sábado, 22 de junho de 2013

O quadro

Dona Terezinha de Cariacica, por dois meses, aos sábados,
ia para praça, ver o Piero, pintor italiano, que veio lá de
Locorotondo. Se arrumava de renda, hortelã e perfume de
almíscar pra chegar bem perto e ver o que ele estava pintando.
Chegava, acenava e olhava, escolhia um banquinho mais perto
da praça e ficava uma hora admirando. Ao ir embora, dava
tchau, a única palavra que sabia em italiano.
Dona Terezinha que não falava italiano e o Piero que não
sabia parlar em português, apenas se entreolhavam, vez
em quando.
Passado dois meses, da temporada do Piero em Cariacica,
chegou o domingo dele voltar.
No sábado, Dona Terezinha se arrumou e juntando umas
economias, que retirou da caixinha e do caixa eletrônico,
foi correndo para praça. Já sabia que quadro ia levar.
Aquele que ela menos entendia, um todo
colorido, de traços largos e olhos grandes, que foi se identificando.
Quando chegou para comprar o quadro de olhos grandes,
ele agradeceu em italiano, entregou o quadro que queria,
mas ganhou um outro, que ele fez dela, aos poucos,
exatamente como ela existia, nos dois meses que fazia,
sentada de almíscar no banco.

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