quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

As folhas cumprimentam a chuva.
O vento fez a gentileza.

Chove.
O fim do ano é um túnel comprido, cujos últimos minutos esperam aquela luz do dia sem saber se ainda faz Sol ou se já começou a chover.

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Dói, doa a quem doer a dor.
Que é sentimento solitário,
a não ser que toque em mais de um.
E mais de um, dói em quem doer a dor.

Uivo que se ouve ao longe, sacrifício em cada por e poro que a dor expulsa, a dor que pulsa, amolece, mergulha e puxa o sangue à seco, a dentro feito o mar.

E ainda assim é dor em flor, diferente em cada um que encosta e sente. Cutuca e ecoa, a dor a quem doa e passa quando deixa de latejar.

E silencia, sempre assim a dor quando alivia.

E a dor vai como a vida, que toca sem querer num sino de vento quando passa.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

domingo, 27 de dezembro de 2015

A gota reverbera,
em segundos se
espalha na terra
Finalmente eu venci minhas resistências e li o livrinho que merece ser lido aos pequenos goles. O Pequeno Príncipe é poético, mas melancólico demais para leitura infantil.

sábado, 26 de dezembro de 2015

Atendendo a pedidos, o Ano Novo deixou quase tudo pronto, só faltam as atitudes, as vontades, as oportunidades, hora certa e local certo entrarem num acordo. Informam que os pedidos dependem de tudo isso casar. Deus dá o aval, rezar pode ajudar, aliás, todo santo ajuda. A ajuda está intimamente nos itens acima. É bom lembrar, contar com o não que surge, antes de reclamar perto do fim do ano, como agora. Rezar pode ajudar a entender o porquê que não deu certo o querer.
O amor passado
fez promessas pro futuro,
mas foi tão assado no forno
 que ficou duro.

O amor passado,
amarrotado não
caiu bem,
possui vestes desfiadas
de desdém.

O amor futuro,
quer ser presente
 de antigamente,
 presente que não vai embora
e nunca é jogado fora pela gente.

Caso seja um amor passado,
descomprometido e persistente,
amassado e displicente,
 que tenha a humildade
de não prometer,
 mas de recomeçar.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Amor natalino,
presente deixado na meia fina, ou na de tanto uso furada no tênis de corrida.

Amor natalino tem cheiro de naftalina, nas caixas dos enfeites que enchem os olhos de lembrança.

Amor natalino tem olhos de criança.

Tem olhos de criança.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

O coral da cigarra anuncia a quenturia.
A nuvem leva cheiro dágua.

Previsão do verão que não acaba.
Os olhos azuis gostam
de traçados vermelhos.
Gostam até a raiz de seus pelos.

 Azul com vermelho deu roxo.

Um quadro bonito.
Que nem todo mundo aprecia
por ser muito expressivo.

Misturando tristeza e alegria
dizendo que amanhã
 pode ser outro dia.

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Repete até
Ficar de cor e salteado,

O amor.

Coração dando saltos

por onde for.
As palavras queimadas molharam na água, no decalque fizeram estrelas cadentes mergulhadas.

Faltou Luz pra enxergar as palavras.

 Museu sem alvará,
quem ficou vivo pode contar.
Rico é quem pode ver o nascer e o pôr de cada Sol, mesmo quando o Sol se esconde. Rico é quem pode acompanhar as fases da Lua, mesmo quando a Lua se esconde. Rico é quem a vida inventa.
O rio
Atravessei o Esquecimento,
já não era eu quem estava vendo.
Atravessei a Lembrança,
vi homens, mulheres, velhos e crianças.
Atravessei a Esperança, 
carregada de futuros inomináveis,
 previsíveis, alcançáveis.

Atravessei.
Um museu queima o que a gente leva no coração. Não são só palavras, não.

domingo, 20 de dezembro de 2015

Uma borboleta amarela
na mata verde é
a pátria ardente da gente.
"O céu caiu lá em cima."

O primeiro haicai da minha sobrinha.
Foi um ano comprido, parecia que dobrava a cada esquina, aumentava em cada palavra. Foi um ano decisivo, demarcado como todos desde o primeiro dia nascido. Foi um ano que teve metas,  decepções em réguas, teve tragédias e esperanças tantas que se juntar num calendário que a gente conta ou risca todo dia, mais do que um enfeite de papel pendurado, foi de olhos fechados como a vida, um ano que fez e foi poesia.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Dama
da
noite
Numa noite como esta,
roubou o perfume de quem passava,
que passou a noite com quase nada.
Fabíola, não tem como chegar minha mensagem, mas envio um pensamento de paz, acredito que seja tudo que você precisa agora. Jesus nos advertiu sobre atirar a primeira pedra, nós não aprendemos, continuamos implacáveis em apontar o dedo, seja por coisas mal resolvidas, preconceito e a simples vontade de recriminar uma mulher de forma mais pesarosa do que os homens. Ainda não somos como nossos pais, retrocedemos dois mil anos e as pedras são atiradas via rede social.

Que você se fortaleça e possa respirar, é tudo que eu desejo agora.
De repente me vejo ali
esperando você.
Eu estou tão feliz,
bem antes de você me ver.

Você aparece com uma caixa
de delícias, um bouquet
de intenções vermelhas
que se espelham na minha face.

O abraço acontece depois do beijo.
Enxergo desejos.
Atrasado o ponteiro desaponta,
recolhe sem delongas, monta
no cavalo e tenta alcançar
o coração no disparo.

Não alcança, a cabeça balança.

Sem tempo e destempero,
a comida queima, o carro
atrasa, o cabelo não seca,
a seta não acerta.

O ponteiro em desespero quebra,
em algum lugar do mundo dará tempo
de chegar, para o relógio parar na hora certa.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Eduardo Galeano,
me enche de lágrimas,
como se estivesse vivo,
em seu livro,
em suas páginas.
A paixão passa, fica bem passada,
ao dente, digestiva para a alegria dos presentes.
É difícil conversar com apaixonados,
por momentos
ficam avoados, ausentes, repetimos
palavra por palavra e não entendem!
Poetas são apaixonados sempre,
feliz, ou infelizmente!
Somos a Lua de Ontem,
o Sol do amanhã.
Somos o meio dos dias
que respondem.
Como um dia feliz,
pode ter sido pela manhã
proferido por
São Francisco de Assis.
Sobre todas as estrelas
nossas irmãs.
O início do livro é a oportunidade de levar, deitar os olhos para acordar até o fim das páginas. Lendo o início do livro de contos do Eduardo Galeano, "O livro dos abraços". Foi o conto "O mundo", que me pediu para ler o livro.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

É tão impreciso,
parece,
desaparecido,
e quase ninguém
percebe o exibido.
É o amor.
Estes ossos que crescem, esta pele que estica e depois envelhece. O ser de dentro aqui não fica. Volta a ossos que crescem, pele que estica e envelhece. O ser de dentro é infinito.
Engordou? Nada de se comparar em revistas, imagens da mídia. Vá buscar imagens renascentistas.
Dia bom
a pomba é mensageira,
dia ruim
é rato que voa de bobeira.
Foi um dia grandioso por você ter feito parte dele.
Aranha
tece suas linhas
em tramas descontínuas.
Apaixonada e distraída.
A presa cai em sua lábia
por obra do destino.
A aranha
e sua conquista em desatino.
A teia é sua deixa,
queixa e gueixa.
Mosca que bate no vidro,
duvido que aguente.
Mosca aguenta menos do que gente.
Se tem fome não pede, cai de boca
e vira lanche de gente distraída.
Na boca do estômago,
mosca morre, não tem vidro,
não tem sopa.
Tem alguém com fome de mosca.

sábado, 12 de dezembro de 2015

A sanfona desafinada, estridente
dedilhada, lembra a vida que se sente.
Bem tocada, a descuidada,
tem cheiro de festa
todo sempre.
É um barulho de circo,
um cisco no olho
a lembrar de toda gente.
Acabo de ouvir uma definição de gostar de alguém, pode ser que o verso seja dele mesmo, o poeta andarilho Tuíca:
Quem sabe, eu deixo de gostar de mim
para gostar de nós dois.
Viver em sociedade, é arsenal para a tal felicidade.
Felicidade é um Estado de um País, que faz fronteira com a Tristeza.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Este vento venta,
e nem nota as notas,
da sinfonia que assimila
as gotas da chuva que
tremem os gravetos atrevidos
que cintilam.
Sopro, percussão e cordas.
O silêncio é ouro,
foi só o vozerio abrir a boca 
que a serra ficou pelada.
Só em solidão
é que se preza
o quanto reza a amizade.
Conversando com Deus ao cair da tarde.
Abra os braços e faça
um horizonte.
Nada que seja fácil,
o povo tem mania do difícil.
Ao invés de conversar
prefere disparar um míssil.
Gosto de olhar
os olhos que se olham
na casa dos vinte,
gosto de ver como se casam,
corajosos olhos ouvintes
que se embriagam.
Eu faço votos que os votos voltem para as mãos devotas e reconhecendo o merecedor de tal confiança, que essa não tem volta, que as promessas se cumpram, e que as promessas descumpridas e compridas, ao menos sejam caminho de soluções. Faço votos mais do que imposições. Neste momento da história faço orações.
Este vento venta,
e nem nota as notas,
da sinfonia que assimila
as gotas da chuva que
tremem os gravetos atrevidos
que cintilam.
Sopro, percussão e cordas.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Nada que seja fácil,
o povo tem mania do difícil.
Ao invés de conversar
 prefere disparar um míssil.

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Mariposa, no breu das asas, 
fugiu da teia, na fuga,
saiu iluminada.
Ele, que tem medo, teve uma mulher grandiosa.
Ela, que não usou de violência, dominou com sua essência,
é dadivosa.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

O olho fita, desembrulha histórias.
Me perco em lagri-minhas.
E as pétalas secas renascem nágua, o caule acredita e levanta. 
Assim parece a esperança. O Sol tendo compaixão pela planta.
Para inspiração que teima em chegar.
respiração
boca
a
boca.
O horizonte
 torna as coisas pequenas,
que ao chegar se engrandece.

A distância temporária é melhor do que parece. Deixa o mundo do tamanho real, como a gente merece.

domingo, 6 de dezembro de 2015

Eu acionei "eu não gosto de você". O aplicativo é muito fácil de usar. Ele contradiz todas as coisas ditas bonitas, para a pessoa que se aplica. Precisei usar, pois eu sou mais fácil de gostar, o aplicativo que eu uso tem defeito. Este dispositivo de não gostar, descobri é de mentira, acabei de encontrar falhas, ainda gosto de você.

sábado, 5 de dezembro de 2015

Prezada,

Uma mulher
que se reze,
possuidora
 de uma flâmula
que dança nos corpos viventes

entregue a tantos e a tantas
posto que é chama,

entregue a condição
de cair
como as folhas na imensidão
dos lábios da rua,
sábios que vencem
 toda resistência
de suas fendas.
O poema que se faz
antes de chegar
é ansioso,
espera a prosa pra entrar
e depois é obrigado a ficar em silêncio
pra saber se fez
poesia.

Ele é poeta

Ele é poeta, tem uma seta que aponta
para este defeito, no meio do peito
que é afeito a tantas coisas boas.
Ele faz poesia, essa coisa tola 
que tira o ar dos desavisados.
Não me admira não assumir esse feito.
É constrangedor fazer isso com as pessoas,
desse jeito.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Esvoaça os papéis na praça,
Estou em Alcobaça a falar
o mesmo português.

Saudade de vocês.

(Alcobaça pode ser na Bahia,
estou no Brasil, em qualquer sítio
daqui.)
O mal existe, mas dar-lhe atenção e "o devido valor", deixa o bem esquecido, e o bem é tudo que se quer. Quando valoramos as ocorrências ruins, fica claro que estamos cismados e adoecendo pelos problemas que surgem.
Fiz um teste com a melancolia,
revisitei coisas antigas.
Elas me abraçaram, dançamos até o raiar do dia.
Brindamos a vida.
Tristeza nem aí comigo.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Abrir mão é flutuar no mar sem ondas e ser resgatado por um barco de salga-vidas.
Esta casa é sábia,
é feita de muitas palavras,
que se apagam a cada retirada,
a cada saída.

A casa fica apagada.
Cheia de predicados sem sentidos,
assim como ficam

os vazios.
Quero ser a palhaça
 das minhas beiras,
da loucura faceira
 que faz rir o transeunte

que chega.

Quero estar por perto do riso
do susto, que mesmo
 assombrando

 ri junto.

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

 Onde não teve conversa, o ódio começa e a guerra
se instala. Para desarmar o ódio, precisa muito abraço forçado,
até o abraço virar abraço.
A neblina dirige os olhos para chegar
em algum lugar, que como tal
 pede a direção, a fé e o farol,
sem o qual 
não se chega 
ao FIM.
E os dias que vivi
respiram aqui e ali.
Os sonhos se despiram.
Nem percebi.
Pode ser que estejam ao lado
vestidos de realidade.

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Sinto falta do Bem-te-vi,
sabe lá onde foi parar,
procurei e não ouvi.
    Ele é uma canção dos Beatles, que remete ao passado e ao futuro.
    Quando o conheci, besouros tocaram no meu coração, deu vontade de rir das cócegas do vão que fica depois que o amor morde você dentro de um vagão do metrô. A gente falava de horizonte, ninguém falava sério. Dezesseis anos. Passou num piscar de olhos. Ele era a canção mais bonita dos Beatles. Ele parecia o Paul, eu sonhava com o John, mas um dia gostei dele e os besouros vieram hoje me lembrar.
E se eu disser que a dor que se vê por aí
É a dor de vivir.

Em outra língua
A gente parece outro existir.

se o poeta fingiu na mesma língua
É bobagem o que eu disse acima,
tem a mesma dor

na altura do braço a íngua,
O mesmo Lácio

embaixo do equador.

domingo, 29 de novembro de 2015

Samba do desencanto
Nunca desejei que me amasse,
sem amar, amassou-me por dentro.
Marmoraria de sentimentos,
rompimentos nas batidas do vento,
três toques na madeira,
toque,
toque,
toque.
O desencanto foi feito,
sentimento em cada canto
dos lugares que você veio.
Passou, você ficou mais bonito do que feio.
Humanizado em tempestade de carrara,
espero que venha um amor
com a sua cara.
E quando poeta pensa
 ler algo que nunca foi dito,
 o silêncio da ilusão
toma todas as contas.

E num arroubo iludido,
alimentar-se das palavras soltas.

É certo que quase tudo foi dito,
mas a nova demão
 sempre nos assombra.

Não é ciúmes o que nos toma,
é paixão pelas palavras grafadas
em outras mãos.

É desejo de apertá-las então.

sábado, 28 de novembro de 2015

A mata quase atlântica antes da chuva oceânica, perto da serra mecânica.
Portão, garagem, árvore, jardim, portão, portão, bar, garagem, garagem, igreja, portão, garagem, portão, portão, portão, garagem, portão, portão, portão.
Barracão.
Chegamos.

ainda querendo ser
pra o que a gente serve, 

muito ainda a aprender
nessa vida breve.

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Maquilagem
Aos olhos tristes, ficou combinado que começaria a pintá-los, existe beleza como são, mas cansa responder pelo inchaço, quem nasce com os olhos rasgados que intentam em descer um bocado, um kajal, um delineador são obrigados a entreter, a entre-ter.
A siesta deveria ser obrigatória,
uma hora pra dormir,
depois do almoço
seria a glória.
Nada de café para acordar,
apenas um pouco de água
nos pulsos, nas mãos, na boca
e na cara.
Siesta, sonho de consumo,
quem sabe um dia o mundo
muda o rumo?

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Eu vi a morte nos olhos,

muerte? suerte?

Eu cumprimentei.

Eu chorei.

Ela foi embora.

Não era hora.

Veio pra refrescar a memória.

Depois esqueci do compromisso,
todo mundo faz isso.

A morte não é só despedida
pra quem fica.

É a vida à deriva
esperando o bote
de salva-vidas.
Eu risquei na parede o nome que não dorme. Era de um homem que não conheço. Não sei seu fim, nem seu começo. Não sei o timbre da voz, não conheço seu cheiro. Não sei da pele a cor, nem o cabelo. Ele parece que existe, a partir do instante em que conhecê-lo. Antes é um novelo, uma calça andante, um sapato galopante nas calçadas das casas, um homem com asas tão fortes, que por sorte faz desmaiar as menos avisadas. É humano, erra, sonha, berra e em algum lugar da história me ama.
O dia coberto de razão,
deixou o Sol de lado.
Vai dormir de conchinha com o vento.

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

A licença poética
concede a dança?

Ela criança
a lutar de esgrima
 contra as implicâncias.

Vai deixar
a língua burra
falar com a culta,
e juntas terminarem
 a dança.
Mauá amo,

que mal há
quando passo
e não fico,
mas volto
pelo carinho?
Dance dance dance
em português
e inglês.

É nóis, ciamo noi em paulistês
Eu me queixei da tristeza,

fiquei com o queixo caído,

Reclamei da tristeza,

a mandíbula ficou dolorida.

Não entendi a tristeza 

o ouvido que ouvia ficou doído .
a tristeza ficou sentida,

onde já se viu deixar de fazer poesia
Sem ela?
é nela que se esconde a tal felicidade.

terça-feira, 24 de novembro de 2015

O Sol que tentava beijar a Lua,
vaporizou vontade na boca,
deu um friozinho na coluna do céu.
Desceu
neblina.

domingo, 22 de novembro de 2015

Amar as pessoas
sem tê-las
sem vê-las

 entregar as imagens
e assim fazê-las
 e assim fazê-las.

O olho acolhe o que o amor recolhe,

 e santifica no peito
no olho direito
no olho esquerdo.

Envesgo na visão que não tenho,
mas sem os olhos,

Cerrados

 imagino
o que seja.

O que não vejo
o que não conheço
 o que se deseja.

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Para A L que gosta tanto de aviões

Ave
que não sabe
 voar,

aves não
deixam partir.

sabendo
 da quebra
que leva o existir

E assim reserva o que não sabe subir,
não sabe descer.

Para aves que andam na Terra.

(a casca do ovo em
 conserva)

E a nave
que voa
no automático

Naves que partem os olhos que não alcançam
o mundo estático

a sumir

ao saber-se despedida


preservam

naves que dão voltas na Terra

Que esperam às avessas

depois de

tantas esperas
a esfera

da esperança


quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Histórias num vento de motor suspenso,


As hélices que cortam o vento
 instrumentos
a dilacerar
o pulso do tempo.

O sentimento
é instrumento.

A sentir a semelhança
apenas quando puxa pelo cordão,
muito rente
na altura do umbigo
adoecido,
parecido com a gente.

O humano,
este desconhecido.

como
Sempre.

sábado, 31 de outubro de 2015

Saci,
eu vi você!

Pra mim você
era o redemoinho.

E eu, tão pequenino
lhe vi.

Saci.

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

O coração é a região do inesperado.
Assim dizia Machado.
Se o inesperado for demais,
ele para, para ver o mundo que
dispara.

Se o esperado for menos
do que se espera.
Esperança perversa.
Se o esperado for a contento,
parado é invento de uma batida
rara. Um coração que não para.
Como você vai sem mim?
A você todo meu respeito.
Lembro da gente sentado
no jardim, não teve jeito.
Entrei em contato
pra saber se assim,
faria efeito,
vou buscar a blusa
que deixei, mas só
vou buscar se tiver beijo.
Vai me dizer que nunca
usou de um bom pretexto,
para voltar a morar dentro
do meu peito.
Nós dois somos assim,
não tem jeito,
uma hora ou outra
esquecemos alguma coisa,
quando você perder a cabeça,
e eu perder o coração,
desse dia não passa,
quando esse dia chegar a gente casa.
Aqui de passagem, ouço uma expressão para se despedir pouco comum, que a globalização não conseguiu modificar. Desde que cheguei, ao me despedir ouço:
- Depois cê volta? Fiquei imaginando se no Cerrado teria um pássaro que cantasse assim: depois cê volta? Não tem, descobri. A passarada daqui, seus moradores andantes é que dizem ao se despedir: Depois você volta? Senti no caminho de ouvir, um lugar de passagem, quase os vi atravessando a cidade, levantando a poeira no casco da cavalaria, da boiada. Foi quando procurei o Célio, memória viva, o farmacêutico poeta, fraseador, para saber o que foi o lugar no passado, antes da cidade ter tanta saudade, antes de buscar nas buscas. Contou-me que a cidade em que eu vi a passagem, era caminho dos que iam atrás das pedras preciosas. Ao sair do café outro dia, a ouvir a moça dizer pela primeira vez "depois você volta?", respondi que sim, mas quantos voltam? Talvez há mais de 200 anos, tempo da formação da cidade, "depois você volta", deve ter nascido das querências de viver, amar o horizonte, buscar riquezas. Vez ou outra, alguém se apaixonava por alguém, pela estrada e resolvia ficar. Aqui entendi, o que seria pra mim a melhor expressão da saudade:
- Depois você volta? Eu digo:
- Eu volto sim! Respondo pra quem pergunta, sem perceber o tempo que ainda tenho aqui.

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Até que tudo molhe,
o azul se recolhe.
Até que o Sol se intrometa
e o arco-íris não se esqueça.
Que a terra precisa molhar.
O tempo parou na minha porta,
ele veio dentro de um Fusca,
quando ele saiu, já era tarde.
Era uma vez o silêncio.
O barulho chegou e pediu a palavra.
O silêncio prosseguiu mudo,
disse com as mãos,
que o barulho da fala
não sabe nada,

que o silêncio sabe tudo.
Que se o barulho da fala
disser tudo,
nada mais será dito.
E o silêncio povoará o universo.
É assim que em Marte o silêncio
reina absoluto,
frente e verso.
A gente não pode querer que as pessoas nos conheçam como na verdade somos.

Conhecer é compromisso para uma vida inteira,
então tem quem nos conheça, apenas conheça.

sábado, 24 de outubro de 2015

Quero-quero sanfoneia,
antes que a chuva chega.
E o amor amoreia,
amorifica, amortece,
amolece.
Amor, vê se aparece?
Inda não te conheci,
acho que é pra má disso
que eu sobrevivi.


Vou cuidar das galinhas,
pega mar
 caipira falar
sozinho poesia.
A terra seca chacoalha quando a água deságua. O vento arrevolta e solta um gargalhar de fazer voar tudo. Um queimado cinza a espalhar na terra cobre. Falta árvore no serrado. Chuva é festa é o pouco que me resta faz feriado. Cobra, ave, gado, tempo, verbo em cruz, saudade de ver a igreja pontuda, lá no fundo, no bairro que pede ajuda, a malhação do Judas, desde os tempos de Jesus.
Equação
Quantos virtuais
de nós
nos tornamos reais,
e quantos reais
de nós
desvirtuamos?

Real e virtual andam no mesmo plano.

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

O Estado é laico com razão, mas meu coração é cheio de fé:
Pedi para a Nossa Senhora dos Poetas,
que nunca nos faltem palavras,
e que não fiquemos
nas promessas.
Gostar das pessoas até perder o sabor
e perceber a alma, que da matéria pouco
importa, pele logo expele e vira coisa morta.
A vida tem um jeito elegante
de andar formiguinha
em passo de elefante.
a terra manchada onde piso
Essas marcas.
A secura que
beija os pés imprecisos
de solado mal acostumado.

Esse descalçar
tão inesperado.
Que passa sem pensar em nada.
Folha acostumada
coas virada que a vida dá.
Venta sem parada,
corre na enxurrada
Folha nágua
que serventia
esvazia de ser?
A natureza é brava
mas sábia sabe
cumprir palavra,
o que
vai de mim
folha solta,
o que há de fazer?
Acreditar em partidos e pessoas tem um quê de religião, tem que ter fé.
Não venha me dizer que não.
Tem que ter amor.
Não venha me dizer que não.
E quando rompe é um divórcio doloroso.
Não venha me dizer que não.
O brasileiro é um povo afetuoso.
Falar de um ex amor dói.
Ateu também sente dor.
Tenhamos compaixão.
Por todos nós então.

Não venha me dizer que não.

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

As cartas que eu escrevi pra você,
usei da literatura para aquecer,
para a letra dura,
minha e sua
amolecer.
Gostar das pessoas até perder o sabor
e perceber a alma, que da matéria pouco
importa, pele logo expele e vira coisa morta.
Mãe é poeta de parto natural.
Poesias nascem todo dia.

domingo, 18 de outubro de 2015


Se despede das pessoas,
mas vez ou outra, pessoas
não se despem das roupas
que usaram no dia de se despedir.
Elas ficam empregadas na memória das importâncias.
As pessoas querem ficar na memória de ir embora,
num disco rígido, acreditando serem protagonistas
de vidas despedidas.
Esperam cruzar o caminho
pra dizer o que não foi despedido.
Melhor seria acreditar na vida
tão mais criativa que a ficção
pra se empregar de toda despedida.
Bastaria para as pessoas que
foram importantes em nossas vidas,
não serem despedidas.
Imagine o congestionamento previsto?
Despedir-se é empregar o destino
que precisa trabalhar por outros caminhos.

sábado, 17 de outubro de 2015

nuvem amarelada,
céu antigo
na porta de casa.
Menino acha que é dono
da rua, deixa mãe
em desassossego
empinando a Lua.

Puxa um fio sem
cortante,
desvia das estrelas
com barbante.
Descansa na calçada.
A mãe grita:
- Já pra casa!

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

O amor é quem melhor ensina a fazer resumo, você passa a vida tentando entender, ou tem a sorte de encontrar antes e quando aparece tudo que era complicado, se condensa e simplifica. Quem não encontra o amor, seja em alguma pessoa, ou ser, ou ideal, fica perdido, espalhado, com um monte de textos picados pra ler, sem saber por onde começar o aprendizado. Sem saber amar, sem feitio, sem o riscado. O autoamor, é quem nos livra de todo mal, de ser mal amado.
Primavera severina,
quem sabe me banho
no São Francisco.
Pra me vestir de Rosa,
vou num vestido bem bonito,
repito a flor da cor no cabelo.

Levo meu Brasil
comigo, pendurado
num laço comprido.
Quem sabe eu começo
uma prosa.
Vou me vestir de Rosa.

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

O asfalto trincado, calçadas batidas de cimento, com bordas de pedra pra lembrar do que foi o tempo. A porta está aberta, a janela uma fresta que entra um cadinho de vento. É noite, a cidade dorme deitada no café que sobrevoa os telhados e muros altos de outras casas. Eu olho aquela, enquanto abertas estão as janelas, tela azul que cintila uma seriedade que não cabe. Estão sentados no sofá de couro de mentira. Corujas acompanham o fechar da porta insone. Na casa um casal jovem que não dorme.

palhaço cansado

A um palhaço, cansado,
retirante
de sua máscara
após tanto pular de alegria triste.
Perguntas que o espelho insiste
pra não levar-se tão à sério.

Disse não existir mistério.
Apenas esquecer um pouco
do rosto, do dinheiro
da voz,
e do corpo.
E entrar no picadeiro.

terça-feira, 13 de outubro de 2015

A congada na estrada
a abaular o coração.
Pele escura da enxada,
vaquejada
plantação.

Passar as terras e as marés.
Sem a senzala
nos pés.
O estandarte pela fé
segue em procissão,
a fé recolhe na maré
devolve peixe em pão.

sábado, 10 de outubro de 2015

Muitos lugares das Gerais
 continuam os mesmos.

Mesmo que não seja o mesmo
país, sinto o mesmo cheiro
de felicidade na raiz.

O mesmo arvorear

O Brasil de Minas,
Quantas Gerais
em cada Brasil da esquina?

Quantas centrais,
litorais?
Quanto ouro a se derramar na estrada,
depois que tiraram o nosso trem?

Militares sinas,
que aqui ainda não combina.

Democracia não
pegou direito o trem.

Ainda somos crianças,
e nas Gerais senti a esperança
que café com leite não tem.

O Brasil é de muitos pedacinhos,
negros, brancos, europeus, árabes,
asiáticos e índios.

Estados distintos
de sentimento
recolhido.

Há que se juntar
 pra melhorar
o ais.
Quero-quero grita tanto
no Cerrado.
Quero-quero é recado.
O calor deixa o dia em banho Maria.
O vaga-lume vaga no quarto
na esperança de ser encontrado,
mas o olho fecha
e ele apaga
em desencanto.

Há que se abrir
o olho ao amor,

Quantos vagam
nos quartos
e não se acham?
Viajar parece que provoca um deslocamento no cérebro. Você fica em terceira pessoa e a primeira observa a terra, o planeta. Quando a viagem termina as pessoas se encontram com a segunda pessoa e a trindade nos
ressuscita.
As cigarras
foram pagas pra lembrar
que o calor não apaga o amor.
O calor frita,
 Com água fruta,
 a boca saborosa,

 Vento da tarde,
 sopra água
 de rosas.

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

ama a solidão,
antes da paixão,

até acostumar com ela.

A solidão acompanha o coração
e passeia até que apanha
pelo ar.

Como quem se enrosca a uma joia
ao cair no mar,
arrastada a uma arca.

Paixão é rarefeita,
vulgar de pregar peças,
mas melhora quando passa.

E embarca.
Grande é quem divide,
e ao dividir multiplica.

E ao multiplicar
aumenta as chances
de se viver melhor.

E ao dividir diminui
a arrogância da vida.

Não é matemática,
é metafísica.

terça-feira, 6 de outubro de 2015

Inspirado numa parte do documentário Favela: A Vida na Pobreza, da alemã Christa Gottmann, sobre a escritora Carolina Maria de Jesus. Muito do que escrevi desde sábado, saiu do sentimento que tive deste doc. Vale lembrar que este doc é de 1971, quando o termo comunidade não existia e o que se mostra no filme é algo que muito se vê hoje em lugares que não conhecem ainda, ou estão longe do termo comunidade.
A inveja atrapalha mais quem não tem nada,
quem tem muito e tem inveja de quem não tem nada
se diverte,
usa um palito comprido
para restelar o bicho,
coisa que ninguém descobre.
A inveja mata de verdade
quem é pobre.
Inveja é fome.

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

A ideia de partir reparte o mundo,
pangeia todo segundo,
do que junta parte e quebra,
 vai criando um submundo
na terra, no peito,
no leito do rio,
verte leite de planta pedra
tanta esperança de mar
de quem vive na
margem.

 partir de dor
ir e vir
de amor
é coragem.

A cada pedrada
um verso
uma flor
um lamento.

Com pedra dá pra fazer
casa, cobrir caminho de água,
lapidar e polir sentimento.

A sofreguidão que vale o verso,
empedrada na calçada em relevo.

Acho bonito,
o dito pelo
não dito.
Isso é início
do
Silêncio.

domingo, 4 de outubro de 2015

A vida tem um jeito simples de surpreender,
as histórias se repetem até a gente aprender.
E ao aprender, as histórias mudam,
e é assim que os problemas
tornam-se páginas viradas.
E surgem novas histórias.
até o fim das páginas.
Vou pisar no chão
da estrada,
raspar asfalto
e voar no céu,
vou descer num salto
e sustentar no léu.
Vou pisar em terras
de histórias explosivas,
vou me aninhar no
solo, buscar na sola
do pé pepitas,
no colo de Minas.
O duro na vida
não é precisar
provar
quem se é,
é precisar passar
pela prova.
E quem nos aprova
não anda a pé.
E nos aprova
como se é.
Prova não falta,
nos falta a fé
que nos prova.

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

O pássaro que canta, apresentado
o nome, é sabido o pássaro.
Desconhecido, é piado.
Admirou
e a admiração
acertou
com um estilingue.
Pássaro
não desiste.
Que um canto
sempre se ouve.
E o admirado
correu assustado,
com um pássaro
que cantava ao longe.
O dia que escrevo mais
andei menos,
falei menos, li menos,
corri menos.
Eu parei pra escrever
a vida, mas ela sempre
me cobra uma volta.
E se consegui escrever
tudo que eu queria
dizer, me despeço,
e noutro dia recomeço.
e vou viver,
tudo outra vez.
É quase manhã.
Desdenho o sonho
desenhando a vida
em abandono,
e ela me segue,
sem que eu queira
rabiscada no muro.
Linhas faceiras
das mãos
que cumprimenta.
E ela me aperta,
E foge, como
uma criança
esperta
Quem não é carente,
quem não sente
a falta de nada?
A falta quem não sente,
de água, de comida,
de casa, de gente?
a cada subida
uma carência
atendida.
que a cada escalada,
não me esqueça de nada,
pelo amor, que me esqueci,
que ao suprir,
não seja uma tomada
ligada
pelo egoísmo.
Quero ser carente
de algo sempre.
E se um dia estiver
preenchida,
esvazio a mochila,
e sigo em frente.
Carente.

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Tem um pé frio,
embaixo do sapato.
É o primeiro que
sente a mudança
do tempo, e pede
pra levar casaco.
Um pé
que sente frio
nos braços,
que se não tiver
casaco, pede
pra ganhar abraço.
Se a ideia muda,
planta, silencia
até crescer 
plantinha.
Acredito que o tempo responde todas as dúvidas, só espero ter na velhice
o privilégio da memória para me acompanhar. Na dúvida, sigo escrevendo. 
Nos textos levamos signos, museus a céu aberto. 
Nas palavras, tentativas de descobrir o universo.

terça-feira, 29 de setembro de 2015

No fundo,
 gostaria
que alguém
me versasse.

E num empuxo,
me devolvesse.

Para a superfície.
A sincronicidade, a simultaneidade é a prova que estamos sintonizados por um rádio. 
Cabe descobrir, em qual estação.
Papai do céu,
hoje eu entendi o que é
repetir de ano de verdade.
Repetir de ano é cair nos mesmos erros,
o que parece, não deixa eu crescer.
Se isso acontecer,
que eu saiba levantar dos erros,
me perdoar,
e não colocar a culpa
nos outros. Hoje quando eu cai do skate,
meu pai me explicou isso.
Se eu repetir de vida,
que eu acho que é repetir de ano,
que ao dormir eu possa nos sonhos
me encher de esperança,
retomar minhas lições
de casa. Se eu tiver pesadelo,
conseguir acordar e voltar
pro sonho. Eu já consegui
fazer isso, meus amigos
não acreditaram. Eu só
me belisco e acordo.
Que eu não me esqueça
do pai nosso das pessoas.
Mamãe disse que é feio,
andar na rua comendo
e não oferecer pra quem
passa. Se meu estômago
roncar na rua,
eu prefiro sentir fome
e deixar o pão na lancheira,
até aprender e poder
dividir.
Na escola eu consigo fazer
isso com meus coleguinhas,
espero fazer na rua, quando
tiver mais lanche.
Se eu repetir de ano, tudo bem,
pensando bem, dá pra
consertar, entendi que sim,
está escrito no pai nosso,
que eu ainda não decorei.
Tudo bem?
Vou terminar minha oração,
já está grande, eu sei. Só
falta uma coisinha.
Dizer Amém.
É só precisar,
pra saber se precisa.
Sem saber,
é difícil tomar a direção.
Liberdade tem um preço então.

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Degustação
Estou de olhos fechados,
mas estou vendo,
sinto um gosto de coentro,
um cheiro amoroso,
um corpo no intento,
dançando gostoso
por dentro.
Dona Lua ficou vermelha.
Dona lua saiu, correram para o quarto as luas, nova, crescente,
cheia e minguante. 
Elas fizeram festa, dançaram juntas até escurecer e bagunçaram o quarto.
Dona lua chegou em casa, as luas estavam dormindo.
Dona Lua viu o quarto e ficou vermelha de raiva.
Deu um eclipse nela.
As luas bagunceiras ficaram de castigo.
As pupilas pularam
sozinhas,
juntas formaram
uma reta, 
e sem elas,
um ponto cego,
onde tudo começa.
Guardaram os acentos,
palavras que iam sentar,
perderam o lugar.
A cor de dentro,
preto, a cor de fora,
manto, cinza,
o céu derrama
água, tinta,
grama verde,
vermelho do
meu sangue,
mangue,
vida estanque.
Amarelo,
elo.
Leminski.
Eu fiz pro Kandinsky.
Domingo,
indo e vindo,
vejo índio
nas estações,
nos nomes,
sem nações,
de um
Brasil tão onde,
tão longe
que se esconde
em plantações,
nos gados,
minerações,
hidrelétricas
intenção
de choque,
povo do centro
do sul e do norte,
Cafuzos, conflitos
dos aflitos,
brancos, pardos
proibidos.
E a natureza
que se cansa,
aquece o peito
na criança,
e reza pelos
homens que
não nasceram
ribeiros.
Um amor contrariado,
ao contrário,
é órgão
exposto,
tem teclas
pretas e brancas,
embaixo das ancas,
tudo se confunde,
é a mesma bacia.
Homem mulher,
não importa.
Contrariado,
ao contrário,
amor é carne exposta.
Ao contrariado,
para quem possa,
abraça, acalenta,
acarinha na prosa,
que a pele permeia
e se dobra.
Um elogio sincero,
é um beijo
no ouvido.
Quem deixa beijar,
ganha um arrepio.
Um elogio sincero
pede um coração
limpo, no peito.
Se estiver pesado,
não bate direito.
Elogio bonito, não
entra no ouvido,
não ouve direito,
sai chorando,
contrariado,
vai embora
correndo.
as cores de Kandinsky
podem ser
vistas
com os olhos de dentro.
Mooca, estação que teve cheiro de cevada, café e bolacha. Hoje tem memória.
Quando a gente
se afasta de alguém
que não está bem,
o bem se afasta
da gente também.
A tucanada passa em revoada,
quero-quero, sozinho,
desesperado.
A Mata Atlântica
pelada de Rodoanel.
Nem a chuva impede
o tráfego
áureo no céu.

sábado, 26 de setembro de 2015

Todo encontro é pra sempre talvez.
Para a amizade dos escritos e escritores,
Mia Couto e Agualusa.

Mia
Lusia
quando Água
desaguava,
e como ria!
Lá fora chovia,
e a plateia
babava.
Cada história
contada.
Tristeza
poesia.
Amizade
na mesa
dividida.
Muita risada.
Lusofonia,
Brasileirada,
Amantes brasilis,
dos livros,
Amigos
incríveis,
brancos de letras
pretas
Da África
fantástica.
Há vagas entre os vagões.
Casas nas estações


sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Eu já fiz coisas,
que não faço por mim,
então parei pra ver 
onde errei, 
e percebi que
não podia mudar,
a não ser a visão
do que é
realmente
ajuda.
Nem muito o céu,
nem muito a Terra.
Um prato de comida
pode ser um ecossistema.

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Quero que faça vento,
nesta tarde,
e que a chuva caia
sem raio.
Quero ouvir
uma canção
a confirmar
a previsão
no rádio.
Chuva aos cântaros.
Sem as duas mãos
é usar os pés.
Sem os pés e mãos,
é o que tu
és.
Mente coração,
coração e mente.
Depois de algumas tentativas
de plantar gentilezas,
elas vingaram.
Modificaram o planeta.
a madrugada,
trabalha
olhando por dentro.
Falando por dentro,
respirando por dentro.
O mundo fica por fora
do movimento.
De quem trabalha hora adentro.
que as flores toquem,
quem não ouve.
Deixar de gostar
e ver um horizonte
ficar antigo e ver o bonito desbotar.
E de pensar que era tão colorido,
que só faltava respirar.
Deixar de gostar é esquisito.
encontrar
o horizonte
que ainda é bonito.
Sem sentir saudade

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Céu de algodão doce,
no palito vai o azul e o rosa.
O palito de algodão branco
foi embora.
Se gostam,
e por não saber usar
o porquê se perdem.
Poema enfrenta problema sem solução:
- São tantos amores que me dão,
que não sei mais quantos eus,
nem quantos são.
Eu não vou mentir
tudo que escrevo
tem um relevo,
lavas que levantam
da pele e formam
placas
tectônicas,
os sentimentos
rompem
formam
continentes,
montes,
cordilheiras.
A terra
com povo
pisando nela
é a pulsação
do meu mundo.