quarta-feira, 31 de agosto de 2016

De todas meninanças, as que mais corriam eram as que existiam na rua-sem-saída. Eram as que mais gritavam e desapareciam no esconde-esconde. Aniversários nessa rua também eram os mais bonitos, pois apareciam muitas crianças de bico, sem serem convidadas.
O poeta não sabia mais o que era o amor, então escrevia sobre amor pra fazer algum sentido pra si, ou criar um amuleto.
É da falta que fazia que escrevia.
No fundo, era do amor que ele fugia.
Tinha medo de não ter mais o que dizer.

domingo, 28 de agosto de 2016

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

É certo que estou toda errada,
quando penso que sei de tudo,
quando penso que não sei de nada.

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Camarote
Na calçada ajeito a saia, e sento na minha cadeira de praia, pois aqui o bairro sofre pela falta de praça. Da janela tem uma vista especial, mas nada se compara o ficar na rua perto dos carros fazendo obstáculo pra quem passa na calçada. 
Meu pensamento acha graça do sorveteiro, do vendedor de pamonha, do homem do algodão doce cor de rosa da minha saia. Eu tenho saído pouco, não me acostumei com a bengala, faço pirraça com ela, invento manobras perigosas e acabo trombando nos outros. Minha neta ao me ver assim, anda pegando no meu pé do mesmo jeito que eu ficava com ela pequena. 
Acho que remocei demais, dei pra ser bebê, não demora e vou usar fraldas, é só uma questão de tempo, e como eu quase me acostumo com quase tudo, vou inventar um jeito de usar especial que vão achar que é a calcinha da Beyoncé. Até lá, compro uma bengala de quatro apoios e ninguém me segura. Aventura vai ser ir no baile. Se tomar chá de cadeira, coloco a minha em frente da pista de dança e fico como aqui na calçada, vendo a vida que ainda passa por mim.
uma pena
que voa sem asas
sem saber como volta pra casa
é um poema simples.

terça-feira, 23 de agosto de 2016

Tem poema que é bem simples,
uma pena
que voa sem asas.
Quantos anos faz
que você
se desfez?
Nem lembra mais
da última vez.
Que se refez tão
logo aconteceu,
meio que nasceu.
Bebês não lembram
nem do céu,
foi assim
que se esqueceu.

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Tempo que não seguro
Com as mãos,
não tenho tempo.

Seguro com o coração.

Tempo que não seguro
Com os olhos, não tenho tempo.

Seguro com o coração.

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Esse beijo que não acontece,
é melhor do que parece.
Eu lhe ofereci um poema
Que não era meu.
Não poderia emitir.
Sem palavras
 recorri
ao infalível
 Drummond.
De olho na pupila,
que ela me diga o tamanho
do seu sonho.
Se tiver muita luz, não saberei,
pois ficará um pontinho
 no meio do teu olho.
No quase escuro,
com muita vontade,
que ela cresce,
parecida com outras
 coisas distintas.
É assim que aparece
o tamanho da pupila.
A paz é uma conquista,
mas tem gente que vem
e tira.

sábado, 13 de agosto de 2016

Reparo abaixo dos olhos,
acima do peito.
O que sustenta
o sustento.
Que mantem o que se dobra.
Desenho em vê,
 desenho em horizonte.
Não dê de ombros,
 são os ombros
o encanto
que em delineio
prepara o abraço,
que do resto nem me lembro.

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

As palavras ficaram presas na garganta,
feito um charme, as letras formaram uma gargantilha,
seguradas por suas serifas, curvas e ganchos.
Fizeram um arranjo bonito,
nem uma palavra pelo ouvido, nem uma palavra pelo visto.
-Silêncio.
Nem é tão bom ser poeta,
melhor é ser poesia.

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

                                    Pai


            Saímos do ventre esperando suas mãos.
            Que nos mostre a paisagem.
             Na palavra paisagem mora o nome pai.
             De olhar ao longe.
             De olhar o horizonte.
             O pai diz:
            - Vai! Ganhe o mundo!
            -  Coragem!
             




domingo, 7 de agosto de 2016

Abraços longos,
promessas cumpridas.
Escapar de um perigo,
um alívio que rende
conversa com o invisível.
Contando a pulsação contente,
coração na garganta, 
que volta pro lugar devagar.
Onze batidas na madeira por minuto.
Sorte é pretexto de destino.
Bom mesmo é escapar do perigo,
cuja maior graça é coisa de Deus.
Um revés que se dá,
faça de conta que abre uma janela
numa casinha baixa.
Dessas que se dobram,
pesadas, de madeira.
O barulho da janela,
as dobradiças,
a textura.
O que se apresenta.
Na hora da noite,
na hora do dia.
Cheia de novidade.
Abra a janela,
que todo resto é bobagem.
As quintas, 
um quintal.

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Sete anos

Sete anos a mais e
 sete anos a menos,
saíram pra esquecer
feridas recentes.

Sete anos a menos abriu
um sorriso no metrô.
Sete anos a mais reparou
na beleza que viu meses atrás.

Sete anos a menos segurou
a mão de sete anos a mais
e andaram na rua mais bonita da cidade,
até entrarem numa lanchonete.
De lá foram dividir uma conta.
Sete anos a mais perdeu as contas
entre tantos rabiscos na pele de sete anos a menos.
Sete anos a menos se perdeu em curvas demais.
Juntos sopraram as feridas, riram, cantaram,
pra sentir um pouco de felicidade e menos tristeza nessa vida.
Sete anos a mais gostou demais de sete anos a menos.
Sete anos a menos nem lembra mais de sete anos a mais.
Há sete anos atrás.