terça-feira, 30 de outubro de 2012

Poetas não se morrem mais

Poetas,
vivem de todas as formas
e formas que se tem notícia.
Poetas fingem morrer
para viver
nas juntas,
nas canelas,
na corredeira
de sua gente lista
 e fictícia.
Poetas não se morrem mais,
poetas não mentem.
Poetas não se morrem mais,
como antigamente.
Poetas não se morrem mais,
para viver de contar
o que corta o mundo
de hoje e de aurora
e
o que vem pela frente.

Agora é festa,
pois poetas,
não se morrem mais,
como antigamente.
Vivem de seu papel,
aqui e no céu,
para que todos amem sua gente,
para todo sempre,
e que todos se amem
nos finalmentes,
também.
Pois poetas não se morrem mais
como antigamente.

Maira Garcia

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Quando entendem o que se quer entender.

Ninguém entende o que você fala, 
está sendo incompreendido
neste mundão?
Não fique parado, musculando, 
faça algo de concreto. 
Esta canção do Toquinho e Vinícius
é um desabafo dos tempos de outrora. 
Mas quem disse que não somos auditados
e mal versados diante de tantos olhos, 
nos dias de hoje, em novas dita-duras?
A maldade quer ser mais forte?
Cante esta canção que está em italiano, 
que é pro xingamento
e desabafo ficar escondido,
mais leve, 
meio que esboçando um sorriso.
Que é para ver se o riso quebra a vontade de não entender.
É gente querendo brigar sem motivo
por não ouvir o que você quis dizer,
ao sonhar?
Versar de viver, pelo livre pensar?
Vai!
Por favor, cante comigo!
A gente ainda se encontra para tomar um café,
e vamos falar de Toquinho e Vinícius.

Maira Garcia

domingo, 28 de outubro de 2012

Abençoadas que são, suas mãos.

Abençoadas as palavras que são suas,
que suam mãos que procuram versos.
Abençoadas as palavras que são dela,
que de tão belas,
tocam frente e verso
suas mãos.

Maira Garcia


sábado, 27 de outubro de 2012

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Falando a verdade consigo.

Um homem que resmungava num banco do parque Trianon,
na avenida Paulista, chamou a atenção da moça ao lado,
quando concluía em voz alta, gesticulando, olhando pro nada.
-Você pode continuar falando, sabe que eu te ouço, não sabe?
E espero que não fique chateado comigo, com o que eu vou falar,
pois eu há muito, muito te estimo.
Foi de tanto querer puxar assunto com você, sem me responder,
que eu comecei a falar sozinho.

 Maira Garcia

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

As crianças do Largo de São Bento

Eu vi umas dez crianças correndo e já era noite,
no largo de São Bento.
Risos, escondes, bolas, piques e não moravam longe.
Vinham de um prédio invadido aonde famílias lutam por espaço e abrigo.
Olhei pra Lua que também olhava comigo,
cheia de vivas,
na madrugada,
correndo,
cheia de vivas e escadas.
Lua e nuvem,
bola de risos,
anjos,
de água benta,
escorrendo
sem nenhum medo,
bem perto da igreja,
sem segredo,
cheia de vivas,
vão entre as escadas,
de se esconder,
correndo do perigo,
que só vendo mesmo.

Maira Garcia

Lumiar

Ele veio apenas trocar uma lâmpada, nove meses depois chegou o iluminado.

Maira Garcia

Estetoscópio

Ouvir o coração um do outro,
nos faz
do mesmo tamanho,
um pouco,
um pouco,
um pouco.

Maira Garcia

domingo, 21 de outubro de 2012

sábado, 20 de outubro de 2012

Guidão

Vergonha que nem todo mundo sente,
é uma pena se não sente.
Vergonha na medida,
 muda
 a direção e a vida
de muita gente.

Maira Garcia

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Não ganhar na loteria e estar feliz da vida.

Sem notícias para chegar,
 do nada acontecer.
O Sol quer antes dele seu acordar,
uma vez que o galo já cantou,
nada mais vai doer.

Maira Garcia

Eu-foria.

A sorte de ganhar,
a mesma sorte de perder a mesma sorte.

Maira Garcia

O sumo, o bagaço e a vinha

A realidade é melhor que o vinho
 do tempo
 e a safra.
Razão pela qual
 eu tomo sempre
 suco de uva,
até o sumo, visse?

sábado, 13 de outubro de 2012

Amizade de papel bem passado.

Bonecos de papel, desses que têm roupinha e tudo, que ainda se pode encontrar em alguma banca de jornal descolada da cidade, resolveram passear escondidos de seus donos, sem saber que iriam se conhecer naquele dia. E foram se encontrar ao acaso, num sebo onde podiam comprar livros de poesias feitas por outros bonecos que também tinham seu papel no mundo.
Mas só encontraram um exemplar, de uma única edição, e pegaram juntos. Não houve briga, apenas uma leve discussão, pois sem a delicadeza adequada podiam rasgar a mão.
Racharam a conta e ficou rascunhado que se visitariam em suas casas para pegar o livro um do outro, sempre que a vontade viesse, e sem que seus donos soubessem.
E foram ganhando aquele pretexto das conversas que nos fazem virar amigos de verdade, em papel bem passado.
Até que uma noite, que bonecos não esperam, assim como nós, e principalmente quem gosta de ter bonecos de papel e não se pode imaginar, uma tempestade inundou toda cidade e eles se desmancharam, virando bolinhas de papel machê esparramados pelo chão.
Mas foi numa tarde alaranjada, com início de noite bem azul, que as almas inquietas dos bonecos voaram juntas e estacionaram cada uma, nos ouvidos de um homem que comprava uma raridade de bonecos de papel, justamente naquele sebo, que eles se conheceram.
Imediatamente, aquilo que foi embora na água ficou sólido na cabeça daquele que faria os dois renascerem para todo mundo ver, em várias páginas e línguas, num roteiro cheio de gramatura.
E o homem feito de carne e sentimento muito apurado, passou os dois num sulfite para virar filme de película, que também poderá ser visto em cópia digital, para salvação e seguro em caso de incêndios e enchentes.
Quem assistir ao filme, que poderá entrar em cartaz não se sabe quando, vai sentir na pele a amizade provocada por um livro e a poesia que é desmanchar e sobreviver, mesmo depois de um dilúvio.

Maira Garcia

braço de rã

braçando,
voando,
vou meio rã.

maira garcia

A pia mente

Acreditava piamente que falava comigo,
olhei no espelho lavei as mãos,
enxuguei com a toalha,
como a gente se engana quando não quer encarar?
Tornei a olhar pro espelho,
torneira,
pia e espelho,
debrucei a molhaceira,
piamente,
a pia mente.
Não é que mente mesmo?
Vi o escoar, tentei o enxugar
para aquilo que pia pedia a saída é molhar.
O pior é ter o espelho
que afirma.
Lavei as mãos.
Olhei pra pia, olhei pra baixo,
olhei pros lados, olhei pra cima, evitando o espelho em frente.
Não é que a pia mente?
Me deitei na cama, e é a cama que ajuda a pensar.
Da próxima vez que achar
que ainda me chama,
 vou lembrar
 da pia
a escoar pelo ralo
o dizer que me ama.

Maira Garcia

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Leite da castanha

E o leite já ia secar,
lembrou das preces
das bandas de lá.
E o peito correu pra Pará,
com os pés que foram dançar.
Caju virou leite,
Beiju virou azeite,
Até que a tristeza rezou,
foi pro baile,
bailou com vontade e
virou enfeite.

maira garcia

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Pare o carro agora, ou cale-se para sempre.

O rapaz viu a noiva que não era dele, paixão à primeira pista,
que ia correndo pro altar, mas já era tarde, pelo andar da carruagem,
que  indicava que o nunca mais belo da sua vida,
não refletiria mais no seu andor.
Sem saber o que fazer, apelou, levou multa, quase bate-e-volta,
e o carro do casamento fechou.
A noiva saiu pela porta esbaforida, rímel nem mais se vendo,
ele enrasgou no véu, puxou pela mão, pediu pela mãe do céu e brecou:
-É tanto corre, é tanto juramento!
Deixa eu me casar no seu casamento?

Maira Garcia
Foto tirada com celular, na sorte do dia 23/01/2013.
Nunca tinha visto pintura de faixa e sinalização de trânsito!

Me ensina

Não me provoque
Não me assanhe
Me ensina.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

A corda

Alguém disse que me ama em verso e em corda.
Por favor, não me acorda!
Suas mãos puxam meus cabelos em sonhos.
Não percebo em que notas.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Reflorescer rosa vermelha

No vaso, da terra revolvida,
 depois da poda,
jogaram água
e o sangue voltou a correr
aonde era cor-de-rosa.

Maira Garcia

sábado, 6 de outubro de 2012

Esses baianos que moraram aonde eu nasci

Eles moraram aonde eu nasci, 
fazendo música dos ares de lá, 
no Sítio do Francês que dirigia avião de verdade,
 perto da Rodovia Índio Tibiriçá, 
quem veio antes pode cantar.


Por Maira Garcia  e  um pedaço da música que virá.

De ouro

Adoro-te,
douro-te,
e me faço uma joia de você.
Joia de escravidão,
quero não.
Escolhi da libertação,
aquela que as pulseiras se abrem,
douram o céu de janeiro até dezembro,
no hemisfério azul.
Joia do eu me lembro,
joia de doação.
Indo guardada na caixa dos abraços,
sem remetente.
Está chegando sem laços, aberta,
coberta de coração.

Um dia, sem joia, sem lira,
a gente se vê.

Maira Garcia


quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Meia saudade

Já fiquei esperando num lugar
aonde tinha certeza que viria.
E você não veio nesse dia.

Até que de tanto querer
você veio.
Veio um meio você,
de tanto medo de mim,
que veio pela metade me ver.

Um sentado me sorria
 de soslaio, enquanto
o outro corria e
segurava os braços
ao contrário.

E a vontade que eu não sei se eu tenho,
 é um desejo e meio.
Desejo de abraço,
não sei se de beijo.

Parece bonito demais
e fala bonito demais.
E que está sempre certo,
quando diz que eu não sei
o que eu quero.

Quando apenas um querer eu tenho.
Abraçar você bonito demais,
pra falar bonito demais,
porque meu braço
quer descansar de esperar,
a sua outra metade chegar.
E conhecer você de verdade.
E um dia ser, saudade
inteira de saudade.

Maira Garcia




Combinado?

Ah!
Hoje
quase me afoguei na praia,
mas não há de ser nada,
vou deixar de lado!
Vou respirar Fernando, Cacaso, Ana Cristina,
Elizabeth e Mia, embaixo do guarda-sol.
Vou esquecer à jato.
Combinado?

Maira Garcia

Quebra de

Em letras
e espaços
e caracteres
e tremas,
para outros usos.
Acessaram a senha.

maira garcia

Duas crianças e um homem salvaram meu dia.

Hoje duas crianças e um homem salvaram meu dia e minha noite. Um grande amigo que toca sax quase toda noite, pode ir comigo ver a exposição que estará até domingo no Centro Cultural Banco do Brasil aqui de São Paulo (Paris e a Modernidade – Obras-Primas do Museu d’Orsay). 
Enfrentamos uma hora e meia de fila, pouco para três horas de espera de alguns dias atrás. Na ida o tempo passou rápido na sua companhia, e na volta seu tamanho por si só espantou um assaltante que nos esperava no Viaduto do Chá.
As crianças que me salvaram foram duas meninas.
Primeiro veio a Sarah, cinco anos de idade, carregada no colo pelo pai, que ao abrir os olhos exclamou:
-É isso pai? Um borrão no quadro? Um ponto de borrão? Gostei pai, gostei pai!
E a exposição ganhou outros ares, assim que a Sarah entendeu tudo e quebrou o silêncio da sala.
E na volta pra casa, depois de escapar de um assalto, dentro do trem, ainda sob efeito das pinturas, escrevendo num bloco de anotações, estava sendo observada ao lado pela Ketlen, oito anos, grudada na mãe, mas de olho nos meus movimentos com o celular e a caneta.
Concentrada, perdi a estação que ia descer e a menina percebendo o ocorrido começou a falar:
-Você perdeu o ponto, né?
-Como você sabe?
-Eu ouvi você falando no celular qual era a sua estação!
E sorrindo, com vontade de tirar o sarro, afirmou:
-E eu sei porque você perdeu o ponto!
-Você sabe?
-Foi por causa de uma poesia, não foi?

Maira Garcia

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Mouro em vinho.

Vejo vinho nos seus olhos,
na pupila que faz falta o juízo.
Olhos pintados nos meus olhos.
Aceito seu copo sem seu vinho.

Maira Garcia

Volte duas casas

Eu não corro,
eu não me alimento,
eu não esqueço,
eu não minto,
eu não gosto,
de bichos,
de bicicleta,
de estátua,
de balão,
de gente
 de multidão,
de esconderijo,
de metrô,
de papel,
de tinta,
eu não canto,
eu não escrevo,
eu não dirijo,
não sinto dor,
não vejo,
não desenho,
não cozinho,
não gosto de doce,
não beijo,
não namoro,
não estou mais aqui,
não choro,
não tomo café,
não sinto frio,
não ando a pé,
não sinto vazio,
eu não,
eu não,
eu não.
Você se enganou,
eu nunca existi.
Você errou de apartamento.
Volte duas casas,
não moramos mais aqui neste momento.

maira garcia

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Silencio

Pra poder te ouvir
Vou fechar seus olhos com minha boca,
e abrirei minha boca com seus olhos.
Você não vai me ouvir.
Sem voz, estarei rouca.
Vou te levar pra Abrolhos
 todo enroscado em mim.
Quando a gente chegar de noitinha,
abrirei
seus olhos.
Teremos apenas uma lanterna,
para não se perder.
Pois o farol de lá
já mandou avisar que vai se esconder.
Que é pra eu poder te ouvir
 me silenciando
 bem devagarzinho,
 sumindo em você.

Maira Garcia


Para falar aquilo que todo mundo gosta.

Então a gente pensa
 que gosta,
quando vem uma pessoa
 e encosta
E roça
em você pra falar
aquilo que você quer ouvir,
mas
no fundo é a mesma vontade
que todo mundo tem
de existir para alguém
até deixar de existir,
até a semana que vem
quando vem uma pessoa
e encosta para falar aquilo
que todo mundo gosta.

Maira Garcia