terça-feira, 28 de junho de 2011

Balenciaga

Entrou num bazar com desculpa boa.
Desses de gente que ajuda gente.
É que comprar barato, dá barato.

A bolsa segurou os olhos,
depois sim, ela segurou a bolsa.

-Quanto custa?
-O preço tá na peça.
-Só isso? É do baralho!
-Aqui é que não! Disse o voluntário.
A casa é de oração!
Se refez examinando os fitilhos de couro, e enroscou os dedos
tocando a seda craquelada do saco.
Segurou as alças, puxou pelo gancho com firmeza.
Dançou o zíper entre as franjas, e tocou a placa de puro metal entre os dois lados da peça.
E viu seu RG tatuado adentrar.

Pra fazer espanhol achar que aquela é a tal.

Pagou o valor de duas viagens,
e depois, em casa não acreditou.
Era uma legítima Balenciaga!                


Maira Garcia

Oxigênio


Trago uma joia, nos dois sentidos,
ao lhe trazer, e ao tragar,
mas não é de fumaça que eu respiro.
           É de amar.


                                        Maira Garcia

Bebel pequenininha

A menina ganhou um balão verde,
desses que gostam de voar.
Quem presenteou, ficou vermelho,
pois a menina não quis segurar.
De que adianta ter na mão,
algo que gosta de ir pro céu?
E assim soltou.
                              Maira Garcia

domingo, 26 de junho de 2011

Um café com borboleta, por favor?


Naquela semana, o sol de outono já carregava as cores do inverno.
Seguia achando graça no trânsito e no atraso contínuo do trem que seguia até a capital.
Não era um dia como os outros, sentia-se estranha, com aquelas sensações tão incomuns.
Sete da manhã, não acreditou no cachorrinho branco e preto que corria no mesmo sentido dos pedestres, que ia atrás do fusca branco, numa velocidade impensada. E o latido anunciava, “A correria de vocês aí é insana, o que estiver para acontecer, virá em sua direção”. Acelerava os passos na companhia de mensagens criadas ao acaso, coisa de filme, de livro de auto-ajuda, cheio de frases prontas, cartazes e letreiros em sua cabeça. Só faltava uma borboleta cruzar no seu caminho. E não é que apareceu mesmo? Era o azul da calça jeans que ela vestia. Assustada com aquela aparição, quase tropeça e solta um sorriso enorme, em plena segundona. Quem a olhava tão feliz não entendia nada.
Após almoçar no Centro da cidade, tomava seu café feito com capricho de barista pelo atendente.
O moço que sempre a observava no balcão estava lá, e se aproximou com uma conversa diferente das outras vezes.
-Boa tarde! Disse o rapaz.
-Qual seu nome mesmo? Perguntou com a inocência de costume ao moço que parecia, até então, ser comprometido.
-Meu nome combina com o seu! Soltando a cantada mais criativa que ouvira até então, pois seus nomes eram de fato um pouco parecidos.
Após a conversa, seguiram a tomar um dos melhores cafés de suas vidas.
Na despedida de beijo no rosto, perfumes se misturaram num bouquet de aromas arábicos.
Dali em diante, seus telefones tocaram e o namoro começou ainda naquela semana, pois a conversa no balcão, tinha se iniciado mais ou menos há uns seis meses e tinham pressa de tudo, como o cachorro que correu atrás do fusca.
Passaram a trocar torpedos apaixonados, e seguiam filosofando o cotidiano, até então monótono.
Escrevendo seus carinhos pelo celular numa manhã de maio, em direção ao trem, sem perceber o movimento, atravessou a rua no mesmo instante que surge o cão branco e preto, seguindo novamente o fusca. Numa manobra arriscada, o carro, para evitar o atropelamento, invadiu a calçada e raspou em cima do cachorro. Era como se o bicho num latido dolorido lhe dissesse: “menina vai com calma, mais devagar, é necessário ter cuidado e atenção com tudo nessa vida, pra quê tanta pressa?”. O bicho quase morreu, e para salvá-lo, chegou atrasada no trabalho.
Desde então, não enviou mais torpedos enquanto andava, e o namoro engrenou naturalmente.
Hoje está casada e o cãozinho anjo mora em sua casa, com rodinhas de apoio nas patinhas traseiras, devido ao acidente, e a tal borboleta azul tem aparecido de vez em quando na hora do café.
Viveram mais felizes tempos depois, quando a paixão virou amor de verdade, conferindo paciência, carinho e tolerância ao casal.
O trânsito continua o mesmo, os trens atrasam, a luz nem sempre é tão bonita pela cidade, para perceber que a graça do cotidiano é descortiná-lo.
Terminaram de tomar o café na primeira semana de janeiro.
Despediram-se, e ela ficou pensando em tudo que não viveram.
No balcão, ainda saboreava aquele restinho de café frio, que continua amargo, e se termina de teimosia. Distante, acorda ao ouvir a xícara que cai de seus dedos, estilhaçando.
-Desculpe! A moça disse ao atendente.
-Não foi nada, senhora. Vai te dar sorte, pois acaba de pousar uma borboleta azul no chão. Você viu?
-Eu gostaria de ver, mas eu só enxergo sombras.

Maira Garcia

quinta-feira, 23 de junho de 2011

A minha lenda com o Santos.

Não escolhi ser torcedora do Santos, aconteceu sem que eu soubesse ao nascer por insistência paterna. Torço pelo peixe de um tempo que não se gritava ou torcia, santistas eram saudosos e quietos.
De tanto "pescoçarmos" os jogos sonhando com o futuro, eis que a torcida é presenteada com o Ganso.
Somos um time à beira-mar, que durante muito tempo não ganhava nem abraço, renascemos com o papai nenem, Neymar.
Independente dos últimos resultados, ver o Santos tão bem com uma torcida pra lá de feliz, é uma vitória!       
                                                                                                                      Escrito por Maira Garcia

                                                                                

Não se afaste de ninguém ou ... “manual do melhor amigo chato”.

Acredite, meu amigo preferido é um chato.
Por que a preferência? Pela sinceridade, sua principal e rara característica em comparação aos amigos “legais demais” que nos bajulam e se comportam como uma “mãe coruja”. Aquela que descreveu seus filhotes a um gavião como se fossem os mais lindos do mundo.O gavião num dia de muita fome encontrou pela frente passarinhos desprotegidos no ninho. Pequeninos e despenados foram devorados de uma só vez. Eram os filhos da Dona Coruja... Dramático, mas reza a lenda que assim aconteceu na floresta porque alguém faltou com a verdade...
Excesso de elogio, apoiar nossas mancadas definitivamente não nos fará crescer como pessoa, mas há ainda quem prefira os amigos “legais demais” para as horas difíceis.Os legais demais que me perdoem, mas os chatos podem ser fundamentais em nossas vidas.
Como? Os chatos vão te preparar para enfrentar os “inimigos de percurso”, me refiro às pessoas que te colocam pra baixo, que apontam seus defeitos sem dó com o intuito de ferir seu orgulho. Conviver com o chato é uma espécie de treinamento para vida real, ele vai te ensinar a não se importar com os tais inimigos de percurso e seguir adiante de uma forma muito simples, sendo sincero com você, te ajudando a abrir o olho. E pode ficar tranqüilo que o fará com muito cuidado e propriedade. A você apenas uma recomendação importante. Tenha paciência de ouvir e receber suas ideias com o filtro da razão.Não são todos que merecem a honra de ter um amigo chato. É preciso boa dose de compaixão e maturidade para recebê-los. Ele vai se aproximar de você enquanto muitos vão se afastar dele. Não é popular, tem visão de mundo diferente da maioria das pessoas e vai defender seus pontos de vista até a exaustão.
Não disfarça direito quando uma pessoa que pisou na bola com você aparece no pedaço. Com a maior cara feia do mundo, colocará você numa saia justa e então se aprende na prática a não queimar o filme dos outros, uma vez que você costuma perdoar as mancadas dos demais numa rapidez muito maior que a tolerada pelo seu amigo chato. Extremamente observador, o chato implicará com seu novo visual desleixado e perguntará porque você parou com a dieta. Ligará na hora que você não quer falar com ninguém e sempre chegará em sua casa sem avisar.
O pior de tudo é que um dia você irá traí-lo desabafando com o amigo legal demais o quanto o outro é chato.
O chato que acredita na amizade de vocês acima de qualquer futilidade ou fofoca, não se importará com seu deslize quando souber de sua atitude porque conhece como ninguém seus defeitos. Dono de um coração enorme, esquecerá o comentário e aparecerá na sua frente com a camiseta com os dizeres “Não vou te abandonar” e correndo para o abraço lhe chamará carinhosamente de “Ronaldo”. Como prova de fidelidade continuará te apoiando com moderação mostrando os dois lados da moeda no momento que você cruzar novamente com algum inimigo de percurso ou obstáculo.
Será o único que ouvirá você repetir várias vezes os motivos que causaram o rompimento do seu namoro em silêncio absoluto. Enquanto isso, oferecerá o ombro, lenços de papel para secar suas lágrimas e inclusive um chocolate quente delicioso que ele recrimina que você tome por causa de sua dieta. Finalmente você que aprendeu a lidar com seu melhor amigo chato precisa se preparar para ouvir suas sábias e duras palavras. Eis que ele, seu melhor amigo resolve abrir a boca:
- Quer saber minha opinião? Eu devo ser muito chato ou vidente, pois sempre te avisei que seu romance terminaria assim. Desta vez eu gravei a nossa conversa. Aqui está a fita. Beijo, qualquer dúvida, me liga.

Maira Garcia para o Jornal a Voz de Ribeirão Pires, em agosto de 2009.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Verniz

Quem é bonito por dentro,
mais do que por fora,
é bonito faz tempo.

              Maira Garcia

                

terça-feira, 21 de junho de 2011

Raio bom

Quero que o Sol brilhe para você,
até no escuro.
E se te deixar de saco cheio
... de tanta luz,
...pegue aquele velho Ray Ban,
que é a sua cara,
e manda ver!  
                           Por Maira Garcia