terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

A deixa da espera.

A espera, não me deixa pensar,
que a espera não me deixa.

Um tal de John.


Carolina se foi há alguns anos. Lá no céu, quando permitiam, chegou a enviar mensagens por torpedo.
A última foi assim:
-Mãe, estou namorando um cabeludo de óculos redondinho de nome John. Agradeço ter insistido nas aulas de inglês, se bem que não paramos de nos beijar. Ele não lembra quem era na Terra, e eu também não. A única coisa que ele me fala, que é pra gente ir ficando, enquanto a tal da japonesa não chegar.
Mãe, a Mitiko já morreu? Se está chegando, que não venha para cá! Será que mesmo fora do colégio, ainda quer meus namorados?
Se bem que ela não era muito boa em línguas, né?


Maira Garcia
-

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Curativos

Cicatrizam rapidinho,
tão logo suturem,
bem baixinho no ouvido.

que se faça verdadeiro

Um amor de pedreiro.
Um amor faxineiro.
Um amor enfermeiro.
Um amor boiadeiro.
Um amor de gari.

Um amor costureiro.
Um amor de bombeiro.
Um amor mecânico.
Um amor um dia inteiro.
Um amor que faça,
na prática,
o que se diz.

amor pedreiro, faxineiro, enfermeiro,
boiadeiro, gari, costureiro, bombeiro, mecânico,

Ora triste ou feliz.
Verdadeiro.

Maira Garcia

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Mil tons

Mil tons das notas,
cheias de cor.
São tantas luzes em pauta,
que só enxerga quem suporta,
um acorde que seja feito de amor.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Araras

Intervalos, espaços, pontos e buracos, 
são provas dos trajes
usados pela eternidade.
são provas de roupas
usadas pela eternidade.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Saudade também prega peça.

Saudade encontra sua saudade,
e desaparece de verdade.
É assim que saudade morre de felicidade.

PS: Nunca leve à sério uma saudade!


sábado, 16 de fevereiro de 2013

Ore-e-game

Luminuras,
de claro e escuro,
dobradas, engomadas no rosto.
São nossas crias, nossas dobraduras.
Peças raras e únicas de se ame.
Sutis alvos de cetim,
são couros de choros e sorrisos.
Nossos origamis imprecisos.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

A vida são contagens

Bobagem de se esvaziar, é esquecer,
que o melhor nessa vida, mesmo curta,
entre-tantas estórias, e histórias longas
o que nos resta, pra aquecer,
no fim de cada estória que alguém nos conta.
É a amizade, mesmo que seja de faz de conta.

Sem flechas

Não correspondido,
é não correspondido.
Ocorreu falha,
na transmissão remota de um cupido.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Canteiro

Rosas colhidas às pressas sempre nos encantam.
Abraçar seus espinhos é quase inevitável,
no ardor de um espanto.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

De fome

O medo alimenta até gente grande.

A mais cara

A mais cara,
ainda é essa,
que se encarrega
da nossa.

A verdadeira fresca

Ares condicionados,
não são bobos,
nem nada,
pois esperam todo dia,
a verdadeira fresca, diretamente, da sacada.

Mamas and papas

quarta-de-cinzas,
sem-papas-na-língua.

Maira Garcia

Suspirar

Suspiros pra suspirar
e com efeito viram confeitos.

Lentos e pacíficos


Os dias não correm mais
quando a gente se encontra.



Achados de perdidos

Melhor não achar nada,
que de achar,
já se perdeu.

Maira Garcia

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Samba de bolso

Gastei meu samba na sola,
não sobrou nenhuma nota.

Um baile de chuva

Já tomei banho de chuva na praia
com raios que partem,
morrendo de medo.
Na fazenda, na ribanceira, no ABC,
em Ipanema, e em segredo.
O de ontem, com a calça boca-de-sino e sapatilha de plástico,
foi na Paulista, você me viu,
foi o viver,
de se ver,
foi de se sorrir,
foi fantástico,
nem sofri com o frio.
Queria te xingar,
ia ser tão prático,
mas na passarela, atravessando a calçada,
como que não quer nada,
você veio de vento,
mais a água até a metade das pernas,
que ainda secava,
totalmente desarmados,
sem guardas e chuvas,
sem coturnos,
a gente sorriu.

Maira Garcia

domingo, 10 de fevereiro de 2013

No asfalto a pele é dura

São Paulo à flor da pele paulista,
ali está armado,
o amor de concreto.

Maira Garcia

Fantasia do adeus.

Me despeço e disperso nas parábolas,
na tangente periferia.

Tem estórias que viram egrégoras.
E eu prezo pelo agora.

Sorrindo.

Faço num adeus de frases, minha diáspora no bloco.
Oração boa neste mundo daqui de fora,
coração bom neste mundo daqui de fora.
É o refrão.

E existe.
Senão a gente cria.

A maldade é um cisco
Vida real é pra perder de vista

Sorria.


sábado, 9 de fevereiro de 2013

Benzedeira

-Entra moça, beba um pouco dessa água.
  Vamos perdoar nossas palavras?

Linguagens Bárbaras

Bárbara não quer acreditar mais em palavras.
Bárbara quer deixar de ser bárbara.
Bárbara assina seu primeiro contrato agora.
Acredita no que assina,
e agora assina no que vê.
Vamos ver...

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Bloco do desejo

Desejo e suas voltas,
de se perder num só beijo.
Desejo fez várias voltas,
se embaçou, nem mais vejo.
Desejo faz mais uma volta,
do desejo que só quer um beijo.
O desejo que passou,
faz falta.
Vamos ver como volta
esse nosso beijo?

Sede de doce.

Não se perde a vontade de doce,
desde que o doce seja aquele doce.
Depois vem sempre a sede de água,
causada da vontade passada do doce.

Um abraço do Caetano, feito pelos próprios fãs.


Nós

se desatou de alguém,.
e alguém ficou sem nós.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Ouro de gratidão

Adoro-te,
douro-te,
e me faço uma joia de você.
Joia de escravidão,
quero não.
Escolhi da libertação,
aquela que as pulseiras se abrem,
douram o céu de janeiro até dezembro,
no hemisfério azul.
Joia do eu me lembro,
joia de doação.
Indo guardada na caixa dos abraços,
sem remetente.
Está chegando sem laços, aberta,
coberta de coração.
Um dia,
sem joia,
sem lira,
a gente se vê.

a prenda de uma ofensa

Que se ofenda,

e que se ofereça uma prenda,

oferenda de perdão.

A - prenda,

de anoiteceres que entristecem,

e nos jogam na imensidão.

A alma pede,

que o

reverso peça de volta o verso,

de um Universo,

sem

côncavo e convexo.

É lá, nesse lugar,

que mãos nos esperam

o pintar de aquarelas,

e não querelas.

São elas,

que nos pincelam

e esperam,

em feitio de oração.

Rente ao chão

andar descalço,
faltando o asfalto,
vem a terra vermelha molhada
de ser carimbada,
vou com meu pé,
esquecendo histórias de perder o chão.



segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Para preservar mistérios

Colher mistérios
e teremos coincidências,
sem mistérios,
só nos resta a ciência,
sem coincidências,
investigações, evidências, invenções
mas teremos menos filmes com beijos de cinema.

Poetas são pessoas.


Poetas são pessoas,
que por vezes também dizem coisas à toa.
Poetas são estranhos quando duvidam dos versos

e fazendo assim,

duvidando de seus próprios sonhos.

Alguns poetas seriam mais felizes se tentassem ser apenas poetas.

O Mané que o diga, colocando toda graça no ofício,

se encantando com a vida
como quem vê sempre
pela primeira vez,
uma formiga.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Troca de paisagens

Não são,
nunca foram os mesmos olhos,
nos meus,
dentro dos meus olhos nos seus.
Quando vi, perdi o ponto,
não deu tempo,
do-eu,
e foi
bem aqui dentro que o ponto se perdeu.
Não são meus olhos, os seus,
e nem seus olhos,
nos meus.
Abrolhos,
foi no seu mapa que se perdeu.
O dia não mais me lembro.
Tudo que não tem começo,
um dia também se acaba.
Acabou agora mesmo,
em Paranapiacaba.

Maira Garcia

Ferro e fogo

Riscaram madeira viva.
Foi muita bandeira,
num primeiro beijo de saliva.