sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Cigarros e cigarras.
Praxedes, no começo da noite, na sacada, resmunga com o vizinho, enquanto fuma seu cigarrinho:
"As cigarras, Afonso. Na verdade, os cigarras. Eles queimam de calor.
E não precisa ser verão. Eles fazem campanha pra fazer amor." Enquanto traga e solta a fumaça, continua:
"Amor, não, Afonso! É sexo mesmo.
E durma com esse barulho todo!" Esmaga o cigarro no cinzeiro com força, como quem tenta furar a sacada, e solta sua despedida de fumaça:
"Boa noite, Afonso!" E fechando a janela num bate-bate, deixa falando sozinho o vizinho, como sempre:
"Boa noite, Praxedes..."
E o Afonso continua na sacada, pasmo, fumante passivo do vizinho, ouvindo as cigarras, os cigarros, e os passarinhos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário