Não te achei no 0800,
e não posso voltar até 1500,
para te descobrir outra vez.
Maira Garcia
Poesia, textos e todas expressões que surgirem para partilhar, sempre depois que a Lua me tocar.
sexta-feira, 29 de junho de 2012
quarta-feira, 27 de junho de 2012
Ponto final.
Das palavras,
que ticam bilhetes para o inferno,
mais tarde,
devidamente cadenciadas,
darão
livre acesso
às mananciais
do Paraíso.
Maira Garcia
que ticam bilhetes para o inferno,
mais tarde,
devidamente cadenciadas,
darão
livre acesso
às mananciais
do Paraíso.
Maira Garcia
segunda-feira, 25 de junho de 2012
Menina tijolo
Ela não tinha boneca e morava perto de uma olaria. Aproveitando o horário de almoço dos oleiros, correu para pegar um punhado de barro e moldou a cabeça, tronco, braços, pernas e mais o cabelo feito de mato. Deixou ao sol igual faziam com tijolo, e a boneca secou feito porcelana aos olhos da menina. Do tamanho de duas mãos de criança, deixava no colo e por onde fosse. Certo dia, esqueceu dela na chuva e a boneca foi derretendo junto com a menina. O pranto parou quando viu que a cabeleira de mato tinha formado um ninho. Foi entendendo o recado do barro, pegou o feitio, e a partir dele criou o tronco e o peito, que agora trazia nos olhos duas pedrinhas lascadas de sentimentos de menina, deixando de ser boneca.
Maira Garcia
Maira Garcia
sexta-feira, 22 de junho de 2012
Carac-teres
Não precisamos nos ver pela primeira vez
e nem esperar o tempo certo de dormir.
Não teremos o jantar para esquecer,
quem somos,
de vez em quando.
Sentir o cheiro da roupa um do outro na ausência.
Não precisamos segurar as mãos e tocar as linhas
que bordariam o nosso destino.
Sentir se a pele da boca
desliza direito com a língua,
nos nossos caminhos.
Não precisamos juntar os trapos,
fazer planos.
Pensar se teremos filhos.
Não precisamos conversar sério.
Temer o silêncio.
Visitar hospitais.
Sentar junto ao leito.
Temer o adultério.
Não precisamos segurar o tempo,
pela ausência do belo
e o clarear dos pelos.
Eu não queria estragar a surpresa,
ficaremos a sós até o fim do verso.
Ninguém vai virar do avesso.
Sem precisar nos conhecer,
sem pressa,
nem precisão de qualquer gesto.
Nossas palavras já se casaram,
se encontraram antes de nós,
e vão nos separar para
encerrarem juntas
este texto.
Maira Garcia
e nem esperar o tempo certo de dormir.
Não teremos o jantar para esquecer,
quem somos,
de vez em quando.
Sentir o cheiro da roupa um do outro na ausência.
Não precisamos segurar as mãos e tocar as linhas
que bordariam o nosso destino.
Sentir se a pele da boca
desliza direito com a língua,
nos nossos caminhos.
Não precisamos juntar os trapos,
fazer planos.
Pensar se teremos filhos.
Não precisamos conversar sério.
Temer o silêncio.
Visitar hospitais.
Sentar junto ao leito.
Temer o adultério.
Não precisamos segurar o tempo,
pela ausência do belo
e o clarear dos pelos.
Eu não queria estragar a surpresa,
ficaremos a sós até o fim do verso.
Ninguém vai virar do avesso.
Sem precisar nos conhecer,
sem pressa,
nem precisão de qualquer gesto.
Nossas palavras já se casaram,
se encontraram antes de nós,
e vão nos separar para
encerrarem juntas
este texto.
Maira Garcia
quinta-feira, 21 de junho de 2012
Triste é viver sem um esbarrão.
Vivia muito sozinho. Nem o porteiro ouvia direito sua voz soprada.Tinha sempre trinta bons motivos para seu passeio das cinco horas da tarde. Esbarraria em pelo menos trinta transeuntes.
Não tinha preferência, saliência, era carência da boa. Salvo algumas guardachuvadas na cabeça, e umas bitucas de cigarro no braço, seu passeio era algo que preenchia o vazio da sala, quarto, banheiro, panelas e plantas. Cada esbarrão um acontecimento. Mas para ser especial tinha que olhar nos olhos do cidadão depois da esbarrada, pedir perdão, ouvir um não foi nada ou um palavrão. Na volta, servia a janta, abria a janela, olhava a cidade e falava sozinho que teria um bom apetite, mastigando a solidão que não arderia mais em seu peito, até o próximo passeio.
Por Maira Garcia
Não tinha preferência, saliência, era carência da boa. Salvo algumas guardachuvadas na cabeça, e umas bitucas de cigarro no braço, seu passeio era algo que preenchia o vazio da sala, quarto, banheiro, panelas e plantas. Cada esbarrão um acontecimento. Mas para ser especial tinha que olhar nos olhos do cidadão depois da esbarrada, pedir perdão, ouvir um não foi nada ou um palavrão. Na volta, servia a janta, abria a janela, olhava a cidade e falava sozinho que teria um bom apetite, mastigando a solidão que não arderia mais em seu peito, até o próximo passeio.
Por Maira Garcia
segunda-feira, 18 de junho de 2012
Sangria.
Pra deixar de ser vampiro,
Seguiu a receita no riscado.
Dormir sete dias com as galinhas
e acordar sete dias com o galo.
E aonde pousou e levantou,
tamanho prejuízo foi calculado.
No feitiço,
algo muito incerto,
no invertido
deu errado.
Como o vampiro de lá estava aqui,
deu-se um curupira
de pelo branco,
preto, amarelo e rosado.
E quem quiser ter com ele agora,
que chame pelo dia,
que corra pelas matas a esconder sussuarana.
Mas por favor, sem desfeita,
não falar da tal sangria!
Maira Garcia
Seguiu a receita no riscado.
Dormir sete dias com as galinhas
e acordar sete dias com o galo.
E aonde pousou e levantou,
tamanho prejuízo foi calculado.
No feitiço,
algo muito incerto,
no invertido
deu errado.
Como o vampiro de lá estava aqui,
deu-se um curupira
de pelo branco,
preto, amarelo e rosado.
E quem quiser ter com ele agora,
que chame pelo dia,
que corra pelas matas a esconder sussuarana.
Mas por favor, sem desfeita,
não falar da tal sangria!
Maira Garcia
domingo, 17 de junho de 2012
Lobisomem
Mais tarde, vai sentir fome,
Mais tarde, eu vou ser mulher
Mais tarde, você vai ser homem.
Maira Garcia
Mais tarde, eu vou ser mulher
Mais tarde, você vai ser homem.
Maira Garcia
Oras bolas.
Uma bola bateu no seu peito
você deita e rola.
Uma bola nem pingou no seu leito
você deita e chora.
Uma bola não aparece,
você levanta as mãos para o céu e agradece.
Agradece a bola
que atendeu sua prece.
Uma bola acontece para ver se você aprende a jogar bola.
Que nem moleque.
Por Maira Garcia
você deita e rola.
Uma bola nem pingou no seu leito
você deita e chora.
Uma bola não aparece,
você levanta as mãos para o céu e agradece.
Agradece a bola
que atendeu sua prece.
Uma bola acontece para ver se você aprende a jogar bola.
Que nem moleque.
Por Maira Garcia
sexta-feira, 15 de junho de 2012
Plá e senta e deita.
Fetos de uma vida inteira,
um dia seremos per-feitos,
Ainda assim, há quem queira
mamar
e deitar na esteira.
Por Maira Garcia
um dia seremos per-feitos,
Ainda assim, há quem queira
mamar
e deitar na esteira.
Por Maira Garcia
quarta-feira, 13 de junho de 2012
Confeito
Enfeitam
a boca de saliva
o tempo inteiro,
corante,
açúcar e
conservante.
Ao serem devorados até o sumo,
nada são,
além de besteira.
Esses doces também são os defeitos
dos desafetos
que derretem na boca
quando
desfeitos.
Por Maira Garcia
a boca de saliva
o tempo inteiro,
corante,
açúcar e
conservante.
Ao serem devorados até o sumo,
nada são,
além de besteira.
Esses doces também são os defeitos
dos desafetos
que derretem na boca
quando
desfeitos.
Por Maira Garcia
terça-feira, 12 de junho de 2012
Sem a tua companhia.
Era uma mulher de 40 a bater fotos com celular
na estação da Luz,
aí foi lá que um homem com mais de 80
chegou devagar e fez a pergunta:
na estação da Luz,
aí foi lá que um homem com mais de 80
chegou devagar e fez a pergunta:
-A senhora faz programa?
Ela não dá.
Não dá atenção e desconversa pois
tudo que ela queria era mais claridade
para pegar uma imagem.
O senhorzinho,
pequenininho,
negro
e rolicinho
daria uma foto e tanto mesmo
com a pouca luz que vinha,
mas ao ouvir atentamente
o que perguntou, perdeu-se.
Perdeu-se o encanto e a vontade
de ficar ali com a pergunta
Foi seu olho triste quem quis parar para ouvi-lo.
-A senhora não faz, logo vi que é casada,
aqui elas cobram quase 50,
seu programa deve ser com seu marido.
Desculpe, dona, sei que fui um tanto atrevido.
Seus passos curtos levaram o sorriso
desencantado a deslizar na calçada.
E lá se foi, todo mínimo.
Parou com as fotos e entrou correndo na estação,
procurou uma que ao menos se confundisse com ela,
cheia de curvas, branca e mediana com menos panos
que o dela.
Foi o que tentou dar. Tentou dar seu máximo.
-Desculpe perguntar, você está trabalhando?
-Estou, faço programa, é pra você?
-Não. Um senhor na calçada perguntou se eu fazia.
-É, eu sei, dá para ver que você não faz nada assim. Ele viajou!
-Então, pode ir até lá?
-Qual a idade dele?
Ela não dá.
Não dá atenção e desconversa pois
tudo que ela queria era mais claridade
para pegar uma imagem.
O senhorzinho,
pequenininho,
negro
e rolicinho
daria uma foto e tanto mesmo
com a pouca luz que vinha,
mas ao ouvir atentamente
o que perguntou, perdeu-se.
Perdeu-se o encanto e a vontade
de ficar ali com a pergunta
Foi seu olho triste quem quis parar para ouvi-lo.
-A senhora não faz, logo vi que é casada,
aqui elas cobram quase 50,
seu programa deve ser com seu marido.
Desculpe, dona, sei que fui um tanto atrevido.
Seus passos curtos levaram o sorriso
desencantado a deslizar na calçada.
E lá se foi, todo mínimo.
Parou com as fotos e entrou correndo na estação,
procurou uma que ao menos se confundisse com ela,
cheia de curvas, branca e mediana com menos panos
que o dela.
Foi o que tentou dar. Tentou dar seu máximo.
-Desculpe perguntar, você está trabalhando?
-Estou, faço programa, é pra você?
-Não. Um senhor na calçada perguntou se eu fazia.
-É, eu sei, dá para ver que você não faz nada assim. Ele viajou!
-Então, pode ir até lá?
-Qual a idade dele?
-Parece uns 80.
-Obrigada, mas eu não vou! E soltou sonora gargalhada.
Ela, a branca mediana de 40, saiu para ver o senhorzinho negro lá fora,
bem longe, em outra calçada, pela última vez.
E se refez pensando na estranha caridade
que tentou fazer.
Se distraiu nos que não escolhem,
nos que podem escolher e nos que são escolhidos.
Em quem paga.
Em quem paga e nem sempre ganha o dia.
Que pobre, pobre mesmo é quem não pode viver,
Sem a tua,
sem a tua,
sem a tua companhia.
Maira Garcia
-Obrigada, mas eu não vou! E soltou sonora gargalhada.
Ela, a branca mediana de 40, saiu para ver o senhorzinho negro lá fora,
bem longe, em outra calçada, pela última vez.
E se refez pensando na estranha caridade
que tentou fazer.
Se distraiu nos que não escolhem,
nos que podem escolher e nos que são escolhidos.
Em quem paga.
Em quem paga e nem sempre ganha o dia.
Que pobre, pobre mesmo é quem não pode viver,
Sem a tua,
sem a tua,
sem a tua companhia.
Maira Garcia
sábado, 9 de junho de 2012
Deixou de ser lápis, virou grafite.
O grafite é um lápis com o dedo em riste,
é tinta de toda sorte,
é morte,
nascimento,
é porte,
pertencimento e chiste.
Por Maira Garcia
quarta-feira, 6 de junho de 2012
Chá de sumiço
Coloque um saquinho de desapareço
que na água desaparece.
Mais três minutos no me aqueço
Para beber o chá
de quem nem te conhece.
Por Maira Garcia
que na água desaparece.
Mais três minutos no me aqueço
Para beber o chá
de quem nem te conhece.
Por Maira Garcia
sexta-feira, 1 de junho de 2012
E a Terra gira.
Cansado de beber, Cuíca parou na praça, sentou no banco, tirou os sapatos, coçou os pés e mandou um beijo para a árvore da frente. Ao acenar para todos que passavam na calçada, fez uma senhora tocar carinhosamente seus braços e perguntar:
- Posso fazer algo pelo senhor?
- Pode sim! Sente-se aqui comigo. E ela sentou para ouvi-lo.
- Vê a Terra girando? Minha casa em algumas horas estará aqui na frente.
Faço questão que entre pra tomar um café bem gostoso comigo!
Maira Garcia
- Posso fazer algo pelo senhor?
- Pode sim! Sente-se aqui comigo. E ela sentou para ouvi-lo.
- Vê a Terra girando? Minha casa em algumas horas estará aqui na frente.
Faço questão que entre pra tomar um café bem gostoso comigo!
Maira Garcia
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