domingo, 23 de novembro de 2014

Menino sem cabeça

 A lanterna vermelha do carro que foi na frente,
deixou um rastro na faixa de pedestre.
Logo em seguida,
do lado esquerdo,
vejo uma luz verde
cobrindo
a noite,
farol aberto,
o carro Palio prata para,
menino descoberto
encosta na porta,
suas mãos escorrem,
os dedos na janela chovem.
Vestindo roupas
claras na pele quase escura,
ele encolhe,
mas estica a bermuda,
as meias, e os tênis dos pés
para ficar maior do que é,
e fica.
Esconde a cabeça na jaqueta.
Quem vê de longe vê
um menino sem cabeça.
Não sei se o carro abre a porta,
se abre a janela,
se o menino assalta,
se a vida solta,
se ele ganha um lanche,
se ele ganha uma chance.
O carro que eu estava
não pagou pra ver,
mas não esqueço
o menino sem cabeça,
e não adormeço
até que o dia amanheça.
E eu não esqueço do
menino sem cabeça.
E a lanterna vermelha
deixa um rastro na despedida
do carro que fica.
E eu não esqueço,
do menino sem cabeça.


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