quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Vai passar a menina com a flor-de-laranjeira.

Menina com a flor-de-laranjeira,
Que a abelha pousou,
o vento soprou,
o Sol esquentou.
Quando você acordar amanhã e florescer de uma vez,
não vai sentir dor,
Vai beber o suco da flor,
Vai lembrar até o sumo
que tudo é feito de amor.

Por Maira Garcia

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Rio

Rio,
se não rio
sinto frio
Se não vou ao Rio
O Rio vem até mim.
Rio de mim.
Rio.

Por Maira Garcia

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

A cantada sem legenda para a garota água viva.

Disse
que era a garota da quarta dimensão do Água Viva
de Clarice
e que jamais abandonasse sua loirice-lispector,
isso sim,
seria a maior burrice.

Que ouvisse ali
e apenas ali
tudo que queria
ou sonhasse ouvir

Não a levou dessa vez,
não porque não quis
Faltou no enredo ouvir
aquela música que aparece na legenda
com a mocinha e o mocinho se beijando,
ela levantando uma perninha,
ele cobrindo as costas com as duas mãos
mais fortes que a encomenda,
o beijo que se assemelha ao laço
do pega-vai-que-eu-traço.

Não foi com ele por um triz.
Ela avistou muito antes
a falta que sempre faz
um Final Feliz.

Por Maira Garcia

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Acordare

Fecho o olho para abrir
Abro a boca para respirar
Voltando ao centro da Terra.
Aonde sonhava que vivia

Por Maira Garcia

sábado, 10 de dezembro de 2011

Balanço

As folhas de outono
cismaram em colar no meu rosto,

O inverno me fez olhar a Lua
como nunca
havia
feito antes.

As flores do mato
do Atlântico Sul
que não aparecem apenas na primavera
pedem
que me deite.

Enquanto o inverno despede-se
fecho o livro
para não guardá-lo na estante.

As folhas que secaram meu rosto agora
seguem
adiante.

A ventania descobriu meu corpo
com as mesmas flores que
esperam pelo verão o ano todo

por puro
deleite.

Tudo se modifica depois do corte,
a corte,
o coito,
a ceifa
e a muda.

Depois da Lua de ontem.

Por Maira Garcia

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Anônimos em rede

Anônimo em rede,
adicto em febre
O cio
invisível que
persegue
semi-breves
são lebres sãs.
O coro dos monitorados da rede pergunta:
Se não posso saber quem és.
Não sou quem você quer.
Então,
porque me segues?

Por Maira Garcia

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Machado corta tudo, até mau olhado!

Machado de Assis - depois dele todo texto fica mais fácil. Seus livros ajudam a ler cartas, e-mails e pensamentos. Há relatos recentes que afirmam que ele realmente tem o poder de abrir caminhos. Salve São Machado de Assis!

 Maira Garcia

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Tempestade num copo d´água

Penso em chuva de granizo
quando é isso que eu preciso.
Aí um pouco de água com muito gelo no copo me basta.

Por Maira Garcia

sábado, 3 de dezembro de 2011

Contra a dicção

Quero a tua felicidade para aquilo que entendes como tal.
Se o que contam,
lhe apraz
Quem sou eu para pronunciar que
não é verdade?

Por Maira Garcia

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Com domínio

Tentou entrar na casa mas o sapo não deixou.
Ao avançar ele avançava.
Voltar
e ele voltava
Cada passo que se dava,
não entrava
Mas o gol do sapo foi a entrada.

E entrou!

Passou a porta e chegou na sala,
fingiu de estátua e ficou.
Comeu uma mosca que passava,
e aí ninguém mais o tirou.

Sapo que não é bobo,
escolheu uma casa
num lugar
aonde a porta não fechava.
No dia seguinte,
o sapo que nunca tinha ido numa casa,
avistou um enorme jardim e
estacionou numa piscina.
Fez cara de paisagem e nunca mais,
nunca
mais voltou pro lago.

Por Maira Garcia

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Duvide um pouco de quem chama alguém de louco

Ainda vão chamar muito de louco
o que
não sabe pouco...
Foi a melhor forma que a covardia
inventou para tirar de alguém
o senso de razão e credibilidade.
Conheci poucas pessoas loucas de fato,
Tinham rompido de vez com a realidade
e
não voltaram.
Diferente das que sabiam muito
sobre alguma
verdade e mesmo assim,
loucos lhe fizeram e
duvidaram...

Por Maira Garcia

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Samba do pipoco

Um samba-louco trançou pelas pernas,
correu nas tabelas
e dançou como poucos.
O som parou pelas tantas
quando as belas tremeram
e todos
correram
porque o som era outro.
Pipoco
Pipoco
O que não é um
O que não é pouco.

Por Maira Garcia

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Topada

Não gosto de sentir inveja
das pedras.
Elas que não pensam,
não reagem.
Não invejam
Adornam,
enfeitam e
impedem a passagem.

Estou treinando,
uma hora eu chego lá.
Falta-me agora não rir
quando vejo alguém em mim

tropeçar.

Por Maira Garcia

sábado, 19 de novembro de 2011

Código de consumido.

Muitos presentes são ensaios para longas
ausências de sentimentos vencidos.
Cujo prazo há muito expirado
não manda recibo.

Por Maira Garcia

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

domingo, 13 de novembro de 2011

Não aguento mais tanto porém.

O mundo anda tão adversativo.
Nunca se viu tanto escrito cheio de porém.

Na atual
con
jun
tura
em que vivemos,
a ansiedade comeu o contudo,
e engoliu um pouco do curtíssimo mas.
E o entretanto? Nem se fala mais!
Todavia,
se eu esqueci de lembrar de alguém
é por causa do mal falado porém.

        Maira Garcia

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Doutora dor

Quisera eu poder lembrar de tudo que pensei durante a dor.
Pra não esquecer, vou colocar a receita no papel,
tudo em um contrato autenticado em três vias,
a ser entregue o quanto antes.
Cláusula primeira:
Ser fiel ao meu coração.
Afinal é o dono desse corpo
que vai comigo até o fim.

Maira Garcia

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Gente coisa

Quando não canto

como vê, arranjo um canto por aí.

Pra ver outras pessoas

Fazerem, irem

com quem gosto.

E eu que gosto de tanta coisa!


E gente coisa

que eu gosto,

não posso ter.


Só me resta cantar um fado.

Ou um fado, de fato

Me encosta, sem acento,

a dormir.


E a pensar, e rir,

aonde você foi parar

Enquanto eu estou aqui

Com promessas de não ligar,

Por não poder te ouvir


Por Maira Garcia

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Passaporte

Esquecer o que precisa ser esquecido,
faz uma viagem
de verdade
ser
algo
inesquecível.

Por Maira Garcia

domingo, 23 de outubro de 2011

Um vento passou por mim e fiquei assim, assim.

Craquelada,
fiz um mosaico de mim mesma.
Passada,
amarrotei minhas ventas.
Aqui na revoada,
fez-se o riso.
Aonde se fez limonada.

Por Maira Garcia

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Vai idade

Antes criança,
mas quem chegar ao final:
Carranca.

É muito chão.

Para ver precisa de:
Oração.
Nada de:
Mágica.
Carranca para espantar o mal
Principia o bem
mandando a ilusão:
Embora.
Sentimento para:
Dentro.
maquiagem por:
Fora.

Por Maira Garcia

terça-feira, 18 de outubro de 2011

A memória da pele

Não sabia que cor combinava com a sua,
pois sempre lembrava
das outras cores que teve.

Por Maira Garcia

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Nem vi

Eu pensava numa poesia dias.
Eu bebia a água,
e ela me bebia
Eu cantava dias.
Eu ouvia
e ela
também me via.
Até que olhei no espelho
e vi muita graça.
Era a solidão e eu.
Estava ali me paquerando o tempo todo.

Maira Garcia

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Só lhe dão

Os livros que você enxerga
que só a gente lê
As músicas que a gente ouve
que só você escuta
Os lugares que você vai
pelos caminhos que só a gente faz
O aroma que você sente
Do prato que só a gente come
E assim começamos a acreditar
que só,
a gente também
sente,
acompanhado.

       Por Maira Garcia

sábado, 8 de outubro de 2011

Pixoxó

Na escola tive um amigo
que saudava todos falando-Pixoxó.
Mudava a voz numa entonação aguda e caricata
contrastando com seu tamanhão alto e forte.
E assim fazia todo mundo dar risada.

Ele queria ser engenheiro e teve que parar
para servir a bandeira.
No quartel leu um livro de um bruxo e sua vida que era exata
mudou de curso.
Foi estudar as matas e os bichos para seguir
aquilo que passou a ser
sua
lenda pessoal.

Não soube mais dele, dizem que virou Curupira.

Por Maira Garcia

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Não confie em tênis com menos de 10 meses

Um pé cheio de estrelas
se encheu de água
O calçado mal educado
colocou a língua de fora.
Nem completou um ano
e o solado descolado,
com aquilo de mais moderno
perdeu a graça...
Caro, muito caro.
Não quer papo ou qualquer coisa que converse
ou convença.
Foi mau,
Fez a dona tropeçar porque não foi
bem colado
Quis mostrar aonde as estrelas do tênis
podem te levar
quando menos se espera:
-No chão!

Por Maira Garcia

domingo, 2 de outubro de 2011

É para devolver.

Pegue as verdades que eu te disse
e me devolva agora!
Não perca tempo.
Não vê
Que estas bobagens
são minhas?
Peço que devolva minhas verdades, sem demora.
É assim que economizamos mentiras.

Maira Garcia

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Pão de queijo no vagão

Um trem vai até o destino certo.
Enquanto um trem de coisas precisa
esperar
que a boca
a mão
e o ouvido
descubram o que
o mineirinho
pretende fazer com todo o resto.

Por Maira Garcia

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

ZZZZZZZZZZZde zangão!

Se esfregou na violeta,
beijou a rosa,
pulou na orquídea,
se embebedou no jasmim,
traçou a hortência.
O zangão corre,
pica,
pula,
vira cambota,
gesticula.
80 dias de loucura,
aí ele cai novamente,
morrendo sempre
por uma crisálida.

Maira Garcia

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Eu perdi um molho de chaves

Eu perdi um molho de chaves,
e me lambuzei com a ideia de não ter
para onde ir.
Senti que meu lugar será aonde estiver,
com a fome de quem mora na rua.
Encontrei meu molho de chaves.
Passou a fome,
agora estou com sede.

Maira Garcia

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Fim de caso

De todos os presentes,
hoje sinto falta apenas de um.
Me arrependo sim,
De não ter ficado
com aquele livreto
carcomido do Cacaso.

Por Maira Garcia

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

domingo, 18 de setembro de 2011

Sal dos dias

Não tem idade, essa falta ou muito calor
que quando vem, nos toma com sede.

Sal dos dias, que termina, quando se transborda
água de saudade.

Maira Garcia

A estória com "e", de um final nada feliz....

A rapariga estava refeita
da desfeita
de ter sido trocada por outra.
Já havia malhado o Judas
com os pertences ganhos pelo ente
bem antes,
mui amado,
e o que valia a pena,
deixou no mercado.
Após 600 e poucos dias calculados,
O pobre ainda queria fazê-la sorrir
com um simples recado.
-Não me faças rir, ela retrucou.
-Ainda choras por mim? Se prontificou o cara pau.
-Claro que não! Com o sorriso na voz,
do esvair da paixão,ela responde:
-Apenas superei o luto e o defunto,
veja que insulto!
Ainda insiste em...
Me visitar!

Maira Garcia

sábado, 17 de setembro de 2011

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Baticum

Dormi embaixo de uma sapucaí
e acordei com o grito
de um pixoxó.
Avis rara
na sombra
da vida
que rala.
Tum-tum,
Tum-tum,
Tum-tum.

Por Maira Garcia

Brás, mexida, fiquei muda.

Você viu o Brás pela manhã?
De cima pra baixo, no horizonte?
São Paulo cinza,
verde, rosa,
laranja.
Fitilhos, milhos, milhares.
Slides,
tios, filhos, frutas e franjas.
Caixas, sacos, tecidos.
Com vendas e olhares em braille?
Pastel?
Céu carregado
pelas mãos que carregam tudo.
Do mel ao féu.
Gritos ao longe,
gemidos de perto.
Mudos.
Você já sentiu o Brás pela manhã?
Quando brisa a maçã fresca
maçã passada,
maçã do amor?

                                                          Por Maira Garcia

sábado, 10 de setembro de 2011

Na linha

Deu tantas voltas para voltar ao Centro
e voltou com muita sede pra Liberdade.
Queria a chuva,
o frio, o calor, e a geada do Trópico de Capricórnio
aos
seus
pés.

E a fé, a falta de,
o canto,
o luxo,
o lixo,
o bem
e o mal,
o poluído e o puído,
o inocente e o fingido
a fuligem e a nuvem
o permitido e o proíbido

No meio da multi-dão,
não em um sonho cheio de peso.
Caminhava com desassossego,
pela Sé.

Por Maira Garcia

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Volta pra lá.

Falta pouco pra eu cantar
o Hino Nacional
aonde ele nasceu.

Não ouviram, não?

O povo heroíco vai passando por mim,
bravo, retumbante.

Lá ninguém mais anda de tanga,
faz tempo que mandaram todo mundo embora,
que pena.
Um dia eles voltam.

É, tô falando do Ipiranga.

por Maira Garcia

sábado, 27 de agosto de 2011

Streap Tease no quintal

Eu gosto de lavar roupa na mão,
encher o tanque com bastante roupa,
água e sabão.

E coloco de molho, separadas em baldes
as que tem as mesmas cores.

Jogo um pouco de sal e vinagre.
Para não desbotar.
Aí rapidamente ponho pra enxaguar.

E deixar a água escorrendo na terra
quando as peças são estiradas
no varal.

Depois esperar que sequem com
ou sem Sol.

Faço do meu jeito
para que durem mais.

Mas eu gosto mesmo é de ver
como é que ficam fora de mim,
em outro plano, molhadas,
com o mundo todo ao fundo.

Dias cinzas ou azuis,
fazem mais cedo ou mais tarde
todas as cores voltarem
secas pra mim.


Maira Garcia

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Deu jaz

Quem vai se tocar?

Se não alcança
o tom mais fácil
nem pensar em assobiar...

Na calçada,
no prédio,
na casa,
todos os sons estão,

Lá.

O dia que conseguir atravessar a sua rua,
voltarei a ter
outros dons.
E mais na frente, quem sabe?
Outro
Tom.

Com a harmonia refeita,
cheia de contratempos,
Que são feitos
para não te encontrar mais.

-em nenhuma canção-

O dia em que o jazz
vira jaz,
ver você,
tanto faz.
Que bom!


Por Maira Garcia

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Puro grão.

Um pingado, expresso ou coado.
Daqueles que se pede num balcão.

Vários preparos
acompanham um laudo radiografado
que podem ser lidos
num copo americano,
numa xícara de porcelana,
num copinho de plástico bem fininho...

Usando uma lente cheia de teimosia,
cada um vê
o que se quer.

A resposta não espera.

Não ficou na fila ou
no caixa.
Sem provar nada,
jogaram na pia.
E ainda pode ser chamado
hoje em dia

de café.

Por Maira Garcia

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Ao pé da letra

Eu me distraio com as palavras
As deixo aonde menos espero
e depois vou buscá-las.
O pior acontece
quando não dou a atenção que merecem.
De pirraça,
elas se espalham pelo caminho
e me fazem tropeçar.

                                                     Por Maira Garcia

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Culpa da rosa rosa

Eu levei uma pequena rosa rosa
pra passear no pescoço,
A natureza de alguns me fez ouvir muito desaforo.

Por Maira Garcia

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Posse

Vastidão de coisas suas
Que parecem
minhas.
Vastidão de coisas minhas,
Que parecem
suas.
Que eram,
e
se
foram,
em algumas Luas.

Maira Garcia

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Chiqueirinho livre

Me deixa errar um pouco,
antes de me colocar na estante?
Me deixa um pouco mais?
É que eu preciso aprender.
Ainda por cima, lá no alto,
eu posso quebrar,
e aí
quem vai querer
brincar comigo?

Por Maira Garcia

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Pães

Aos que tem mãe, aos que agora só tem o pai.
Aos que tem pai, aos que agora só tem a mãe.
Aos que estão sem os dois.
Aos que não tiveram nenhum.
Pois.
Todos vieram de suas mães.
É tão óbvio isso, então lá vai.
Ao alimento que nos nutriu a cada manhã.
Somos pais e mães, somos pães.

domingo, 31 de julho de 2011

Eu era a hera que cobria tudo

Eu era a hera que cobria tudo.
A parede lascada.
A árvore abandonada.
A barba do mendigo.
A larva que passava.

Eu era a hera que cobria tudo.
Os olhos que não eram azuis.
O céu que era cinza.
A cruz triste e ensaguentada de Jesus.

Eu era a hera que cobria tudo.
A barriga do Chico Barrigudo.
O gladiador sem escudo.
O cego em noite de tiroteio,
e o amor mais invejado,
daqueles que esquecem a que veio.

Eu era a hera que cobria tudo,
pra esconder o sorriso desfeito,
e encher de graça o peito,
de quem ainda pensa
que sabe tudo.


Maira Garcia

Marca d`água

Ah! Eu não estive.
Se eu não apareci, eu não estive.
E é assim que para muitos se vive.

Por Maira Garcia

Autópsia

Me pregaram uma peça,
quando
eu fui ver uma peça.
E que ninguém me peça
para explicar.
Como foi que
tiraram meu coração,
sem cortes,
e ofereceram
para eu mesma
examinar?

Maira Garcia

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Inflação

Era um menino com boné NY Yankees feito na China,
andando num trem que partia do ABC paulista.
A janela que estava aberta
deixou que levassem seu boné embora.
A passagem custava o preço de um pãozinho de sal

Era um carro seguindo um trem que saía do ABC
pelo Rodoanel
A janela que não estava aberta
desta vez deixou que levassem
sua vida embora.
A passagem hoje custa em média seis pães de sal.

Maira Garcia

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Eu sonho

Se pedir pra compor, componho.
Se pedir pra cantar, eu canto.
E se pedir pra contar, eu sonho.

Maira Garcia

terça-feira, 26 de julho de 2011

O kilo.

O que eu poderia
ter feito ontem,
ao ponto de ter
tentado
me
entreter,
é uma pergunta
boa
que me entristece
só de pesar.

Por Maira Garcia

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Na torcida

Amor sem fins lucrativos,
não fere e
provoca calor em lugares cativos.

Por Maira Garcia

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Porta-re-trato

Ah! A foto!
A folha se dobra, rasga,
de tanto querer amassar,
Molha, depois de cair o chorar
E queima, pela vontade
de apagar

E mancha enquanto os dias
assim quiserem colorir
quem tiver vontade de deixar
parada na estante.

E a imagem, como a pós-modernidade
muito bem determina,
É mais fácil, prática, econômica
e não alucina.

A gente, simples-mente arrasta,
deleta e deita em cima.

E se quiser trazer de volta, em arrependimento,
se ainda der tempo, que lindo!
Vai buscar no lixo.

Maira Garcia

terça-feira, 19 de julho de 2011

Depois da Lua de ontem

Depois da lua de ontem
Olhando a Lua lá fora, senhoras e senhores,
Eu sou senhora!
Esquecendo e aprendendo novos valores
Penhores e penhoras
Sim, senhor
Eu sou senhora!
Lembrando de antigos amores
Tingindo panos, criando novas cores
Sem terror
Eu sou,
senhora!
Observando a Lua ontem,
a manchar de cor,
do amarelo emprestado do resto de Sol
ao branco acinzentado cheio de Dó
Subindo
acima de mim e dos prédios
e a cada piscadela,
igual remédio feito pela vó,
eu ia ficando melhor
Foi aí, mesmo sendo senhora
que percebi
Eu nunca vi, a Lua assim
Mas não importa!
Tinha que ser
Agora.

Maira Garcia

 Foi feita depois da lua de ontem, para batizar o blog. São Paulo, dia 17 de junho de 2011.

sábado, 16 de julho de 2011

Não existe gente feia

Não existe gente feia,
existe gente mal iluminada.

Não existe gente feia,
entre feições que se afeiçoam,
sobreposições que não destoam,
e perfumes que não enjoam.

Não existe gente feia,
quando o assunto é
sentimento puro.

Tenho apenas uma certeza.
Que a unanimidade
na formosura
é pesadelo, 
pra quem esqueceu 
que o charme do mundo
ainda se carrega 
cá dentro. 

 Maira Garcia

terça-feira, 12 de julho de 2011

Bicho

Bicho-cigarra
Bicho-formiga
Bicho-bobo
Bicho-policia
Bicho-grilo
Bicho-preconceito
Bicho-conceito
Bicho-pseudo-louco
Bicho-pentelho
Bicho,
Bicho,
Bicho,
Bicho-que-não-se-olha-no-espelho
Bicho-irmão
Bicho-hífen
Bichos-da-música-dos-Titãs,
Bichos,
Bichos de verdade,
perdoai
os que não sabem o que dizem e
o que fazem.

Por Maira Garcia

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Novos ares para Bridget Jones.

Bridget Jones perdeu peso, não bebe mais e quem diria, encontrou o cara certo após matéria que fez sobre as condições atmosféricas do Parque Ibirapuera em São Paulo. Mais atenta aos sinais da vida depois que começou a Meditação Transcedental com seu amigo David Lynch, viu um professor de Tai Chi Chuan usando uma máscara igual a que ela utilizou durante a reportagem.
O chinês “boniton”mascarado, assim que a reconheceu, ganhou o coração da repórter após chamá-la para fazer meditação na Liberdade, na maior liberdade. Agora ela só quer saber de Meditação Zazen e em breve trará ao mundo um chinesinho, made in Brazil.

Maira Garcia, diretamente do Ouviram do Ipiranga as Margens Plácidas aonde existe um parque com o mesmo problema do Ibirapuera, informa: não temos fotos boas para mostrar dos pombinhos porque eles não tiram a máscara nem ferrando...

terça-feira, 5 de julho de 2011

Paira

Transparente sou
com efeito,
Água
Meus olhos não mentem.
São dormidos
Rasgados, latinos.
e por ser de brasilis são sobresalentes.
Meu coração dança com a África,
minha memória é celta.
Minha voz quer ouvir os índios daqui
Enquanto meu prato
ainda precisa da páprica
para
ser
feliz.
A vida soa por repentes,
e noutro instante
me descortino.
Sou Americana do Sul.
E você, que me dizes?

 Maira Garcia.

sábado, 2 de julho de 2011

Pirata

Brincos de argola formam um anel.
São pulseiras, ou algemas rumo ao céu?
Desse lugar que não vou,
                          do olhar que não dou,
                                   da pessoa que não sou
                       e do seu rock and roll.

                                Por Maira Garcia

Ouriço

Ouriço,
Delicado e protegido por si mesmo.
Todo meu apreço.

                                 Por Maira Garcia

Um metro

Um metro pra mim é muito,
e eu te peço tão pouco!
Já aguentei desaforos,
aforismos
Dores, ausências
regras, reticências
Não vejo o mesmo brilho nos teus olhos
Um metro pra mim é muito
porque nunca lhe fui mínima
                                       
                                      Por Maira Garcia
                            

Segundo turno

Quem disse que eleição não tem poesia?
Empate de grosserias
Contrastes em demasia
Gêmeos separados ao nascer
A dizer em meias patacas
Que o país é o mesmo querer
De vender sonhos pendurados em estacas
Pra quem sobreviver
Dirá que o mote serviu o féu
E que a palavra ainda é troféu
A servir a boa
 e velha necessária,
 democracia.
         
Maira Garcia

31/10/2010

Descobriu

Que amores vãos,
escorrem pelas mãos.
 E que bom!
Se vão!


             Por    Maira Garcia

Couro

Desistiu de se despir
a um amor fale-cido
Simulou sim,
O ato de
sorrir
Não soube o que fazer
ao repetir ali
O que não fazia mais
sem ser sentido

             Por    Maira Garcia

terça-feira, 28 de junho de 2011

Balenciaga

Entrou num bazar com desculpa boa.
Desses de gente que ajuda gente.
É que comprar barato, dá barato.

A bolsa segurou os olhos,
depois sim, ela segurou a bolsa.

-Quanto custa?
-O preço tá na peça.
-Só isso? É do baralho!
-Aqui é que não! Disse o voluntário.
A casa é de oração!
Se refez examinando os fitilhos de couro, e enroscou os dedos
tocando a seda craquelada do saco.
Segurou as alças, puxou pelo gancho com firmeza.
Dançou o zíper entre as franjas, e tocou a placa de puro metal entre os dois lados da peça.
E viu seu RG tatuado adentrar.

Pra fazer espanhol achar que aquela é a tal.

Pagou o valor de duas viagens,
e depois, em casa não acreditou.
Era uma legítima Balenciaga!                


Maira Garcia

Oxigênio


Trago uma joia, nos dois sentidos,
ao lhe trazer, e ao tragar,
mas não é de fumaça que eu respiro.
           É de amar.


                                        Maira Garcia

Bebel pequenininha

A menina ganhou um balão verde,
desses que gostam de voar.
Quem presenteou, ficou vermelho,
pois a menina não quis segurar.
De que adianta ter na mão,
algo que gosta de ir pro céu?
E assim soltou.
                              Maira Garcia

domingo, 26 de junho de 2011

Um café com borboleta, por favor?


Naquela semana, o sol de outono já carregava as cores do inverno.
Seguia achando graça no trânsito e no atraso contínuo do trem que seguia até a capital.
Não era um dia como os outros, sentia-se estranha, com aquelas sensações tão incomuns.
Sete da manhã, não acreditou no cachorrinho branco e preto que corria no mesmo sentido dos pedestres, que ia atrás do fusca branco, numa velocidade impensada. E o latido anunciava, “A correria de vocês aí é insana, o que estiver para acontecer, virá em sua direção”. Acelerava os passos na companhia de mensagens criadas ao acaso, coisa de filme, de livro de auto-ajuda, cheio de frases prontas, cartazes e letreiros em sua cabeça. Só faltava uma borboleta cruzar no seu caminho. E não é que apareceu mesmo? Era o azul da calça jeans que ela vestia. Assustada com aquela aparição, quase tropeça e solta um sorriso enorme, em plena segundona. Quem a olhava tão feliz não entendia nada.
Após almoçar no Centro da cidade, tomava seu café feito com capricho de barista pelo atendente.
O moço que sempre a observava no balcão estava lá, e se aproximou com uma conversa diferente das outras vezes.
-Boa tarde! Disse o rapaz.
-Qual seu nome mesmo? Perguntou com a inocência de costume ao moço que parecia, até então, ser comprometido.
-Meu nome combina com o seu! Soltando a cantada mais criativa que ouvira até então, pois seus nomes eram de fato um pouco parecidos.
Após a conversa, seguiram a tomar um dos melhores cafés de suas vidas.
Na despedida de beijo no rosto, perfumes se misturaram num bouquet de aromas arábicos.
Dali em diante, seus telefones tocaram e o namoro começou ainda naquela semana, pois a conversa no balcão, tinha se iniciado mais ou menos há uns seis meses e tinham pressa de tudo, como o cachorro que correu atrás do fusca.
Passaram a trocar torpedos apaixonados, e seguiam filosofando o cotidiano, até então monótono.
Escrevendo seus carinhos pelo celular numa manhã de maio, em direção ao trem, sem perceber o movimento, atravessou a rua no mesmo instante que surge o cão branco e preto, seguindo novamente o fusca. Numa manobra arriscada, o carro, para evitar o atropelamento, invadiu a calçada e raspou em cima do cachorro. Era como se o bicho num latido dolorido lhe dissesse: “menina vai com calma, mais devagar, é necessário ter cuidado e atenção com tudo nessa vida, pra quê tanta pressa?”. O bicho quase morreu, e para salvá-lo, chegou atrasada no trabalho.
Desde então, não enviou mais torpedos enquanto andava, e o namoro engrenou naturalmente.
Hoje está casada e o cãozinho anjo mora em sua casa, com rodinhas de apoio nas patinhas traseiras, devido ao acidente, e a tal borboleta azul tem aparecido de vez em quando na hora do café.
Viveram mais felizes tempos depois, quando a paixão virou amor de verdade, conferindo paciência, carinho e tolerância ao casal.
O trânsito continua o mesmo, os trens atrasam, a luz nem sempre é tão bonita pela cidade, para perceber que a graça do cotidiano é descortiná-lo.
Terminaram de tomar o café na primeira semana de janeiro.
Despediram-se, e ela ficou pensando em tudo que não viveram.
No balcão, ainda saboreava aquele restinho de café frio, que continua amargo, e se termina de teimosia. Distante, acorda ao ouvir a xícara que cai de seus dedos, estilhaçando.
-Desculpe! A moça disse ao atendente.
-Não foi nada, senhora. Vai te dar sorte, pois acaba de pousar uma borboleta azul no chão. Você viu?
-Eu gostaria de ver, mas eu só enxergo sombras.

Maira Garcia

quinta-feira, 23 de junho de 2011

A minha lenda com o Santos.

Não escolhi ser torcedora do Santos, aconteceu sem que eu soubesse ao nascer por insistência paterna. Torço pelo peixe de um tempo que não se gritava ou torcia, santistas eram saudosos e quietos.
De tanto "pescoçarmos" os jogos sonhando com o futuro, eis que a torcida é presenteada com o Ganso.
Somos um time à beira-mar, que durante muito tempo não ganhava nem abraço, renascemos com o papai nenem, Neymar.
Independente dos últimos resultados, ver o Santos tão bem com uma torcida pra lá de feliz, é uma vitória!       
                                                                                                                      Escrito por Maira Garcia

                                                                                

Não se afaste de ninguém ou ... “manual do melhor amigo chato”.

Acredite, meu amigo preferido é um chato.
Por que a preferência? Pela sinceridade, sua principal e rara característica em comparação aos amigos “legais demais” que nos bajulam e se comportam como uma “mãe coruja”. Aquela que descreveu seus filhotes a um gavião como se fossem os mais lindos do mundo.O gavião num dia de muita fome encontrou pela frente passarinhos desprotegidos no ninho. Pequeninos e despenados foram devorados de uma só vez. Eram os filhos da Dona Coruja... Dramático, mas reza a lenda que assim aconteceu na floresta porque alguém faltou com a verdade...
Excesso de elogio, apoiar nossas mancadas definitivamente não nos fará crescer como pessoa, mas há ainda quem prefira os amigos “legais demais” para as horas difíceis.Os legais demais que me perdoem, mas os chatos podem ser fundamentais em nossas vidas.
Como? Os chatos vão te preparar para enfrentar os “inimigos de percurso”, me refiro às pessoas que te colocam pra baixo, que apontam seus defeitos sem dó com o intuito de ferir seu orgulho. Conviver com o chato é uma espécie de treinamento para vida real, ele vai te ensinar a não se importar com os tais inimigos de percurso e seguir adiante de uma forma muito simples, sendo sincero com você, te ajudando a abrir o olho. E pode ficar tranqüilo que o fará com muito cuidado e propriedade. A você apenas uma recomendação importante. Tenha paciência de ouvir e receber suas ideias com o filtro da razão.Não são todos que merecem a honra de ter um amigo chato. É preciso boa dose de compaixão e maturidade para recebê-los. Ele vai se aproximar de você enquanto muitos vão se afastar dele. Não é popular, tem visão de mundo diferente da maioria das pessoas e vai defender seus pontos de vista até a exaustão.
Não disfarça direito quando uma pessoa que pisou na bola com você aparece no pedaço. Com a maior cara feia do mundo, colocará você numa saia justa e então se aprende na prática a não queimar o filme dos outros, uma vez que você costuma perdoar as mancadas dos demais numa rapidez muito maior que a tolerada pelo seu amigo chato. Extremamente observador, o chato implicará com seu novo visual desleixado e perguntará porque você parou com a dieta. Ligará na hora que você não quer falar com ninguém e sempre chegará em sua casa sem avisar.
O pior de tudo é que um dia você irá traí-lo desabafando com o amigo legal demais o quanto o outro é chato.
O chato que acredita na amizade de vocês acima de qualquer futilidade ou fofoca, não se importará com seu deslize quando souber de sua atitude porque conhece como ninguém seus defeitos. Dono de um coração enorme, esquecerá o comentário e aparecerá na sua frente com a camiseta com os dizeres “Não vou te abandonar” e correndo para o abraço lhe chamará carinhosamente de “Ronaldo”. Como prova de fidelidade continuará te apoiando com moderação mostrando os dois lados da moeda no momento que você cruzar novamente com algum inimigo de percurso ou obstáculo.
Será o único que ouvirá você repetir várias vezes os motivos que causaram o rompimento do seu namoro em silêncio absoluto. Enquanto isso, oferecerá o ombro, lenços de papel para secar suas lágrimas e inclusive um chocolate quente delicioso que ele recrimina que você tome por causa de sua dieta. Finalmente você que aprendeu a lidar com seu melhor amigo chato precisa se preparar para ouvir suas sábias e duras palavras. Eis que ele, seu melhor amigo resolve abrir a boca:
- Quer saber minha opinião? Eu devo ser muito chato ou vidente, pois sempre te avisei que seu romance terminaria assim. Desta vez eu gravei a nossa conversa. Aqui está a fita. Beijo, qualquer dúvida, me liga.

Maira Garcia para o Jornal a Voz de Ribeirão Pires, em agosto de 2009.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Verniz

Quem é bonito por dentro,
mais do que por fora,
é bonito faz tempo.

              Maira Garcia

                

terça-feira, 21 de junho de 2011

Raio bom

Quero que o Sol brilhe para você,
até no escuro.
E se te deixar de saco cheio
... de tanta luz,
...pegue aquele velho Ray Ban,
que é a sua cara,
e manda ver!  
                           Por Maira Garcia