sexta-feira, 8 de maio de 2015

Casa 439

- Você ouviu o barulho?
- Sim, ouvi. É o pessoal que distribui
panfleto de dedetização. Deixaram outro, amassadinho na porta.
- Será que eles não percebem que a casa está abandonada? 
- Não percebem, nem os vizinhos, e a dona que passa chamando gente aqui, mais as cartas que chegam embaixo da porta. Esqueceu que já tivemos serenata dia desses?
- Não era serenata. Era um carro tocando aquela música que lembra demolição.
- E por falar em demolição, quando vai ser a nossa?
- Deve estar por perto, ouvi num celular,
que periga ser essa semana.
- Temos pouco tempo!
- Não entendo seu desespero! Sobrevivemos a falta de água e a peste da Dengue, duas dedetizações, um despejo, e dois incêndios!
- Eu tenho esperança que a casa seja tombada pela prefeitura! Nos papéis da gaveta do sótão que eu comecei a roer, junto com uns jornais velhos, encontrei a carteirinha escolar de um ex-morador ilustre, um tal prefeito campeão de obras, rei do piscinão, estradas e camburão. Não podem derrubar um lugar que ele viveu!
- Você andou mastigando ácido acetil salicílico, de novo?
- Como você sabe?
- Tem resto de comprimido no seu focinho! Foi na farmácia, né?

 E a gente precisando de batatas, francamente!

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