sábado, 7 de julho de 2012

A saia da moça da Paraíba.

Kamal, o árabe de proporções tão grandes
que aqui não caberiam,
corria sempre atrás de saia,
mas todas saiam correndo, porque errava na mão.
Faltava alguma especiaria no tratar e assim elas não queriam.
A 25 de março já se fazia pequena para o grande Kamal,
filho do Salim rei dos tecidos.
Até que um dia, chegou da Paraíba Alzira, uma moça cujas cadeiras voavam
e os olhos verdes e cabelo de cereja lhe acertaram.
Acertaram ladeira abaixo, no porto, na geral, mas sem gol.
Da loja cheia de fantasias que a moça trabalhava,
a vista do Kamal ardia e a cabeça latejava.
Mas ela assim como as outras corriam, enquanto ele ignorava e a seguia.
Alzira franzia, ele chamava, ela recuava e assim dançaram
dias a fio e a cadeira da paraibaninha fugia e não quebrava.
Foram tantas as insistências que antes de qualquer saliência,
foi ter com o delegado da Sé a fazer um boletim de ocorrência.
Esclareceu que para prestar a queixa, primeiro precisaria acontecer
o que ela mais temia e que o filho do Salim era apenas de seguir
e todo mundo da 25 de março já sabia!
Dali há alguns dias, cansada das seguidas e sucessivas de Kamal,
deixou que se sentasse a mesa no restaurante aonde quase
todos ali almoçavam.
Ela paciente, tentando ser gentil, mesmo tensa de pescoço e arrepio.
Kamal apreensivo, e só pensando naquilo.
Juntaram os pratos um de frente para o outro.
Ela simulou um sorriso forçado e os olhos e a boca acompanharam.
E passou a sorrir tanto que nem ela acreditou.
Kamal que sempre corria atrás das saias dos mesmo tecidos que vendia,
deixou o prato cheio na mesa da moça tingido por aquele sorriso tão preciso.
Besta como todos somos quando ocorre o imprevisto, a moça foi acertada
em cheio, ficou assustada pois o homem sumiu vários dias sem ser visto.
Procurou Salim, e foram juntos à procura do filho, em hospitais, abrigos e tudo mais em volta.
Desolada, Alzira foi ter com o delegado para pedir o BO do Kamal
que sumiu sem ser seu namorado.
Chorando, foi lavrada a procura pelo árabe que corria atrás de saia,
mas fugiu da única que lhe sorria e nunca mais foi encontrado.
                                                                                        
                                                                                       Por Maira Garcia

Dedicado ao Kamal que sempre aparece para me contar causos de Abu El Abed quase toda sexta-feira num café perdido da cidade de São Paulo e Mia Couto cujas palavras me benzem
a cada leitura.                                                                        
                                                                       


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