sábado, 22 de agosto de 2015

A vida corre, voa, e eu tive essa percepção, no dia que andei de metrô pela primeira vez, aos cinco anos de idade, com meu avô, que parecia muito Santos Dumont, e chamava Alberto dos Santos, um poeta sonhador, do qual herdei a sandice de escrever. Lembro dele segurando as mãozinhas minhas e de meu primo, do tranco que deu a brecada, do borrado da paisagem, isso aconteceu na linha vermelha no Brás, e explica a paixão que tenho pela estação, pelo bairro, minha primeira referência de São Paulo, vinda do ABC. Até os 18 anos, o tempo passou lento como o trem, depois pegou o metrô, e aos 40 parece pegar um jatinho que nunca andei, tamanha velocidade. As imagens andam borradas pela miopia, mas carrego, assim como meu avô, enquanto pode, a juventude. A juventude no pensar. E assim me lembrei hoje do meu avô, que nunca envelheceu, e da música do Raul, que me ensinou na canção que é preferível ser a metamorfose ambulante, que corre, dá tranco e assegura o cheiro de novidade enquanto o cérebro ainda pode pensar. O dia que a velha opinião chegar, saberei que de fato envelheci, o trem vai parar na estação, e eu deixarei de ser poeta.

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