sábado, 29 de março de 2014

O camarote

Pontualmente às quatro horas de toda tarde, Lizete descia a rua para comprar pão. O cabelo indevidamente preso, engomado, num coque sem adereço, uniforme ajustado, postura altiva, não fosse o uniforme, era a patroa que seguia. Abria o portão, com as mãos em cata-vento, pernas torneadas de samba, Lizete passista da Mocidade do seu bairro, era a visão do Paraíso.
O maior fã destes predicados, Sebastião de olhos recém chegados do Pará, não perdia tempo para ver a Lizete passar. De camarote, na portaria, a alegria com hora marcada do dia. Para chamar atenção da musa, observava se não havia morador para ouvir aquilo, escolhia uma música do Amado Batista, que podia ser ouvida na calçada. Lizete que não gostava do Amado, mas ouvira na calçada do Ipiranga todas as faixas, demorou para olhar de lado, quando parou para ouvir, Sebastião ficou paralisado. O síndico que ouviu, não achando engraçado,
falou ao interfone:
- Porteiro que não pode ver mulher, vai ficar desempregado!


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