segunda-feira, 30 de junho de 2014

Em julho, 
nem o céu de madrugada sai de férias. 
O azul que tirou nota vermelha,
está de recuperação, 
mas neste ano, não se repete não.
São Paulo quando se atrasa na condução, 
tem a elegância discreta 
de um morador da mooca falando palavrão.
Trem parado sem Luz não vai pra Luz, 
e o povo corre no Brás para outra plataforma.

Copa? Estamos nas Olimpíadas.
a dizer sobre o que eu sinto,
vem a intensa vontade de infinito.

domingo, 29 de junho de 2014

Do lado certo
dá trabalho,
que do contrário,
pelo lado certo,
meu amor é ócio.
O que é bom prevalece, 
e quem não está bem não reconhece. 
Prestar atenção nas pessoas, 
nas palavras que proferem.

sábado, 28 de junho de 2014

Pebolim

A cidade corre,
e não tem outro jeito
até no dia de jogo.
Eu coloco meus dedos para
torcer, e a mão no peito para ver
as pessoas correndo de novo.

(Inspirada na imagem de Silvana Souza)

Ciúmes in-fundado

- E aí, pra onde você foi depois?
- Num lugar de se ir bem longe,
onde pedir pela metade é dieta.
- Pra onde você foi?
- Não é nada do que você está pensando.
Eu fui dormir.
Metade do que se quer é dieta.
Não é mais boato, foi comprovado que os românticos estão fora de catálogo, 
mas podem ser encontrados nos sebos.
- Paixão, não esquece de levar o agasalho, por favor!
 - Amor, fica frio, que eu tô sentido calor!
A miopia prega peças de saudade, 
nos faz ter a impressão de encontrar pessoas queridas pela cidade.
Sexta, o dia mais esperado da semana. 
Os outros dias ficam desesperados. 
E segunda, coitada, fica chateada com a sexta.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Catalogando o coração

Olho sua foto, meu peito queima,
no tira teima eu insisto,
um cisco
e o olho lacrimeja.

Fiz uma descoberta que me aperta.

Eu não te amo,
não porque talvez não me queira,
ou apenas me queira bem.

Você impediu que eu te amasse,
e deixou que me amassasse
com o que sinto, quando insistiu
que eu catalogasse tudo isso.


Olho sua foto, mais uma vez
e o olho lacrimeja,
mas a tela do meu micro não assopra
os olhos que choram por um cisco.

Eu arrasto sua foto, vejo seu rosto,
deleto um arquivo, 
mas a memória não esquece 
o que eu sinto.


Dois cães na rua: 
- Não amamos, entramos no cio! 
- É, e não gostamos, tudo termina na primeira lambida!
- É um mundo cão!

terça-feira, 24 de junho de 2014

Ácido acetilsalicílico

O homem era ligado em lamparinas.
um expertisse em artifícios,
e não desistia.

Resfriado em recente solstício,
pedia que vaporizassem o ambiente com chá quente,
desligassem as lamparinas,
e lhe trouxesse um copo d'água
e as aspirinas.
Depois do outono, o verão ainda almoça em São Paulo, 
e a primavera aguarda as flores 
que o inverno sempre leva na janta.
Forró pé da estrada, 
segue o fogo cego, 
que levanta a poeira do chão, 
tem a pressa da cidade, 
onde também mora São João.
Abre-te sésamo:
A boca beija o céu da boca em descoberto. 

Fecha-te sésamo:
Não se ouve acordes quando dormem. Hibernam.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Eu fui lá te ver e não era mais vinte anos,
era cinquenta,
e a gente pensa que muda
muito por conta dos anos.

E de repente a gente novamente vinte anos.
O Sol faz do seu poente uma rede. 
Quando o Sol se for, 
a Terra enterra mais um gol.
O menino viu duas redes. 
E na várzea, ele se descobre vesgo. 
Sem barreira, com impedimento, 
deixou a bola ali mesmo.

domingo, 22 de junho de 2014

Um momento, 
preciso tirar da minha boca um isqueiro,
do cigarro que eu não fumo,
e a calçada insiste em me jogar aqui dentro.
As mochilas pesam mais na cidade, nelas cabem um balão de oxigênio, e um bote inflável, de verdade.
Na noite escura, o céu caiu na minha cabeça, 
(o galo cantou antes das quatro da manhã)
e eu vi as estrelas.
Amanhã é dia de ganha pão, 
tenha uma boa noite.
Ganhe um sonho.

sábado, 21 de junho de 2014

A gaita que contava a Rosalía,
a gaita galega que não canta, 
a gaita galega que chora,
é a mesma que canta em mim agora.

Aqui faço minha homenagem à grande poeta galega Rosalía de Castro, que desmistificou a ideia que o galego não se adequava aos versos, que trouxe o pertencimento de um povo ao lugar que dele quiseram retirar, que é a força da palavra, do seu jeito de cantar, dentro do seu país, Espanha.
Estar num lugar, 
não estando lá,
é o mesmo que não chegar.
As esperanças do peito pulam quando chegam, 
outras se perdem, conhecem outras. 

As mais cansadas, sempre voltam pra casa.
Estar num lugar,
não estando lá,
é o mesmo que não chegar.
Um momento, 
preciso tirar da minha boca um isqueiro,
do cigarro que eu não fumo,
e a calçada insiste em me jogar dentro.
O ar frio, 
tanto arde que inspira. 

O ar quente, 
evapora pra fora. 

Cheio de sim e de não, 
venta batendo o coração.
As últimas folhas não resistiram e cairam, 
no último dia de outono, por terem lido um aviso, 
escrito numa folha.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Ano que não é mais novo,
agora já é meio.
Ano que ainda não é velho,
mas bem no meio, 
já está cheio de conselho.
Um celular não pode ser mais importante 
do que alguém que está na sua frente. 
Veja como a sociedade está doente.

terça-feira, 17 de junho de 2014

A página de número 3

- A gente se conhece de algum lugar?
- Acho que da página 3, no primeiro parágrafo.
- É lá que eu me sento do seu lado, no cinema?
- Sim, é lá que você pede gentilmente para moça do meu lado esquerdo
desligar o celular. 
- E a moça do celular aproveita e canta você.
- E eu descubro que ela não é sua namorada.
- E ela percebendo que perdeu a cantada, troca de lugar comigo.
- E você aproveita na metade do filme para segurar minha mão.
- E quase no fim da sessão a gente se beija.
- E o que acontece na página 116?
- Você volta para sua mulher, vocês anulam o divórcio.
- E o autor esquece o manuscrito numa praça do Centro da cidade, vem a chuva, passa um catador de lixo, as páginas ficam duras e borradas, depois da número 250, e aquele senhor inconformado com o que não saberia dali em diante, inventa que a gente se reencontra após vinte anos, e não se reconhece, mas não esquece a página de número 3.
- Como o catador se ateve a essa página?
- O autor grifou dizendo que precisava reescrever aquele começo.
Sem pretensão, são as palavras que são o que são.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Seguir em frente,
olhando que o passado foi passado,
só pra ver que o retrovisor é um presente.
Maria, li teus versos, 
estendi num varal deste céu, 
onde as lágrimas secam.

domingo, 15 de junho de 2014

Lua borrada, 
botão de almofada, 
o céu sem estrelas está lhe fazendo sala.
Praia do Futuro, o filme, é cinema em estado puro. O amor entre dois homens, tendo a vida como pano de fundo.
Quero-quero avisa 
que não quer ouvir bem-te-vi, 
que finge que não ouve o quero-quero, 
que ouve bem o bem-te-vi.

sábado, 14 de junho de 2014

Sto Antonio caiu da sacada. 
Na calçada, moça desmaiada. 
Azar do santo, sorte do moço, 
cujo beijo de acordo, deu namoro.

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Justo hoje, 
roubaram um cupido, 
levaram seu arco e flecha
com uma pistola de doze milímetros.
Se eu gosto de futebol, 
pouco importa. 

Eu gosto de ver gente indo fazer, 
gente indo viver, 
gente indo ver o que gosta.
A Lua cheia queria entrar em campo,
e não deixaram. 

E a Lua cheia quase chora.

Qual o espanto?
É dia dos namorados, oras bolas!

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Na véspera

Até a gente se conhecer,
que o tempo atrase.

Aconteça o que acontecer,
que você goste de mim,
mais do que eu de você.

E se o tempo deixar,
que a gente case.
Faz tempo que a gente não se vê. 
Você passou por mim, 
e eu passei por você.
O céu de maio, 
quando quer, 
aparece em junho. 
Para a cidade 
que quer vencer pelo cansaço, 
eu me esqueço do concreto
e fico no abstrato.

terça-feira, 10 de junho de 2014

A rejeição não acontece devido a gente errar na mão.
Sentir a rejeição acontece 
quando a gente não entende o não.
Ah, a beleza que difere
e que fere,
que ilumina
os ambientes,
que nos faz mostrar,
e palitar
os dentes.


Ah, a beleza que inebria,
e faz contar os dias.

Ah, a beleza que nos confunde,
que se veste na mesa,
que se põe,
que se coloca.


Ah, a beleza que se serve de sobremesa.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

A Copa ainda está na sala,
e já dá para ouvir a cornetaiada no Centro da cidade,
onde tudo se mistura de verdade:

Protesto, contexto, pretexto.

Manifesta-se a ação,
turistas, transeuntes, pedintes.

Não se sabe quem é quem,
mas a polícia está lá e vem.

Vamos ver como a Copa se vira na cozinha.

Pensa rápido

O que nos faz vulneráveis,
cambaleantes, intocáveis,
pensantes, alguns minutos antes?

O corpo tem a fome que come o coração,
mas é a cabeça que some.
E quando o corpo quer,
e o coração diz que não?
Quando a gente saiu pra rua, fizemos história.
A ladeira da Preguiça e da Memória,
saíram do lugar, só pra nos ver.
Mandei abraços pelo correio, o primeiro a ganhar um abraço foi o carteiro.
A quebrada é toda inteira. 

E se um pedaço lhe tomam, 
e quebram a quebrada,
e lhe tombam, 
é por 
inveja.
Gratidão é o eco do universo, cujo retorno só Deus sabe.

domingo, 8 de junho de 2014

Eu não vou estudar você,
no lugar onde a matéria 
tem que acontecer.
Os olhos sorriem daquilo que ninguém vê, 
e os olhos não contam, 
o que um coração simples, 
sente por você.
Lá é longe
e você aqui perto,
e não é por acaso.

A distância na medida do atraso.
A quebrada é toda inteira. 
E se um pedaço lhe tomam, 
quebram, tombam, 
é pura inveja.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Ouvir e não se adiantar.
 Escutar, muitas vezes pode ser o melhor a oferecer. 
E é saber calar. 
Uma hora a gente aprende.

terça-feira, 3 de junho de 2014

Conselho de mão

Com o falatório e o som ambiente, deu para ouvir bem, quando a manicure aconselhou a moça que precisava muito falar:

- Depois do que você me contou, não queira saber dele, 
pode ser que ele volte com ela. Posso lixar quadradinho?
-Pode! 
-Quando ela se foi, pode reparar, foi ele quem se perdeu.
Já escolheu a cor?
Olhou a bandeja colorida as opções de brilhos, 
vernizes e bases. E prosseguiu ouvindo a manicure que não tirava os olhos
das mãos dela enquanto falava:
- Para se reencontrar, ele que se perdeu, vai querer ir atrás dela.
Olha, a cor que você escolheu vai ficar muito bonita!
Encostou um dos dedos no rosto, para a lágrima não escorrer e não querendo estragar as mãos feitas de vermelho estragou. 
-Ah, encostei!
-Deixa que eu arrumo. Disse a manicure que não tirava os olhos das mãos e não viu os olhos da cliente, e continuou:

-Nada como um bom removedor de esmalte.
Mas isso fez a moça sorrir e engolir as lágrimas repetindo:
-Nada como um bom removedor de esmalte!
E o frio é tanto, que as nuvens se esconderam atrás do Sol.

domingo, 1 de junho de 2014

Minha língua é morta se não beija a tua boca.
Canjica na canela, 
do pé de tanto moleque. 

Bandeirinhas sortidas. 
Sai o quentão, e o que fica? 

Apenas a copa da cozinha.