apoios e ninguém me segura. Aventura vai ser ir no baile. Se tomar chá de cadeira, coloco a minha em frente da pista de dança e fico como aqui na calçada, vendo a vida que ainda passa por mim.

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