sábado, 28 de julho de 2012

Contempla-ção.


Ficava nos olhando, ao longe do cercado, com os olhos rareando o arame farpado, sempre perto das cinco horas da manhã.
Espalhava maçãs esfareladas, banana, um punhado de rosas que iam se abrindo, e seguia percorrendo sua oferenda com tranquilidade em nosso sítio. Via o que queria ver, levava o que queria comer, e assim corriam religiosamente suas visitas.
Nem um piu na presença de quem chegava com a luz, um pouco antes do cantar do galo. Poucos saberiam entrar e sair sem serem notados, como ele fazia.
Nem seu cheiro tão peculiar era sentido. Sabia que me fitava ao longe, por entre as cercas. Não nos queria os ovos, a carne, nem a mim, nem as meninas. O galinheiro acordava todo santo dia em paz, pois naquele sítio, corria um gambá que pelo andar da sua carruagem, os presentes e o olhar comprido das suas entradas farpadas, estava visivelmente apaixonado pelo amanhecer de uma galinha, a esquentar e redescobrir seus ovos.

Maira Garcia

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