sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Aqui de passagem, ouço uma expressão para se despedir pouco comum, que a globalização não conseguiu modificar. Desde que cheguei, ao me despedir ouço:
- Depois cê volta? Fiquei imaginando se no Cerrado teria um pássaro que cantasse assim: depois cê volta? Não tem, descobri. A passarada daqui, seus moradores andantes é que dizem ao se despedir: Depois você volta? Senti no caminho de ouvir, um lugar de passagem, quase os vi atravessando a cidade, levantando a poeira no casco da cavalaria, da boiada. Foi quando procurei o Célio, memória viva, o farmacêutico poeta, fraseador, para saber o que foi o lugar no passado, antes da cidade ter tanta saudade, antes de buscar nas buscas. Contou-me que a cidade em que eu vi a passagem, era caminho dos que iam atrás das pedras preciosas. Ao sair do café outro dia, a ouvir a moça dizer pela primeira vez "depois você volta?", respondi que sim, mas quantos voltam? Talvez há mais de 200 anos, tempo da formação da cidade, "depois você volta", deve ter nascido das querências de viver, amar o horizonte, buscar riquezas. Vez ou outra, alguém se apaixonava por alguém, pela estrada e resolvia ficar. Aqui entendi, o que seria pra mim a melhor expressão da saudade:
- Depois você volta? Eu digo:
- Eu volto sim! Respondo pra quem pergunta, sem perceber o tempo que ainda tenho aqui.

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